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Resenha: O Fotógrafo
Por Matheus Moura
05/07/2007

O pesquisador e professor Moacy Cirne caracteriza as HQs que fazem uso da fotografia como ilusórias. Isso porque elas não passam de pseudo-Histórias em Quadrinhos, criando assim a ilusão de serem genuínas. “(...) alguns elementos fotográficos, por analogia semiótica, podem ser incorporados a este ou aquele desenho como parte de um todo seqüencial, podendo criar uma dada ‘ilusão quadrinhística’. (...) podemos aceitar o pressuposto da ‘ilusão’ sabendo que se trata de uma ilusão que se pretende real, extrapolando o modelo narracional das HQs”. *
 
Moacy justifica essa idéia da ilusão ao dizer que “o objeto-Quadrinho, historicamente situado, (...) tem uma concretude e uma lógica narrativa que pressupõem o mais puro agenciamento de imagens desenhadas”. * Até mesmo o trabalho de Didier Lefèvre (fotografias), Emmanuel Guibert (desenhos e roteiro) e Frédéric Lemercier (diagramação e cores) em O Fotógrafo (88 págs., formato 23 x 30 cm, R$ 46,00) não foge À regra. É notável a estranheza em ler um álbum como esse. As fotografias despendem um tempo muito maior de leitura do que os desenhos, isso feito inconscientemente pelo leitor.

A trama da história é sobre a viagem de Didier Lefèvre pelo Afeganistão em 1986, juntamente com uma caravana dos Médicos Sem Fronteiros (MSF), grupo de médicos de vários países que viajam por territórios inóspitos ou não, tratando de pessoas que não têm acesso às beneficies da medicina. No primeiro volume de O Fotógrafo, lançado no final de 2006 pela Conrad Editora, é contado o inicio dessa viagem e parte das agruras do pessoal da caravana. Destaque pela abordagem dada pelo roteirista, Emmanuel Guibert, quanto às diferenças culturais. Sem preconceitos bobos de ocidentais para árabes. Também interessante a oportunidade de conhecermos um pouco - nem que seja o mínimo - a cultura árabe, tão obscura à nós ocidentais, principalmente americanos, quando digo americanos não estou me referindo somente aos estadunidenses, como é de costume.

Vez ou outra, porém, é notável a simplicidade dos desenhos, perdendo muito com relação às fotografias de Lefèvre. “Claro que perde, são desenhos e não recortes do real”, pode o leitor pensar. Entretanto há diversos desenhistas cujos traços não perdem em nada, ou quase nada, em relação a fotos. Vide Naoki Urasawa, criador de Monster, por exemplo; e tantos outros. O álbum possui capa dura, com verniz no título e prefácio de Simone Rocha, diretora de MSF no Brasil. Ficou faltando uma biografia dos autores. Algo que ainda pode e deve ser remendado com os outros dois volumes porvir, algo agora obrigatório, já que o personagem principal faleceu entre os dias 29 e 30 de janeiro deste ano devido a problemas no coração.

Em suma, O Fotógrafo se torna obrigatório àqueles que percebem os Quadrinhos como algo além de entretenimento, pois junto com trabalhos como Palestina, Gorazde (Joe Sacco) e coisas do gênero, O Fotógrafo é o retrato de uma época, se tornando assim material de referência histórica.

* CIRNE, Pensando em Quadrinho Documentário, 2002

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