|
Por Cadorno Teles 21/11/2007 "Meu nome é Kalum au Kurea ru Kinaar, e sou Velho. Velho. Faz 38 primaveras que me penduro nos galhos, faz 38 primaveras que a terra sustenta minha sombra, faz 38 primaveras que, de asas abertas, enfrento e derroto vendavais e caminho para o norte em 38 migrações tão cansativas e duras que acabaram com meus ombros. (...) Como é de nosso costume, e com a benção da Criadora, eu vou contar a vocês o que se passou, palavra por palavra". (página 9-10) Narrado por Kalum, um velho corvo de 38 primaveras, conta um caso ocorrido no auge de uma migração primaveril, onde centenas de corvos se reúnem anualmente para o Encontro dos clãs. O Clã de Kalum, os Kinaars, é ameaçado de perder a unidade familiar, após um incidente em que Kyp, um corvo jovem e impulsivo organiza sem consultar os mais velhos um ataque contra um gato que matara uma jovem cria. O bando acaba punindo o incauto, segundo as leis e costumes que Kyp desrespeitou. Contudo, o mesmo imprudente e curioso Kyp, depois de passar o período punitivo, consegue salvar o seu bando de uma inesperada tempestade de neve, levando-os a uma caverna, um abrigo seguro até uma escaramuça de um grupo de gatos com sede de vingança. A Revolta apresenta o universo dos corvos: os seus costumes, crenças sobre os seres humanos, suas rotinas, os hábitos migratórios, o amadurecimento e até mesmo os mitos desses pássaros marginalizados em muitos livros como aves agourentas, como num dos mais famosos poemas da literatura internacional, O Corvo de Edgar Alan Poe, ou em muitas obras de Shakespearre. O autor cria uma narrativa com personagens bem caracterizados, ressaltando Kyp, Kym e Kuper, que com ousadia, curiosidade e inteligência antagonizam o grande conflito com os gatos. E a ação que o canadense dá aos ataques e atentados dos gatos é um dos pontos do enredo de mais clímax ao longo do texto. Em meio ao flashback, contado pelo velho corvo, a história soa como uma daquelas histórias de família passada de geração em geração, suas memórias parecem compor a ação naquele exato momento que ocorreu, Martini possui o dom de um bom contador de histórias e insere em seu narrador essa técnica. A luta pela sobrevivência e pelo espaço junto com os seres humanos dá ao livro um toque ecológico. Questões essenciais da vida familiar e social são expostas para os leitores e o autor canadense explora, sem pieguice ou moralismo fácil, em A Revolta o respeito ao novo e ao antigo.
|
Quem Somos |
Publicidade |
Fale Conosco
|