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Entrevista: Gian Danton
Por Eloyr Pacheco
07/02/2009

O escritor Gian Danton é um dos grandes roteiristas de Quadrinhos do Brasil. Há mais de 20 anos ele se dedica a escrever histórias, muitas delas desenhadas por Bené Nascimento, muito conhecido por Joe Bennett. Gian participou do projeto Brazilian Heavy Metal e da premiada revista Mantícore. Recentemente lançou o livro Roteiro para Histórias em Quadrinhos (saiba mais aqui) resultado de sua experiência. Nesta conversa por e-mail ele comenta sobre suas influências, sua carreira e, sem enrolar, faz a lista de suas HQs preferidas. Confira.

Como surgiu seu interesse por Quadrinhos? Qual foi a primeira revista que você leu?

Eu leio Quadrinhos desde criança, especialmente Disney e Turma da Mônica. Mas eu realmente me apaixonei pelos Quadrinhos quando descobri os super-heróis. Eu estava numa fila de banco (naquela época, sem caixas eletrônicos, as filas eram imensas) e alguém me emprestou uma revista Superaventuras Marvel. Tinha uma história do Conan, outra do Dr. Estranho e uma do Demolidor. Fiquei fascinado. Já procurei essa revista em sebos diversas vezes e nunca encontrei. A partir daí comecei a correr atrás de revistas de super-heróis. E colecionava, claro, a Superaventuras.

Os personagens que você mencionou formavam basicamente o mix dos primeiros números. Lembra qual o número da edição? Talvez eu tenha repetido na minha coleção! (risos)

Opa, se tiver, me arranja. A única coisa que me lembro é que a história do Dr. Estranho tinha uma cruz invertida e a do Conan terminava com uma mulher dizendo para o bárbaro: “Tenha sonhos de ouro”. No dia seguinte ele acordava e descobria que tinha sido roubado e comentava algo como “Eu fico com os sonhos e você fica com o ouro”.

Quais seus roteiristas e desenhistas preferidos?

O primeiro lugar entre os roteiristas é, sem dúvida, Alan Morre. Até hoje não apareceu outro escritor tão bom e versátil nos Quadrinhos. Mas também gosto muito do trabalho de Neil Gaiman, Grant Morrison, Peter Milligan... fora do circuito dos comics, gosto muito do Charlier (Blueberry) e do Oesterheld (Che). Quanto aos desenhistas, o meu predileto é All Williansom, que desenhou durante muitos anos o Agente Secreto X-9 criado pelo Alex Raymond. Outro grande desenhista é o Garcia Lopez (Esquadrão Atari). Dos mais recentes, Frank Quitely é sem dúvida um dos melhores. Eu não poderia deixar de citar alguns dos desenhistas com o quais já trabalhei e que certamente estão entre os meus preferidos: Joe Bennett (Família Titã); Antonio Eder (Manticore); José Aguiar (Quadrinhofilia) e Jean Okada (Exploradores do Desconhecido).

Na sua opinião quais as 10 obras que devem fazer parte de qualquer coleção de Quadrinhos?

Essas relações sempre são complicadas, e a gente corre o risco de esquecer algo. Além disso, a gente muda nossa preferências com o tempo, mas lá vai a relação:
1 – Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons
2 – V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd
3 – Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller
4 – Orquídea Negra, de Neil Gaiman e Dave McKean
5 – Sandman, de Neil Gaiman
6 – Che, do Oesterheld e Breccia
7 – Blueberry, de Charlier e Moebius
8 – Companheiros do crepúsculo, de Bourgeon
9 – Skreemer, de Peter Milligan
10 – Esquadrão Atari, de Gerry Conway e Garcia Lopez

Como você descobriu que queria fazer roteiros para Histórias em Quadrinhos?

Quando percebi que não sabia desenhar (risos).

Eu até que desenhava bem, mas quando conheci feras como Roger Cruz, Luke Ross e Marcelo Campos fui editar! (risos)

Pois é. Não dá para competir com esse pessoal. Além disso, a gente precisa se especializar, senão acaba virando pato. Dizem que o pato é único animal que voa, nada e anda, mas voa mal, nada mal e anda mal...

Como foi que começou sua parceria com Bené Nascimento?

Essa história com o Bené é engraçada. Eu já o conhecia, mas não sabia que ele fazia Quadrinhos. Um dia fomos fazer um trabalho para a faculdade, sobre Quadrinhos, e fui encarregado de entrevistá-lo. Passamos a tarde inteira conversando e o que era para ser uma entrevista, virou amizade. Daí surgiu a idéia de fazer um zine, o Crash!. Um dia o Bené chegou com uma história pronta, a Floresta Negra, e me pediu para colocar texto. Já estava toda desenhada, só faltava arte-finalizar e colocar texto. Essa história acabou saindo na revista Calafrio e foi minha primeira HQ publicada.

Você e o Bené chegaram a criar personagens juntos?

