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Os 40 anos de Raio Negro
Por Roberto Guedes
30/06/2005

Nos Estados Unidos, durante a primeira metade da década de 1950, uma verdadeira "caça às bruxas" contra os comic books foi promovida pelo psiquiatra Fredic Wertham. Em seu livro Seduction of the Innocent (Sedução do Inocente) de 1954, alertava os pais e mestres quanto aos malefícios que a leitura de quadrinhos poderia acarretar às crianças. O senado americano começou a investigar as editoras, até que, enfim, os editores criaram o Comics Code  - uma espécie de código de ética auto-censor das revistas em quadrinhos.

Os americanos deixaram de produzir material de terror, o que motivou editoras paulistanas como a La Selva, Bentivegna, JS, Fittipaldi e a Continental/Outubro a investir nesse segmento. Todas elas, do famoso "eixo gráfico" Moóca, Cambuci e Brás. Com essa exposição, nossos autores ficaram conhecidos e por conseguinte, aumentou-se a demanda por seus trabalhos - que não se restringiria apenas às histórias de terror. A boa aceitação do gibi do Capitão 7 - que por sua vez, valeu-se da popularidade do programa televisivo comandado pelo ator Ayres Campos - serviu, com certeza, de "barômetro" na decisão de se publicar genuínos super-heróis brasileiros.

Um dos pioneiros e, talvez, o mais carismático de todos foi o Raio Negro, de autoria de Gedeone Malagola - um dos fundadores da Editora Júpiter que, por infelicidade, não durou muito. Gedeone chegou a roteirizar os gibis do Capitão 7 e do Vigilante Rodoviário, e trabalhou com vários profissionais importantes e talentosos, entre eles Jayme Cortez, Nico Rosso e Sérgio Lima.

O gibi de Raio Negro foi lançado em fevereiro de 1965 pela GEP (Gráfica Editora Penteado) de Miguel Penteado. Sua história de origem era semelhante a do "novo" Lanterna Verde da DC Comics (criado em 1959 por John Broome), e seu traje era quase igual ao do Ciclope dos X-Men (os famosos mutantes da Marvel Comics). O traço simples e os roteiros criativos cativaram os fãs. Hydroman e Homem-Lua eram outros conhecidos heróis do autor.

De acordo com os comentários do próprio Gedeone numa republicação da Grafipar de 1981: "Apresentei o Homem-Lua, mas como não era 'super' mandaram-me olhar o Green Lantern, e às pressas, surgiu o Raio Negro, com sucesso!" No mesmo artigo, Gedeone lembrou de uma visita de Lee Falk ao Brasil, durante o 1º Congresso Internacional de Histórias em Quadrinhos - realizado no MASP em 1971 - onde o criador de Mandrake ficou bem impressionado com seu traço numa história do Homem-Lua.

Até hoje, Gedeone é considerado por aqueles que tiveram a oportunidade de trabalhar com ele, como o mais prolífico autor brasileiro de quadrinhos, pois produziu revistas de vários gêneros - tanto como roteirista ou desenhista - e sempre com a mesma qualidade. Suas séries de terror A Múmia e O Lobisomem, por exemplo, são memoráveis! Vale lembrar que, apesar de tirar proveito de personagens então desconhecidos dos leitores brasileiros (caso de Ciclope e Lanterna Verde), ainda assim, teve o mérito de o fazê-lo antes do boom dos "Super-Heróis Shell" (como os heróis da Marvel eram chamados quando de seu lançamento no Brasil em 1967, devido a ação conjunta da EBAL - Editora Brasil-América, TV Bandeirantes e dos Postos Shell).

Hoje, Gedeone está aposentado e com problemas de saúde. Deixou um legado gigantesco e variado ao quadrinho brasileiro, ainda não reconhecido e admirado em todo seu esplendor.

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