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Ophidya, de E.C. Nickel, e os terrores da Sobrenatural
Por José Salles
15/12/2005

Desde a segunda metade da década de 70 do século passado a carioca Editora Vecchi, dentre várias publicações, começou a notabilizar-se pelos gibis de terror que lançava nas bancas. Títulos como Pesadelo e Sobrenatural, que publicavam histórias da editora estadunidense Warren (muita coisa boa de Steve Ditko por lá). Com o passar dos números, foram sendo mescladas às histórias da Warren algumas HQs produzidas por autores nacionais - e foi questão de tempo os diretores da Vecchi perceberem que histórias feitas aqui agradavam muito mais aos leitores do que as HQs estrangeiras. Logo, não só os títulos supra-citados seriam totalmente dominados por artistas nacionais, mas também estava aberto o caminho para os livrinhos da coleção Spektro (hoje cada número é uma preciosidade rara para os embasbacados colecionadores). Só não dá pra dizer que esta época marcou a "Era de Ouro" dos quadrinhos de terror no Brasil devido aos diversos atrasos no pagamento de salários que os artistas enfrentaram no período. De qualquer forma, editorialmente foi mesmo uma época muito profícua, e artisticamente um deslumbre inesquecível, encantando toda uma geração de leitores.

Foram diversos os artistas maravilhosos que deixaram suas marcas em milhares de páginas que se tornaram um legado magnífico na História das Histórias em Quadrinhos. No número 31 da revista Sobrenatural, de 66 páginas, lançada nas bancas em outubro de 1981, os leitores tiveram a chance de conhecer uma notável personagem criada por E.C. Nickel (este artista fabuloso, esta notável referência dos quadrinhos de ficção no Brasil): Ophidya, A Rainha Serpente, é o formidável destaque deste gibi. A história começa em plena floresta amazônica, onde dois exploradores/arqueólogos enfrentam sofregamente a invencível floresta, em busca de um misterioso e desconhecido templo sagrado. Quando já estavam perdendo a esperança encontram o monumento que relembra as construções incas e egípcias. No interior do templo a primeira coisa que encontram é uma advertência, avisando os incautos dos perigos de se acordar uma certa deusa-serpente. Claro que os céticos senhores não se importam muito com isso - até que se deparam com uma linda espécie de fêmea, Ophidya, a Rainha Serpente, que despertara de seu sono, pronta para continuar seu legado de sangue! Um dos arqueólogos é a primeira vítima fatal dos peçonhentos dentes de Ophidya, sendo reduzido à cinzas em poucos segundos. O outro, chamado Walter, é poupado só para que seu corpo seja reencarnado por Khor, o fiel servo da Rainha Serpente. Khor livra-se de sua aparência de múmia, ficando então com a aparência jovial de Walter, e este último relegado ao sombrio aspecto de um defunto egípcio. Ophidya e Khor seguem então para a grande metrópole, ela com a firme intenção de dominar os chefões do crime. Só não contavam com uma coisa: a obstinação do atormentado Walter, movido pelo ódio, em busca de vingança.

A saga de Ophidya a Rainha Serpente mostra que Nickel é não somente um excelente desenhista, mas também um roteirista de mão-cheia, capaz de escrever ótimos diálogos. Sua HQ é impecavelmente bem construída. Fez para este número 31 de Sobrenatural uma história ágil, aventura movimentada, cheia de suspense, ação, e com notáveis referências aos melhores filmes "B" do cinema. Totalmente ofuscadas pela Rainha Serpente, outras histórias completam esta 31ª edição de Sobrenatural: O Melhor Pastel da Cidade, de Luscar (texto) e Bonini (arte); é uma divertida comédia de humor negro, onde um chinês conhece a notoriedade por causa do sabor do pastel que vende em seu bar, e o recheio do pastel todo feito de carne humana - e matéria-prima não iria faltar ao chinês: vizinho de um Instituto Médico Legal, corrompe um funcionário de lá para abastecer sua despensa; O Veneno, de Cláudio Rodrigues (texto) e Vilmar Rodrigues (arte), mostra um atormentado cientista, agora um paciente fugitivo de hospício, tentando provar ao mundo a existência de apavorantes e gigantescos ratos; Um Para o Outro, de Luscar para o traço inestimável de Júlio Shimamoto, responsáveis por uma narrativa sofisticada e bem-humorada para descrever a paixão entre vampiros; A Boca do Inferno, escrita e ilustrada por João Manoel, mostra um azarado vigia noturno envolvido em trama demoníaca. Encerra o gibi uma historinha de página única que segue a linha do humor, uma brincadeirinha com cartomantes chamada Ninguém Pode ir Contra os Astros, assinada por Krisnas.

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