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Crítica: V de Vingança
Por Eloyr Pacheco
07/04/2006

Hugo Weaving em V de Vingança

Dois anos depois de Alan Moore e David Lloyd iniciarem a publicação em capítulos semanais de V de Vingança na revista inglesa Warrior, o livro 1984, escrito em 1948 por George Orwell, ganha uma nova adaptação para o cinema. Uma pequena referência cinematográfica da década em que Margareth Tatcher comandava a Inglaterra.

Em 1983, com o cancelamento da Warrior, a série V de Vingança foi interrompida e só seria concluída em 1988, quando a DC Comics contrataria a dupla de quadrinhistas e viria a publicar a série em 10 edições. No Brasil, V de Vingança foi publicada pela primeira vez em cinco edições lançadas entre 1989/1990, pela Editora Globo e republicada em 1999, em dois volumes, pela Via Lettera. Este mês a Panini lançará a obra em um único volume.

A máscara utilizada por V é inspirada em Guy Fawkes, o mártir da conspiração que, em 5 de novembro de 1605, planejava explodir o Palácio de Westminster, sede do Parlamento Inglês. Os ingleses ainda hoje comemoram o Dia de Guy Fawkes. Muito resumidamente, V de Vingança, dirigido por James McTeigue e roteirizado por Andy e Larry Wachowski, narra a história do mascarado conhecido apenas por V (Hugo Weaving) e de Evey (Natalie Portman), jovem que ele salva num dos becos escuros de uma Londres dominada por um regime totalitarista em um futuro próximo. Convivendo com V, Evey conhece as várias faces deste homem misterioso: às vezes beirando a insanidade, noutras citando obras clássicas da literatura e, em outras, matando sem piedade.

Hugo Weaving, com a impossibilidade de usar suas expressões faciais devido ao uso da máscara, se supera ao utilizar somente as expressões corporais e pequenos movimentos, algo que o ator traz do teatro, sua escola. A iluminação também ajuda a criar “expressões faciais” na máscara que sempre sorri. Natalie Portman evolui a cada novo personagem que encara, desta vez se mantém firme mesmo na cena (amplamente divulgada através de fotos e mostrada no pôster) em que sua cabeça é raspada. Destacam-se também as interpretações de John Hurt, no papel do Chanceler Suttler (propositalmente caricato, embora às vezes exagerado); Stephen Fry, fazendo o apresentador de TV Gordon Dietrich (sempre num ritmo mais lento que os demais personagens) e Stephen Rea, como o inspetor-chefe Finch (taciturno). Hurt e Fry, numa cena cômica que não está na HQ, fazem um programa de TV onde o chanceler é convidado do apresentador e satirizado diante dos expectadores. Interessante como V de Vingança mostra a TV como ferramenta de manipulação de massas (quando utilizada pelos “ditadores” e mesmo pelo próprio V em seus manifestos) e também como veículo de liberdade de expressão, no caso da mencionada cena cômica.

V de Vingança opta por um roteiro mais simples que o da História em Quadrinhos e com menos personagens, mas mantém seu espírito libertário – panfletário, por que não? –, o que o torna fiel ao trabalho de Alan Moore, que mais uma vez não permitiu que seu nome fosse vinculado ao filme. Roteiro, aliás, que Moore tem criticado abertamente. O press book distribuído pela Warner para a imprensa contém informações de que a primeira versão dos Irmãos Wachowski era bastante fiel à obra de Moore, mas, com as revisões, personagens foram excluídos ou amalgamados. Uma das maiores diferenças é o envelhecimento de Evey, que na HQ tem apenas 16 anos.

Embora umas poucas situações não funcionem, como, por exemplo, V explicando os anos que perdeu para arrumar sozinho os trilhos de um metrô desativado, o filme mantém o expectador atento o tempo todo ao que está acontecendo na tela. A cena mais famosa do longa-metragem e, sem dúvida, a de maior beleza plástica, é a “marcha dos Vs” que ajuda o público a interpretar a grande pergunta do filme: “-Quem é V?”. Somente em duas cenas “os três companheiros de Matrix” (McTeigue foi assistente de direção em Matrix) não se contém e utilizam efeitos especiais que não precisariam ser utilizados. Mas isso não prejudica nem compromete o resultado final de V de Vingança, que merece respeito – e não simplesmente ser apontado como um filme “perigoso” sem maiores justificativas – pela coragem de, pelo sagrado direito de liberdade de expressão, apresentar e debater temas polêmicos como: até que ponto um ato terrorista é válido em defesa da liberdade? Talvez essa seja a verve do filme.

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