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Hal Foster: O Cavaleiro dos Quadrinhos
Por Mário Latino
03/09/2010

Os quadrinhos, que surgiram no final do século passado, eram predominantemente humorísticos. Retratavam situações que o leitor médio, semi-analfabeto e com pouco tempo para lê-los, sabia reconhecer sem maiores dificuldades.

Esse status se manteve até finais da década de 20. Nesta época, e com o sucesso que os livros de Tarzan tinham atingido, Edgard Rice Burroughs (criador do homem-macaco) aceitou a idéia, apresentada por um publicitário, Neebe, de adaptar as histórias para os quadrinhos. Como o principal ilustrador dos romances, J.Allen St. John se negara a participar da empreitada, a escolha recaiu em Harold Rudolph Foster, desenhista ligado à publicidade.

Foster nasceu no ano de 1892 em Halifax, Canadá. Na juventude ele fora caçador, pescador, guarda florestal, vendedor de jornal e até boxeador antes de optar pelo desenho.

 

 

Foster se iniciou como desenhista contando unicamente com suas próprias habilidades. Elaborou catálogos e cartões postais para uma firma que os vendia pelo correio. Foi um período duro, pois já estava casado e com dois filhos.

Em 1921, percebendo que suas habilidades inatas não eram suficientes, decidiu estudar desenho. Matriculou-se em Chicago, no Instituto de Arte, na Academia de Belas Artes e na Academia Nacional. Fez o curso noturno já que de dia era necessário trabalhar. Graças a seu afinco e ao talento inegável, rapidamente arranjou trabalho na a revista Popular Mechanics. Ainda fez cartazes para o Chicago Motor Club. Pouco ou nada sabia das tiras em quadrinhos que eram publicadas nos jornais.

Um certo Homem-Macaco

Por isso, quando recebeu o convite para desenhar Tarzan ficou surpreso. Ele mesmo diz nas suas memórias:

"Em 1929, veio a Depressão Econômica e, por algum tempo, o trabalho de propaganda ilustrada que eu fazia parou. Tinha algum dinheiro investido em ações e perdi quase tudo. Foi então que surgiu Joseph Neebe, que conhecia meu trabalho em publicidade. Ele queria que eu desenhasse Tarzan... Ilustrei o primeiro volume da obra daquele escritor (Burroughs), depois lançado em tiras por muitos jornais... logo Joe Neebe veio me procurar, propondo que eu fizesse Tarzan aos domingos. No início, não queria aceitar. Achava que estava prostituindo minha arte, fazendo Tarzan como uma verdadeira página de quadrinhos. Então, me dei conta que estávamos na Depressão, tinha uma família para sustentar e passávamos dificuldades. Assim fiz a página dominical de Tarzan de 1931 a 1937. O trabalho, a princípio, me desagradava, mas na medida que comecei a receber cartas de admiradores mudei minha idéia a respeito dos quadrinhos..."

O trabalho que Foster fez em Tarzan foi pioneiro em vários sentidos. Como desenhista, tinha liberdade para modificar o roteiro. Negou-se rotundamente a fazer gigantescos gorilas de mais de trezentos quilos balançando-se em frágeis galhos. Mas seu maior mérito foi emprestar técnicas da narrativa cinematográfica. Ele foi o primeiro desenhista de histórias em quadrinhos que utilizou planos, ângulo de câmera, campo e contra-campo. Seu desenho, extremamente realista e vigoroso, deu às histórias uma autenticidade fortalecida pela exaustiva pesquisa de ambientes, vestuário e costumes. Antes dele, ninguém nos quadrinhos tinha feito algo parecido.

Em History of Comics, James Steranko diz de Foster:

"... desenvolveu um tratamento que consistia em abundantes long-shots que mostravam a figura hercúlea de Tarzan em sua melhor forma. Ele percebera que a popularidade do homem-macaco repousava no físico, não no metafísico. Todos os heróis de tiras receberiam igual tratamento. Os balões eram outro caso. Foster procedia com eles a seu próprio modo. Não querendo submeter suas ilustrações à área negativa criada pelo balão de palavras, eliminou-o, e inseriu o texto num espaço aberto dentro do quadrinho. O novo aspecto foi de excepcional bom gosto, mas o bom gosto era um elemento marginal nas histórias em quadrinhos, onde a ostentação era a regra."

O Príncipe Valente

Enquanto Foster desenhava belas páginas dominicais para o United Feature Syndicate, aumentava o número de leitores da história. Um deles era William Randolph Hearst, dono do King Features Syndicates, que o chamou para trabalhar com ele. Na proposta de Hearst, o syndicate criaria um personagem exclusivo para Foster.

Na verdade Foster estava cansado de desenhar uma tira cujo controle não lhe pertencia. Tinha em mente uma aventura que transcorresse na Idade Média, mas o United Feature não estava muito aberto a essa proposta. Finalmente o King Features topou a idéia e assim nasceu o Príncipe Valente.

A primeira página dessa história apareceu nos jornais no dia 13 de fevereiro de 1937 e narrava as aventuras do herdeiro do destronado rei da fictícia Tule, na corte do Rei Arthur. O roteiro, primoroso, envolvente e extremamente bem equilibrado nos leva de um canto a outro da Europa Medieval, enquanto o herói e seus amigos enfrentam fantásticos perigos e cantam ao amor entre brigas de taverna e batalhas infernais.

Sendo Príncipe Valente uma história medieval, o trabalho de pesquisa - vestuário, armas, modo de vida, castelos, regras de conduta e organização da Cavalaria Andante - era cansativa. Chegava a exigir até 50 horas de trabalho semanal para fazer uma única prancha dominical. Como em Tarzan, Foster dispensou o uso do balão, para tornar suas narrativas mais limpas, com cenários cuidadosamente elaborados e com uma cronologia quase exata dos personagens.

Príncipe Valente foi um sucesso desde o início, sendo publicada em infinidade de jornais, além de ser traduzida para o francês, italiano, espanhol, alemão e português. As histórias foram recopiladas pela Hasting House em 7 volumes. Até houve um filme adaptando suas aventuras com o canastrão Robert Wagner no papel-título.

Enquanto desenhava as aventuras do Príncipe Valente, Foster ainda encontrava tempo para publicar uma tira de três quadros ao pé da história principal, chamada Medieval Castle onde narrava os costumes da época.
Em 1958 Foster foi premiado com o Reuben, algo assim como o "Oscar dos quadrinhos".

Em 1971, com mais de 1700 pranchas no seu haver, Foster achou que estava na hora do retiro. Assim, passou o controle da história para John Collen Murphy, desenhista de Big Ben Bolt. Murphy começou fazendo um trabalho à altura, mas com o passar dos anos a qualidade da história decaiu bastante, até ser cancelada nos anos 80.

Pelo conjunto da sua obra, Foster ainda foi nomeado Cavaleiro do Império Britânico, caso único nas HQ. Foster morreu em Miami no ano de 1982, dias antes de completar 90 anos.

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