Sim, vários. Os mais famosos são a Família Titã. Mas também trabalhamos outros personagens que não chegaram a ser pubicados, como o Coronel Ordem e o Puritano.

Lembro que nos conhecemos em na Universidade Estadual de Londrina, no Intercom, em 1996, se não me engano. O que você apresentou neste Congresso?

Sim, é verdade! Nos conhecemos em Londrina. Eu estava apresentando um trabalho sobre a teoria do caos em Watchmen, que foi tema da minha dissertação de mestrado e de um livro, pela Marca de Fantasia, que será relançado por outra editora em breve.

Ah, era isso mesmo! Qual a importância do Intercom para os Quadrinhos no meio acadêmico?

Acho muito importante não só o Intercom, mas os estudos acadêmicos. Foi o Grupo de Trabalho de Qquadrinhos no Intercom, coordenado pelo Flávio Calazans, que abriu caminho para as Histórias em Quadrinhos serem vistas como algo sério. Antes disso, o preconceito era muito grande. Hoje a maioria dos professores e pesquisadores da área de comunicação já tem consciência da importância das Histórias em Quadrinhos.

Esse encontro foi na mesma época do lançamento da Brazilian Heavy Metal pela Opera Graphica. Essa coletânea foi um marco para os Quadrinhos Nacionais, não acha?

Sim, foi. Pena que não tenha continuado.

Você nasceu em Minas Gerais e quando eu o conheci você morava em Curitiba e agora está em Macapá. Rapaz, você anda, hein?!

Pois é. Como bom mineiro, eu não fico parado. Se bem que já estou há mais de 10 anos em Macapá! Atualmente, a maior parte da minha família mora em Curitiba, mas tenho um impedimento para ir para lá: minha mulher tem alergia ao frio, então temos que ficar em lugar quente mesmo...

Como foi a produção e o lançamento da revista Mantícore?

A Manticore surgiu a pedido de um editor de Curitiba. Ele queria lançar um gibi oportunista, às pressas, para aproveitar a onda do chupa-cabras. Aí nós descobrimos que ele era fã de Arquivo X e o convencemos a fazer algo mais na linha suspense e ficção-científica. O Antonio foi o grande mentor da história. Ele descobriu o Márcio Freire em uma cidadezinha do litoral do Paraná e levou ele para Curitiba. O Márcio ficou morando um mês no estúdio Núcleo, onde trabalhávamos. Passava o dia inteiro pintando as páginas que o Antonio desenhava. Foi um trabalho de cão, mas o resultado compensou. Era época da Image e ninguém mais publicava Quadrinhos pintados à mão. Quando a revista foi lançada, foi um sucesso. Infelizmente, a editora não soube aproveitar o interesse inicial. Faltou marketing, faltou boa distribuição... uma pena.

Como surgiu o convite e como foi escrever Histórias de Guerra?

O Franco de Rosa queria relançar as histórias de guerra do Colonnese, mas achava que os roteiros estavam muito datados. Assim, ele me pediu para reescrever as histórias.

Você já sabia de antemão que seria o Mestre Eugenio Colonnese que desenharia esta HQ?

Sim, e essa foi a principal razão pela qual aceitei o convite. Sempre fui fã do traço do Colonnese. Acho o desenho dele elegante, bonito... e ele sempre inovou. Fazia aguada na década de 1960... na história com roteiro meu que desenhou, ele usou lápis. Ficou muito bom.

Você acabou de publicar pela Popmídia o livro Roteiro para Histórias em Quadrinhos. Qual a sua expectativa para este lançamento?

O embrião desse livro foi um e-book que soltei na rede há uns cinco ou seis anos. O e-book se tornou uma espécie de leitura obrigatória, até por ser a primeira literatura brasileira sobre o assunto. De vez em quando encontro pessoas que dizem ter começado a escrever Quadrinhos a partir da leitura desse livro. Isso não só no Brasil, mas também em Portugal. E muitos me pediam para lançar esse e-book no formato impresso. Na verdade, o livro Roteiro para Histórias em Quadrinhos é uma versão melhorada desse e-book, com mais capítulos. Espero que ele tenha uma aceitação equivalente. 

Você tem acompanhado o atual movimento do Quadrinho Independente?

Um pouco. Nem tudo que sai chega em Macapá, mas tenho me impressionado com a qualidade gráfica e editorial do material publicado. Revistas independentes como Quadrinorte, a Quadrinhópole e a Prismarte são exemplos.

Obrigado, Gian, pela entrevista. Torço para que seu livro tenha boa aceitação e ótima vendagem. Parabéns pelo trabalho que você realiza.

Eu que agradeço a oportunidade. Gostaria de também parabenizar o Bigorna pelo ótimo trabalho na divulgação dos Quadrinhos nacionais.

O Bigorna.net agradece a Gian Danton pela entrevista concedida por e-mail e finalizada no dia 7 de fevereiro de 2009.

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