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Resenha: Encantarias – A Lenda da Noite
Por Matheus Moura
10/04/2007

Muito já foi discutido a respeito do que seria a autentica História em Quadrinhos brasileira. No livro O que é História em Quadrinhos Brasileira, organizado por Edgard Guimarães e publicado pela Marca de Fantasia, essa discussão é levada pelos mais variados caminhos – e por diversos autores – e nos aponta uma solução: o Quadrinho nacional, diferente do mangá, fumetti, comics, etc; tem sua identidade formada justamente por abarcar os diferentes estilos criados mundo a fora e fundi-los em um único caldeirão criativo. Assim como a raça do brasileiro; uma mistura sem fim. Neste mesmo livro alguns até taxam de ufanismo aqueles que se preocupam em usar somente elementos ditos nacionais em suas histórias.

Sem ufanismo, Encantarias – A Lenda da Noite (formato 18 x 27 cm, 56 páginas ao preço de R$ 12,50) lançada no final de 2005, usa muito bem a mitologia nativa de nossos povos indígenas. A revista é feita pela equipe do Estúdio Casa Vermelha de Belém-PA, a saber: Otoniel Oliveira, desenhista, pintor e roteirista; Volney Nazareno, roteirista; Julião Cristo, argumentos; Fernando Carvalho, arte-finalista e pintor; além de outros que juntos formam o time criativo e produtor da revista.

A trama consiste em três jovens guerreiros de diferentes tribos que a pedido (ou seria a mando?) de Tupã (o Deus dos trovões) devem sair em busca do Alguidar Karupyry (espécie de jarro) para poderem assim proporcionar um tempo de descanso às pessoas, pois até então o dia reinava soberano e não existia noite. Acatando as ordens de Tupã, os três garotos passam por diversas provações e encontros nada convencionais com seres da floresta, como o Kurupira, Iara, Boiuna e Caninana, Jaguaressá e outros. Todos seres da mitologia brasileira que interagem entre si para o desenrolar desta aventura que conta a lenda sobre a origem da noite.

 

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Fora a trama e a boa utilização dos elementos mitológicos brasileiros, o que mais chama a atenção são a arte e os enquadramentos. Os desenhos são todos pintados à mão, com cores vivas que demonstram bem o clima florestal da narrativa. Os enquadramentos, muito bem feitos e inusitados, fazem fluir a leitura e sempre surpreendem pela disposição em que se encontram. Algumas vezes me lembraram a técnica usada por Will Eisner em suas obras, quando ele não criava os quadros, mas sim desenhos distribuídos pelas páginas, dando a noção de separação de uma imagem à outra por lapsos de tempo.

Ainda há um texto de introdução no qual Otoniel comenta sobre a criação e apresenta a obra, além de falar a respeito do álbum predecessor a Encantarias, Belém Imaginária (já esgotado). Como é de praxe sempre há alguma coisa que não agrada e (pelo menos para mim) o que não soou bem foi o linguajar usado no decorrer da história. Os personagens falam em um português muito polido, por vezes arcaico. Se somente as divindades ou seres elementais falassem com essas expressões seria até compreensível. Mas pessoas comuns que provavelmente nem estariam falando português não tem necessidade. Faz até com que uma criança que venha a ler a revista se desinteresse, pois fica pesada a leitura.

Não dá para não mencionar: a revista é patrocinada pelo Governo Federal, filão esse que deve ser melhor explorado por nossos artistas afim de viabilizarem seus projetos. Para adquirir Encantarias- A Lenda da Noite acesse o site da obra ou escreva para o Otoniel no e-mail otoniel@oton.pro.br. Merece ser conhecido.

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