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Artigo: Criando e narrando Live actions
Por Fernando Fiorin
02/06/2008

Quando essa modalidade de RPG surgiu vários jogadores olhavam para ela com desconfiança, pois os jogos de interpretação naquela época ainda estavam muito ligados aos seus ancestrais: jogos de estratégia e war games. Mas conforme surgiram alguns jogos que tornavam interessante esse tipo de jogo mais e mais jogadores foram deixando para trás o preconceito e começaram a encarnar os seus personagens de uma forma ainda mais profunda, com roupas, maquiagens, trejeitos e maneirismos. Hoje em dia os jogos de live action (ou ação ao vivo em bom português) se tornam cada vez mais comuns, ocorrendo em convenções ou encontros e até nas lojas de RPG que tem espaço para isso. Muitos jogadores às vezes ficam tentados em criar uma partida de live, mas ficam perdidos com as regras, situações e imprevistos que podem ocorrer em uma partida. De uma forma clara e simples tentarei dar umas dicas para quem quer começar a se aventurar nesse universo espetacular da interpretação ao vivo.

Defina a durabilidade do live
A primeira coisa a se fazer ao criar um live é determinar quanto tempo ele deve durar em termo de partidas. Existem os lives de uma partida só, conhecidos como lives one shot, lives de curta duração que vão de três a seis partidas e lives de longa duração que não têm um tempo previsto para acabar. Para se ter noção de que tipo de live o seu trata verifique a história dele. Ele possui tramas que podem ser desvendadas em uma noite? Ou talvez as tramas dele levem meses e meses até serem finalmente descobertas. Geralmente lives que ocorrem em eventos e encontros são lives one shot, enquanto lives ligados a projetos maiores como o One World by Night (lives de Vampiro: a Máscara que ocorrem em várias cidades do mundo e com histórias interligadas) duram indeterminadamente. Aconselho a quem pretende criar um live pela primeira vez fazer um de pequena duração, talvez três partidas. Lives one shot são complicados às vezes porque exigem certa experiência do diretor para bolar um começo, meio e fim e se um dos três elementos falharem o live falha. Já lives de longa duração acabam desgastando os diretores e jogadores, o que exige também experiência para lidar com essas dificuldades. Lembre-se que o mais importante nesse caso é a história e o tempo que ela provavelmente vai durar. Se a sua história for boa e conseguir envolver todos os personagens o seu live vai acabar durando mais do que você imagina.

Conheça bem as regras do jogo
Jogos de interpretação são interessantes porque muitas coisas do jogo são resolvidas na base da conversa e da ação direta, mas muitas vezes se torna necessário algumas regras para o jogo não desandar. As melhores regras para jogos de interpretação ao vivo são baseadas no famoso Pedra-tesoura-papel e com cartas. Ambas tornam o jogo mais rápido e dinâmico. Evite usar dados, pois eles atrapalham muito e tornam o jogo muito lento. Para quem estiver com preguiça de criar regras para live existem no mercado alguns livros de regras para vários sistemas, mas aqui no Brasil só existe o Leis da Noite, para se jogar lives de Vampiro: a Máscara. É um livro interessante até para usar suas regras mais básicas para outros sistemas, mas peca em alguns aspectos como no sistema de combate (um antigo ponto fraco da White-Wolf), que apesar de ser desaconselhado em lives vira e mexe acabam acontecendo. Também existe no Brasil um RPG que pode ser jogado tanto em volta da mesa como interpretando ao vivo, Castelo Falkenstein é um jogo que envolve a Era Vitoriana com magia e criaturas fantásticas permitindo jogos realistas ou jogos mais fantasiosos. Mas é muito difícil se encontrar o livro hoje em dia. Um fator importante além das regras do jogo são as regras de conduta, vou listá-las em tópicos pois elas são importantes:
• Não tocar: Regra número um em qualquer live action. Nunca toque outro jogador e muito menos simule combate físico. Apertos de mão, abraços e beijos (quando autorizados) são até permitidos, mas nunca deixe seus jogadores se esquecerem que aquilo é um jogo e não o clube da luta;
• Não jogar com o estado mental alterado: nunca deixe jogadores bêbados, drogados, transtornados ou emocionalmente perturbados jogarem, pois problemas graves podem surgir e ai não se espante se você e sua trupe forem expulsos do clube, casa noturna, loja de RPG onde ocorria a partida;
• Não portar armas: nem as de verdade e muito menos as de mentira. Claro que em um ambiente fechado e controlado (como a casa de um dos jogadores) pode ser até possível um jogador usar algo para deixar o jogo mais colorido, mas evite usar esses objetos em lugares abertos, pois pode causar muiiiiita confusão;
• Não fugir da interpretação: jogadores que usam muito off atrapalham o bom andamento da partida e portanto peça para os seus jogadores só ficarem em off se for realmente importante, outra coisa vital é a caracterização dos personagens. Personagens não caracterizados ou mesmo mal caracterizados acabam com todo o clima do jogo.

Se divirta

Se pergunte por que você deseja criar um live action. Eles são trabalhosos, dispendiosos e algumas vezes estressantes. Ser diretor de lives é interessante porque você se torna aquele que orquestra de vinte a trinta personagens, às vezes mais. Você vai ter que correr muito, tentar encaixar todos os jogadores na história, criar novas histórias para cada jogador e por ai vai. Mas pode ter certeza que quando você vê os seus jogadores criando novas histórias, tendo novas idéias e fazendo coisas interessantes acontecer você vai se sentir muito orgulhoso de pensar que aquela obra é sua. Ser diretor de live actions é quase como ser um diretor de teatro ou de cinema, mas o seu trabalho se torna mais difícil, pois dificilmente você vai ter que interferir na conduta de algum personagem. Você cria o mundo e o resto fica por parte deles. Para você não morrer de dor de cabeça defina que tipo de jogo te atrai mais, mas vai ai uma dica: no começo uma boa e divertida aventura de Vampiro: a Máscara é o ideal para qualquer diretor pegar o jeito da coisa. Já vi diretores que queriam começar mestrando live usando Changeling como sistema e cenário e se deram muito mal pela complexidade da ambientação e das regras.

Então, meu caro diretor, te desejo boa sorte no seu novo live e lembre-se: a real experiência só vem depois de muito tempo, mas ter paciência para lidar com todos os problemas (tanto os do live como os da vida em geral) é a melhor estratégia.

(fotos: Fernando Fiorin)

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