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Resenha: As Correntes da Inquisição
Por Cadorno Teles
12/07/2007

Fazer da Inquisição tema de livros é algo já usual em diversas obras, mas colocar um Inquisidor Geral do Santo Ofício do porte de Nicolau Eymerich como protagonista de uma série de livros é algo bem diferente. O escritor italiano Valerio Evangelisti, um dos mais populares escritores de ficção científica da Itália, conseguiu fazer essa façanha, transformou o dominicano Eymerich – feitor do célebre Directorium Inquisitorum, o manual do Inquisidor – em meio a uma narrativa onde a história e a ficção se limitam. No livro As Correntes da Inquisição (Conrad, 312 págs., R$ 42,00), neonazistas, cátaros, experimentos genéticos, e o conhecido inquisidor são os ingredientes desse segundo volume da série. O primeiro foi O Inquisidor (Conrad, 2006), onde o padre destruiu um culto pagão.

Nessa segunda aventura, o padre irá para uma região da Itália, onde se diz ter se escondido cátaros, contudo o surgimento de seres humanos de aspecto animalesco dão à missão um contorno mais sério, onde não só está em jogo A Igreja em si, mas a sobrevivência da raça humana. O autor utiliza ainda mais alguns momentos temporais, ao longo do livro. Na Alemanha nazista, na Romênia dos finais do governo Ceausescu, e nos dias atuais, o autor dá uma visão meio lovecraftiana para cada um dos capítulos, onde o terror e o horror moldam a narrativa. Em dois tempos, o padre é o adversário de um jogo, cujos implicados se confundem na busca pelo poder e pela imortalidade.

Os personagens são bens construídos e a ambientação de cada lugar e dos fatos estão sublimes. O personagem Eymerich é semelhante ao personagem histórico, com algumas marcas de Evangelisti. Eymerich foi um defensor da fé cristã, um homem sem piedade que gravou a sangue e ferro o seu nome na História. Já o personagem de Evangelisti é colocado como um ser sombrio, porém decidido, impiedoso e, de algum modo, justo. "Escolhi a Eymerich como personagem porque me interessava tê-lo como símbolo da intolerância na Europa", explicou o autor a Jacinto Antón, resenhista espanhol. Com uma ótima tradução de Romana Ghirotti Prado, As Correntes da Inquisição chega ao Brasil já marcando um passo nessa onda de new weird, uma literatura que amalgama diferentes gêneros. No caso desta série, um coquetel de ciência, história e fé.

Evangelisti faz um paralelismo entre a Inquisição e os experimentos nazistas de eugenia. Uma das características do autor é abordar, ao mesmo tempo, o período medieval em sua cultura e entrelaça uma teoria cientifica do nosso tempo. A história em si está ligada por meio de outras histórias, situadas nos dias atuais ou recentes. O suspense em cada um dos capítulos justifica o incrível fascínio que a obra gerou na Europa. Por lá, a série é um grande sucesso, chegando até ter Histórias em Quadrinhos, novelas no rádio, um musical e até mesmo um vinho. Um livro que intriga como um dos melhores contos de Poe ou Lovecraft e caminha a la Dan Brown. 

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