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Homenagem aos artistas desconhecidos
Por Leonardo Santana
20/09/2006

Não se pode negar: quando se abre uma revista de História em Quadrinhos, o maior impacto, delírio e prazer está incorporado nos desenhos. É o desenhista o maestro supremo que comanda uma HQ e que seduz, em última análise, o leitor. E, durante boa parte do tempo – para alguns, para sempre – a importância de uma HQ se resume ao trabalho do desenhista, como se toda a confecção dela fosse produção única e exclusivamente do desenhista. Bom, em alguns casos, de fato é, mas, hoje em dia, uma HQ é, na maioria das vezes, um trabalho de uma equipe.

Esta é uma atitude perfeitamente normal. Os desenhos são a parte mais imediata e primitiva que chega ao leitor. Eu mesmo, que sou roteirista, só me dei conta do trabalho (e da importância) do roteirista ao ler o Monstro do Pântano de Alan Moore. O papel do roteirista é tão importante, senão mais, que o do próprio desenhista, uma vez que uma boa história com desenhos ruins é perfeitamente passável enquanto uma história ruim com desenhos bons simplesmente não convence muito bem. Claro que há casos e casos, da mesma forma que há gostos e gostos, mas isto tende a ser uma regra geral.

Durante muitos anos o trabalho do roteirista foi relegado ao papel de mero coadjuvante até a entrada em campo do já citado Alan Moore que, juntamente com alguns outros roteiristas ingleses, conseguiu trazer um pouco mais de estabilidade e prestígio para a nossa profissão. Mas, ainda assim, uma HQ não é só um roteiro desenhado. Ainda é preciso algo mais para a magia ficar completa. Uma importante figura tem sido completamente ignorada e, até mesmo, hostilizada pela maioria dos artistas que trabalham com quadrinhos: o arte-finalista.

Acreditem quando lhes digo que, mesmo com a minha pouca experiência, eu já vi de tudo um pouco em relação a essa arte: são belos desenhos em grafite serem estragados por maus arte-finalistas; desenhos medíocres serem salvos por arte-finalistas geniais; excelentes desenhistas que arruínam seus trabalhos tentando arte-finalizá-los ou que, simplesmente, não conseguem expressar o mesmo vigor que seus desenhos tinham quando estavam só no grafite. Isto demonstra a importante e estratégica tarefa do arte-finalista. Infelizmente, o não-reconhecimento de sua arte faz com que se crie um certo preconceito entre os artistas que consideram, de uma forma geral – é fato que sempre existem grandes e honrosas exceções -, que o arte-finalista é o cara que queria ser desenhista, mas não sabe desenhar. Esta é uma triste e equivocada visão que não nos permite explorar melhor o talento de certas pessoas que, dedicadas única e exclusivamente a essa profissão, poderiam fazer milagres maravilhosos dentro de uma HQ.

Outros profissionais que não têm recebido o reconhecimento que merecem são os coloristas, que, no Brasil, devido aos custos de produção, são profissionais extremamente raros. Não se engane, a arte de colorir bem (seja no computador ou no método tradicional) é uma habilidade para poucos. Por fim, mas não menos importante, temos os letristas. Um trabalho extremamente maçante, mas exige, ao mesmo tempo, muita dedicação e atenção. Ler uma HQ sem as onomatopéias, por exemplo, é a mesma coisa que assistir a um filme com o volume desligado e, da mesma forma, desenhar onomatopéias que interagem com o leitor é uma habilidade tão sutil que muitos ignoram sua importância.

Portanto, da próxima vez que você ler uma História em Quadrinhos, procure conhecer aqueles artistas que, muitas vezes totalmente dedicados e abnegados, passam desapercebidos pela maioria dos leitores. Vocês não imaginam a importância vital que eles tiveram na concepção da obra, como um todo, que se apresenta para vocês (para o melhor ou para o pior). Por isso, para as pessoas que têm talento nessas áreas, não se envergonhem de se dizerem arte-finalistas, letristas e coloristas e lutem pelo reconhecimento de seus talentos. Vocês não fazem idéia de como nós, escritores e desenhistas, precisamos desesperadamente de artistas talentosos para ocupar essas cadeiras.

(Ilustração: Gerson Witte)

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