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Bira em Londres - o Museu do Cartum
Por Bira Dantas
31/05/2006

Bem, pessoal, estive no Reino Unido. Fui passar 21 dias com minha mulher, Cláudia, minha filha, Thaís, e minha sogra, Dirce. Fomos encontrar Alice, minha enteada, por lá. De quebra, encontrei meu colega british-brasileiro de HQ, Sam Hart e desencontrei o argentino-british Oscar Grillo, ambos ilustradores de dotes fantásticos.

Londres é uma cidade incrível. Aqui tem tanta gente de várias partes do mundo, que acabam pintando matizes diversos em uma cidade que, durante tanto tempo foi exatamente marcada pela exportação da diversidade da cultura, do pensamento, dos hábitos. Coisas da vida cosmopolita. Ficamos hospedados no Notting Hill Hotel. É claro que fomos em vários lugares carimbados pelo turismo, o que nos rendeu dezenas de horas de caminhadas a pé, de metrô e ônibus. Fomos ver a troca de guardas do Palácio de Buckingham, andamos de Barco no Thames, andamos na Roda Gigantesca London Eye e fizemos piquenique no parque ao lado do museu com a exposição do Dali. Tem um Bar chamado Café Manga, que está promovendo um evento de animação japonesa. Fomos ao Parlamento, a feira em Camden Town, fotografamos o Big Ben, National Gallery, British Museum, Museu de Cera Madame Toussaud...

Fachado e a vitrine do Museu do Cartum em Londres

 

 

 

 



Mas o principal foi o Museu do Cartum, claro que depois fui ao Brittish Museum, que fica na rua de trás... Ele está situado em dois andares de um prédio muito simpático na rua Little Russel, 35. Estes dois andares cobrem 250 anos de muita criatividade e combatividade no humor britânico. O Museu foi fundado em 1988, mas está de casa nova e definitiva desde fevereiro deste ano, onde conta com a galeria Calman de exibições temporárias (onde estão expostos os cartuns Marte nos olhos deles), a exposição permanente de 750 originais que cobrem mais de dois séculos de Cartum, a de Histórias em Quadrinhos (andar superior), curso de Cartum e HQ (com o Professor Colin Pillinger) e a biblioteca com cerca de 3.000 livros e revistas (o BiraZine faz parte do acervo agora!) e a loja de venda de livros e cartões/cartuns.

A seleção de cartuns se divide em:

Era Dourada (1770/1830)
Trabalhos de John Nixon, George Woodward (que influenciou o traço do magnífico Searle), Henry Bunbury, James Gillray (publicado em livros de história até no Brasil), Raul Pry, Thomas Rolawdson, Richard Newton, Robert Dighton e os irmãos George e Arthur Cruikshank.

Revista Ilustrada (1830/1914)
Com a crise advinda de reformas políticas, o governo proibiu os cartuns satíricos. Mas mesmo com toda a censura, foi fundada a revista Punch, que abrigou os mais ácidos cartunistas da época. Em 1843, com a censura abrandada, o Parlamento criou um concurso de cartuns para decorar o prédio do Congresso (onde fica o Big Ben) e a exposição foi chamada de Sombra e Substância. John Leech e Tenniel foram cartunistas soberbos. Ape trabalhou com Leslie Ward (Spy), que foi o cartunista mais produtivo da revista Vanity Fair. Alem deles, marcaram essa época Charles Keene, Francis Goul, Brece Bairnsther e Will Dyson.

Tempos Modernos (1914/61)
Na Primeira Grande Guerra, os cartunistas ingleses abraçaram a causa da Tríplice Entente (Império Britânico, França, e até 1917 Rússia, e depois de 1917, EUA) que derrotou a Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano). A guerra causou o colapso de quatro impérios e mudou de forma radical o mapa geopolítico da Europa e do Oriente Médio. Nesta época brilharam traços que me lembraram o de muitos cartunistas brasileiros. Olaf Gullbransson (que lembra muito o traço do ítalo-brasileiro Lan), Leslie Illingworth, David Low (me lembrou a ótima Conceição Cahu) e Sidney Strube (o do genial Otavio, pai do Novaes), alem de Fougasse (com seus traços minimalistas) e William Robinson (com um desenho inventivo, usa e abusa da linguagem do desenho animado), Norman Thelwell (lindas aquarelas, me lembraram o Dacosta).

A Nova Sátira (1961/2006)
Aqui brilham monstros sagrados como Giles, Trog, John Glashan, Michael Folkes, Ronald Searle, Gerald Scarfe (que fez as animações de Pink Floyd, the Wall), Ralph Steadman (ambos com um trabalho similar, fortes pinceladas, cores exuberantes, crítica mordaz, caricaturas distorcidas, influenciaram muito o trabalho do brasileiro Cássio Loredano), Chris Riddell, Dave Brown, Charles Griffin.

Os Quadrinhos Ingleses (1884)
Mike McMahon, Jamie Hewlett, David Parkins, Dave Gibbons, Alan Moore, Kevin O' Neil, Brian Bolland, John Burnes, Frank Dickes, Charlie Peattie, Posy Simmonds, Steve Bell, John Ryan, David Loyd (V de Vingança), Brian Talbot e Hunt Emerson (Gato Firkin). Logo na escadaria damos de cara com Andy Capp (Zé do Boné) e Flo, astros das tiras britânicas em todo o mundo. Temos também trabalhos de estrangeiros como Carlos Ezquerra, Uderzo (Asterix), Sy Barry (Fantasma), Jesus Blasco, Jack Kirby, Chester Gould, entre tantos outros. Uma ode às tiras em quadrinhos do mundo inteiro.

Se não bastasse tudo isso, ainda temos uma sala de vidro com uma instalação em 3D e com movimento chamada Self Going Golf Machine. O engenheiro e cartunista genial Rowland Emett projetou e construiu a engenhoca, muito engraçada e com todo tipo de surpresas (à la Professor Pardal). No site do Museu do Cartum vocês poderão ter acesso a mais detalhes da história do Museu, que me deixa feliz de novo ao ver que a história do Cartum e dos Quadrinhos é respeitada por órgãos públicos, políticos e pela população.

Enquanto isso, no Brasil, jornais como a Folha de S. Paulo, recuam em seus avanços gráficos. Com a máscara de "reformulação do projeto gráfico" corta ilustrações e reduz uma característica que o diferenciava dos outros jornais: o bom-trato com o conteúdo e a forma de sua apresentação gráfica. A Folha comete absurdos também em seu Concurso. Convocou abertamente chargistas, tiristas e ilustradores de todo o país, para depois dizer que era só para os iniciantes, além de dizer que os trabalhos enviados na categoria cartum e charge não tinham originalidade para serem premiados. Pobreza, arrogância e incongruência sem limites. E o que falar do nosso MAG (Museu das Artes Gráficas)? Depois de fechado pelo governo tucano do "Picolé de Xuxu", foi prometido para outra administração tucana, a de Piracicaba. E nada. Ficamos a ver navios e a ser desrespeitados... mas, não calados!

Ubiratan Libanio Dantas de Araújo, chargista, cartunista, quadrinhista e ilustrador brasileiro. Apesar de tudo, com muito orgulho, sim senhor!

 Do mesmo Colunista:

O Sétimo Encontro Internacional de Quadrinhistas e Cartunistas na Coréia

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