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Morettini, uma vida em nanquim
Por Ruy Jobim Neto
09/05/2008

Atentem. O próximo Prêmio Angelo Agostini de Mestre dos Quadrinhos Nacionais praticamente já tem endereço: Sergio Morettini (foto). Do contrário ele não teria saído de Buenos Aires, onde nasceu, para se estabelecer no Brasil e há mais de 25 longos anos participar como poucos da produção gráfica de humor e da animação que fazemos aqui. 
 
Nascido há 46 anos na capital argentina, Sergio Raul Morettini vem desenvolvendo uma carreira inabalável entre os criadores de histórias-em-quadrinhos e do desenho animado brasileiro a tal ponto que pode ser considerado, à moda dos cartoons, como "o Papa-Léguas" do lápis nacional. Sua velocidade em entregar trabalhos encomendados, em criar projetos, em desenvolver roteiros cômicos, em desenhar páginas e páginas, em arte-finalizar material quadrinístico o fez trabalhar em praticamente todos os grandes e mais importantes estúdios (sem exceção) de HQ e animação existentes no Brasil. Prova incontestável é o seu Troféu HQ Mix 2001 de Melhor Revista de Quadrinhos Infantil, Mico Legal, que ele produziu sozinho quatro exemplares, foi o primeiro a entregar material para o selo Graphic Talents, da Editora Escala, que bancou o projeto pioneiro nesta década, e que contou com a colorização competente de Alexandre Silva.

Capas de duas edições da revista Mico Legal publicada pela Escala

Morettini, dono de uma verve que pode ser, por alguns, considerada um humor tipicamente britânico, ou com leves toques portenhos, ele tem seus comentários muito precisos acerca de a quantas anda a "indústria" do humor gráfico nacional, e de como tem se comportado o binômio público leitor-desenhista neste País. "Um desastre", seria uma afirmação tipicamente morettiniana. Sabendo que tudo o que ele vivenciou nos estúdios pelos quais passou tem sido uma grande lição de vida, onde Morettini pôde averiguar como ninguém os dois lados não só humanos como profissionais de muitos colegas, é justamente para a carreira deste cartunista muito brasileiro que nossa atenção tem que se voltar, caso estejamos esperando o próximo, certo e seguro Mestre dos Quadrinhos Nacionais pela comissão do Angelo Agostini.
 
Mico Legal, a criação mais importante do cartunista, tem uma história editorial bem sucedida, ao que o próprio criador diria que não é bem assim, a não ser que alguma editora realmente bancasse a continuidade do projeto, e que assim houvesse possibilidade de emprego para muitos profissionais alijados do "mercado" devido a distorções que vêm ocorrendo há décadas dentro do mundo editorial brasileiro. Os personagens da série, que teve seus quatro exemplares vendidos em banca com raro sucesso para um título não conhecido e pouco divulgado – ou seja, foi o quesito qualidade e novidade o diferencial, bem longe de bonecos de bochecha inchada ou com cabeças redondas a la Luis Sá – são animais da mata atlântica brasileira, genuinamente nacionais, com piadas e identidades nossas. O mesmo deve se processar novamente quando os personagens chegarem finalmente ao desenho animado, próximo passo do cartunista. Aliás, um passo há muito esperado.
 
Uma vez que neste País a produção artística, em geral, não dá o menor valor a produtos culturais que não possuam chancela oficial de leis de Incentivo ou de patrocínios de empresas públicas de porte - ou seja, somos um País para o qual a iniciativa privada realmente está entregue à míngua – ter um trabalhador braçal do lápis e da criação cômica do quilate de um Sergio Morettini é praticamente um luxo. Na HGN ele trabalhou em produtos televisivos para a Disney, em outros estúdios participou de inúmeros comerciais também para a televisão, ou aberturas como o do programa da Xuxa, para a Rede Globo, todos em animação 2D. Este gênero de desenho animado, por sua vez, é alvo de opiniões contundentes do desenhista. Morettini sabe que o gênero praticamente encontrou o seu fim, entre nós, e que a substituição pela animação 3D simplesmente terminou de matar, de enterrar os trabalhadores em 2D, a não ser que se reciclem. Ou mudem totalmente de ramo.

Morettini recebendo o Prêmio HQ Mix 2001

 
Nesse quesito, o artista de quadrinhos Sergio Morettini tem se aplicado. A mudança de rumos e de ramo, deixando as páginas cômicas dos gibis para trabalhar em cartilhas quadrinizadas proporcionou a ele múltiplos clientes, entre eles alguns muito importantes como o Citibank, a TOK&STOK, o Metrô paulistano, a Serasa, a Danone, entre tantos outros que receberam de seu rapidíssimo lápis personagens variados, mascotes, adaptações as mais complicadas que Morettini tratou sempre de traduzir magicamente para o público leitor. Tem sido há quase dez anos jurado no Mapa Cultural Paulista, onde ajuda a ampliar o espectro do desenho de humor no Interior de São Paulo, além de ter sido também jurado de vários salões de humor brasileiros. Ilustrou diversos livros, desde didáticos, paradidáticos, de ficção, infantis e materiais para ensino específico, como nas apostilas sobre reiki. O desenhista também desempenha funções de cunho humanístico e espiritualista como membro da Sociedade Brasileira de Eubiose, de onde faz parte há mais de cinco anos. Recentemente, começou a atuar como aplicador de reiki, tendo alcançado rapidamente o grau de master
 
Tudo, enfim, na vida profissional de Sergio Morettini tem sido assim, rápido. A chegada dele ao mundo da animação 2D e, logo em seguida, dos Quadrinhos foi tão lancinante quanto repentino. Todos reconhecem essa sua capacidade de criação, essa versatilidade, a rapidez de desenho que sempre demonstrou. Na matéria escrita para o site Bigorna há uma mostra de como o artista tem trabalhado nos últimos anos, bem como no blog Humorettini, onde há uma compilação feita pelo próprio artista, em formato de portfólio virtual. Seja em shows como Cinema Volume 1 – Lado A, onde fala com propriedade do universo cinematográfico de Hollywood, com suas estrelas e filmes, num rico jogo de memória impressionante e muito ilustrado, seja nos trabalhos avulsos de caricatura ao vivo – outro ramo para o qual Morettini praticamente prevê uma coroa de flores -, o múltiplo talento deste desenhista nascido na Argentina mas com alma extremamente brasileira vem a provar como também tem tudo para ser um grau especial no mundo dos Quadrinhos Nacionais, pelo Prêmio Angelo Agostini – o de mestre. Que não seja esquecido, ou seja, que seja homenageado ainda em vida. Está dado o alerta.

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