NewsLetter:
 
Pesquisa:

Os múltiplos traços de Sergio Morettini
Por Ruy Jobim Neto
28/10/2005

Sergio Morettini

A união entre o traço e a idéia. A execução rápida e a multiplicidade de rumos para um trabalho. Difícil definir a arte de um cartunista que, como Sergio Morettini, faz do desenho mais do que sua profissão - o desenho é, para ele, o ar a ser respirado.
 
Nascido em 1961, em Buenos Aires e tendo prontamente adotado o Brasil como Pátria, o multi-desenhista Morettini trabalhou em praticamente todos os grandes estúdios de animação e quadrinhos brasileiros, e fez de tudo um pouco: da animação propriamente dita ao cleaning (processo de "limpeza" do traço de animação), do planejamento de cenas aos storyboards (seqüência de quadros de um filme, dispostos geralmente numa parede, para todo o estúdio), da arte-final ao roteiro de quadrinhos, do lápis à criação de personagens.
 
Por onde estiver, principalmente com lápis e papel à mão, Morettini está fazendo o rabisco de alguma coisa, algum boneco. E a rapidez que ele desenvolveu ao longo de anos em estúdios de animação foi transportada para os quadrinhos. Assim, torna-se rotina vê-lo produzir 32 páginas de um gibi completo em apenas 4 dias, por exemplo. Essa mesma velocidade permitiu a ele criar quatro números mensais da sua revista Mico Legal, editadas pelo selo Graphic Talents, que foram às bancas em 2001 e com a qual Morettini ganhou o Troféu HQ Mix no ano seguinte, como Melhor Revista Infantil Brasileira, quebrando a seqüência de prêmios de estúdios famosos no ramo.
 
Sergio Morettini trabalhou em editoras como a Globo (onde fez quadrinhos para Xuxa, Turma do Arrepio, Chaves, e fez capas para Gibi e Recruta Zero),  a Editora Abril (Trapalhões, Senninha e Zé Carioca foram títulos onde fez quadrinhos), participou da animação de filmes como A Princesa Xuxa e os Trapalhões, e outros como a abertura do Xou da Xuxa e algumas cenas para O Grilo Feliz, o longa de animação dirigido por Walbercy Ribas.
 
Fez planejamento, animação e cleaning  para estúdios como a HGN Produções, de Haroldo Guimarães Neto, em produtos como Alladin e Goofy Troop, entre outros. Morettini também participa e participou de diversos filmes animados para a publicidade, e mesmo para desenhos institucionais. Teve passagens por estúdios como Briquet Filmes, Ely Barbosa, Sketch, Daniel Messias. Executou também 420 tiras para o clássico personagem O Amigo da Onça, de Péricles, com roteiros do cartunista Jal, para jornais como a Folha da Tarde e a revista Bolas. Atualmente, está desenhando e arte-finalizando páginas para O Menino Maluquinho, de Ziraldo.
 
Tendo se inserido em todos esses contextos, torna-se lógico pensar que Sergio Morettini viu praticamente de tudo, em matéria de animação e quadrinhos, nesses vinte e um anos de Brasil. Viu estúdios ascenderem e declinarem, viu também muitas carreiras chegarem ao topo e se liquefazerem. Espera-se, qualquer dia desses, que ele venha a escrever sobre essa trajetória, e certamente terá muito para contar.
 

O Mico Legal


Sua maior criação, no entanto, é o brasileiríssimo Mico Legal, um macaquinho matreiro e simpático que habita a Mata Atlântica e que também tem aventuras na cidade grande. Mico pode ser tanto um detetive, quanto uma presa nada fácil para caçadores e mesmo para predadores (a exemplo do divertido alienígena Chupa-Cabras). Seus comparsas mais próximos, Jaca e Tatuspião, são dois divertidos habitantes das matas que, quando se vêem na pele de espiões internacionais, tomam sempre o mesmo ônibus para a metrópole, o famoso "Penha-Lapa".
 
Seus personagens viajam a Marte, participam de reality-shows, dizimam atentados terroristas amalucados, abordam até temas como clonagem humana. O olhar do cartunista, portanto, é inapelavelmente demolidor ao observar nossa civilização. Daí a multiplicidade de personagens de outras séries que ele criou: O Guru, Bolão, Barda, Família da Raça e um dos mais recentes, Dom Cherito Malacoca.
 
Noutra banda, Morettini é também jurado do Mapa Cultural Paulista, a serviço da Secretaria de Estado da Cultura, para a categoria de Desenho de Humor, desde 1998. Quando chega a segunda metade de todo ano, o cartunista preenche um rol de viagens ao Interior de São Paulo, para as mais diversas cidades, para ver o que se produz de melhor nas áreas de cartum, quadrinhos, charges e caricaturas. Não se pode esquecer outra vertente de Morettini - a de professor de assuntos ligados a História em Quadrinhos e Desenho Animado, bem como é também instrutor da SBE para assuntos de cunho esotérico.
 
Caricaturista, desenhista de storyboards para publicidade, ilustrador de diversos livros e revistas, chargista com olho afiado para o que acontece no Brasil e no mundo, Morettini tem igualmente participado em salões nacionais e  internacionais de humor, tais como os da Espanha, do Japão, da Bélgica e de tantos outros países. Seu lápis não pára quieto, seja para desenvolver projetos os mais variados, para executá-los, ou simplesmente descansando, quando cria os bonecos mais bizarros e engraçados possíveis. Pelo mero prazer de fazer rir. E raciocinar este País.

Veja amostras do trabalho de Morettini aqui e aqui.   

 Do mesmo colunista:
Miécio Caffé - a memória em nanquim (uma crônica possível)

A animação brasileira à beira do esquecimento?

O mundo batráquio de Ran, de Salvador Messina

Quadrinhos de Arte por Roy Lichtenstein

Os Homens da Central de Tiras, um review

A nova fantasia do mestre Miyazaki

Quadros de ontem e de hoje

Canini trazido à baila. Mas falta exatamente Canini

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web