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Crítica: A Dama na Água
Por Ruy Jobim Neto
12/09/2006

Bryce Dallas Howard: A Dama na Água


Apesar dos astros principais serem simplesmente um primor, o filme peca pelo previsível. Um rapaz, um sujeito meio rotundo e enorme que se sentava a uma poltrona de mim, para se ter uma idéia, ficava tamborilando os dedos ou mesmo trepidando as pernas, torcendo para descobrir a fraquinha e previsível chave para A Dama na Água (Lady in the Water, 2006), em determinados pontos da projeção.  E não é que ele conseguiu mesmo, alardeando para as poltronas mais próximas a sua descoberta? Para ele, como para muitos – e também para este crítico que vos escreve – o filme tropeça em si mesmo. Se M. Night Shyamalan acertou em algum ponto, temos que dar o braço a torcer para pelo menos esses dois: o tocante Paul Giamatti (de Sideways, e aqui no papel do zelador Cleveland Heep) somado à linda e insuperável ninfa Bryce Dallas Howard (a futura Gwen Stacy de Homem-Aranha 3, a Grace de Manderlay, e a cega de A Vila, não por acaso, outro Shyamalan).

Como já havíamos alardeado aqui, antes da estréia do filme, o roteiro de A Dama na Água vem de uma história que o diretor certa vez contou às filhas. Daí que ele gostou tanto da reação das filhotas que resolveu roteirizar e produzir a empreitada. Claro, tinha que haver um personagem para ele (como, aliás, em todos os seus filmes anteriores, indo um pouco mais além do que Alfred Hitchcock, que fazia apenas as suas carismáticas performances de figurante de luxo, sem texto algum), mas a fábula vertida para adultos da "narf", o que designa a ninfa do mar chamada Story (Dallas Howard), vira um perfeito RPG. As filhas do diretor devem ter adorado as bobagens que ele inventou e alguma delas deve ter chegado à mesma conclusão que o nosso amigo, o sujeito rotundo e enorme.

Resumindo: como os homens e os seres das profundezas das águas (seria a famosa Atlântida?) se separaram por causa da intransigência dos primeiros, devido a guerras e mais guerras, os ditos seres desistiram – por um tempo – de tentar ajudar. Um belo dia, por causa do nosso mundo assolado por guerras iraquianas e afegãs, uma ninfa aparece numa piscina de um condomínio onde moram pessoas de costumes um tanto comuns, portanto malucos. A ninfa vem salvar os homens, e transforma tudo em volta. É um primor, uma fada, cheia das coisas mágicas. A principal delas – a moça é uma beleza, e fica uma tetéia enrolada numa toalhinha azul (óbvio!) ao se sentar dentro de um box de chuveiro, além de ficar a maior parte do tempo vestida apenas com uma camisa amarela que não sabemos como e por que ela arranjou, mas que é do guarda-roupas do zelador Cleveland Heep. A partir daí, a história vira um fuzuê, um samba do crioulo doido, pra ser mais exato.

Outro que ficou a dever pro filme, com exceção de alguns momentos, foi o diretor de fotografia de A Dama na Água, Christopher Doyle. Sem se saber lá por quê, mas havia uma pilha de planos (os chamados takes) com estranhas desfocagens, estranhas porque desnecessárias, além de enquadramentos onde não se mostra exatamente quem fala, ou não são mostradas reações importantes de personagens que estão em foco neste ou naquele momento. Outra coisa – o condomínio tem um nome, "The Cove", que o montador do filme quase esquece de colocar na edição final, e jogou num momento lá qualquer, um troço meio perdido. Coisa estranha. Por outro lado, o fotógrafo acerta no tom azulado, perfeito para o filme, além dos belíssimos closes, um festival de closes da linda Bryce Dallas Howard, que aliás está com 25 anos, é filha do diretor Ron Howard (Uma Mente Brilhante; O Código Da Vinci; Apolo 13) e está grávida de cinco meses, do ator Seth Gabel (da série Nip/Tuck e de O Código Da Vinci). A gravidez foi anunciada no início de agosto, em Londres, na estréia do filme na Inglaterra.

Deixando os bebês de lado e voltando para as ninfas aquáticas, o filme de M. Night Shyamalan tinha tudo pra ser uma delícia, não fosse a tremenda repetição de situações – como a estranha história das "narfs" sendo contada sabe-se lá por quê, pela mãe coreana de uma óbvia garota de programa. Nelson Rodrigues já dizia que uma mesma piada só funciona até a terceira vez em que é apresentada. Tá certo que a platéia reage, ri, namoradas se abraçam aos namorados por ficarem com medo dos "scrunts" (ui! Essa deve ter assustado as filhas de Shyamalan!), que são as criaturas feitas de capim, doidas para darem um fim à nossa linda ninfa. O rotundo e enorme rapaz que adivinhou uma das chaves do filme (aliás, uma bobagem sem tamanho) deve ter apreciado, também.

James Newton-Howard, o compositor da trilha (que trabalhou em todos os filmes anteriores de Shyamalan), também é aplicadinho, faz a sua parte, uma vez que tem tarimba e experiência suficientes para dar o toque necessário - seja de tensão, seja de ternura. Na ternura, por sinal, há momentos em que sua música pesa, exagera um pouco e até desnecessariamente. Se foi ele o diretor musical da película, jogar Doris Day cantando Secret Love valeu pela beleza da faixa, mas é o tipo de coisa que fica tão de fundo que quase não se percebe. E Bob Dylan também tem várias faixas contempladas em alguns momentos de A Dama na Água. Pra se ter uma idéia de quem é James Newton-Howard, basta lembrar da música de King Kong e Batman Begins, dois sucessos recentes.

Finalizando, para alegria das platéias ávidas por bobagens feitas com a categoria de Hollywood, bem como o sujeito rotundo e enorme a uma poltrona de mim, fica a lembrança de uma película cuja idéia tinha tudo pra dar certo. Mas que será esquecida em breve. A crítica norte-americana desceu a lenha nesse novo Shyamalan, da mesma forma que fez com A Vila. A Disney também não se fez de rogada. Viu que Shyamalan, que já roteirizou filmes infantis como O Pequeno Stuart Little, estava com A Dama na Água prontinho para ela, sob medida. Os múltiplos problemas de roteiro que só os executivos da produtora enxergaram (e estavam cobertos de razão), fez com que o diretor-roteirista-ator-produtor fosse pegar o seu banquinho, sair de fininho com o rabo entre as pernas e cheio dos orgulhos, e bater na porta da Warner, que bancou esta produção com censura de 13 anos. Ponto para a Disney. E o nosso pontinho particular vai para a beleza indubitável de Bryce Dallas Howard.

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