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Resenha: Santô e os pais da aviação
Por Marko Ajdarić
30/11/2005

Para marcar os 100 anos do 1º vôo do 14-Bis - marco maior da história da aviação -, o quadrinhista, cartunista e ilustrador Spacca lançou, no dia 21, pela Companhia das Letras (editora que também enriquece a cena da Nona Arte no Brasil com o selo Companhia das Letrinhas), Santô e os Pais da aviação, uma História em Quadrinhos sobre a vida de Alberto Santos-Dumont e de seus contemporâneos, em 168 páginas em preto e branco, no formato álbum, ao preço de R$ 39,00. Nosso colega Humberto Yashima - do Bigorna - esteve na concorrida sessão de autógrafos, no dia 26, e a registrou em fotos.

Parafraseando uma passagem do próprio Santô, o único "pecado" de Spacca é fazer parecer fácil realizar uma quadrinhização deste tipo, uma vez que o conhecimento de Spacca de várias possibilidades dos quadrinhos aliado a uma dedicação de anos ao projeto, resultaram em uma quadrinhização que apresenta uma sólida fluidez, apesar de amarrar bem inúmeras tramas. Outro "problema" de Santô é que dificilmente se quer largá-lo antes da conclusão da leitura.

Spacca consegue, em rápidas e seguras pinceladas, gravar fundo na memória dos leitores várias passagens da história da aviação em geral e da vida de Santos-Dumont, em particular. Antológica, desse ponto de vista, é a passagem em que o nosso autor descreve como Santos-Dumont chegou ao formato de chapéu  que conhecemos (para citar apenas um detalhe mais conhecido). Como conjunto, Santô é um retrato melhor - e mais eficiente - do inventor do avião e de seu tempo do que qualquer um dos manuais positivistas da historiografia oficial, e deveria ser exemplo para que mais obras do tipo fossem realizadas, possibilitando aos jovens de todas as idades incorporar afetivamente em seus ideários personagens como Cândido Rondon, o Barão de Mauá, Bartolomeu de Gusmão (já biografado em "quase-quadrinhos" por Ruy Jobim Neto, que também tem publicado um livro ilustrado sobre Santos Dumont) e - minha sugestão, por que não - o maior arquiteto negro da história, Teodoro Sampaio.

Para "sorte" da escolha de Spacca, digamos que Alberto Santos-Dumont era dono de uma personalidade muito correta, o que facilitou ao "escritor" Spacca  mostrar a vida do biografado e de seu tempo. Spacca esgrime muito bem os recursos dos quadrinhos, em especial o uso do branco e dos enquadramentos, para cumprir seu projeto. Assim, Spacca conduz muito bem o leitor ao ambiente e às histórias em que o inventor colheu suas vitórias, fama e derrotas, não faltando nada do essencial para se considerar, além de uma agradável leitura, uma boa introdução aos primórdios da aviação.

A abertura é ótima por dois aspectos: para quem conhece a história de Santô (como os franceses chamavam Santos-Dumont) fica um clima de expectativa sobre o nexo das cenas com a biografia; para quem não conhece (crianças e eventuais leitores estrangeiros) apresenta uma aproximação paulatina que funciona muito bem. O desenvolvimento é um aula do uso do meio-quadrinhos para contar uma história: com certeza, a maioria dos leitores será levada a lê-lo mais de uma vez, pois Spacca consegue um dos melhores êxitos de uma HQ: agrada e acrescenta ao leitor de 7 anos e vai ser reveladora de muitos detalhes ao mais culto dos leitores de 77. O fechamento, bem, não queremos contar, mas casa bem com o lirismo que nosso autor escolheu, e marca com eficácia a empatia entre pesquisador e objeto, chave do sucesso desta biografia em quadrinhos.

O tratamento editorial é excelente, até no letreiramento, onde o erro em apenas uma letrinha nos ajudou a perceber o quanto as letras foram bem escolhidas. Nosso único senão, mais como leitor que como resenhador, é que esperávamos um uso mais denso dos remorsos que Santos-Dumont sentiu com o uso militar de sua invenção.  Para famílias de bom gosto, vale a lembrança para incluir esse ótimo presente em sua lista de Natal, pois será um presente para várias gerações. Não sei se é o intento do Spacca, mas uma versão mais barata para uso em escolas de crianças de famílias mais esmagadas pelos nossos desgovernos seria um presente para milhares de brasileirinhos...

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