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DQB: é hora de lutar pelo quadrinho nacional!
Por Marcio Baraldi
20/04/2011

O site Meu Herói, capitaneado pelo cartunista carioca Fernando Rebouças, cansado da situação de mendicância dos quadrinhistas brasileiros, lançou o projeto DQB -Democracia no Quadrinho Brasileiro. Um projeto que visa provocar o debate entre a categoria dos quadrinhistas brasileiros em busca de um mercado real para o Quadrinho Nacional. Através do site e de sua lista de discussões, a categoria debate os problemas da HQB e as possíveis soluções para eles. Como fazer para se ter finalmente uma indústria de Quadrinhos no Brasil que sustente seus trabalhadores, os produtores de HQs? Será preciso uma legislação para isso? Uma proteção de Mercado? Será que os quadrinhistas brasileiros são inferiores aos estrangeiros? Será que os editores são os vilões da história? Será que os críticos ajudam o tanto que poderiam ajudar? Por que no passado isso não deu certo? E agora, será que pode dar? Essas e outras questões merecem e precisam ser discutidas, inclusive com a presença de membros das duas associações de classe que possuímos, a AQC e ACB. Muitos profissionais, cansados de tanta inércia e imobilismo que dominam a categoria, já estão se manifestando, como o valoroso cartunista mineiro Cleuber Cristiano, criador da série Arroz Integral.

Leiam todos sua carta de convocação a categoria, reflitam bem e depois, tratem de participar dos debates, acessando o site Meu Herói. O cinema nacional já conseguiu sair do atoleiro de mediocridade e abandono em que viveu as últimas decadas e voltou a ser uma mídia de massas com qualidade e alta produção. Agora, só falta o Quadrinho Nacional! Ou como diria Rita Lee, "Agora só falta você!". Chega de reclamar, participe!

Em defesa de um mercado de quadrinhos brasileiros
Por Cleuber Cristiano

Companheiros e companheiras de profissão,

Anuncio e convoco a todos sobre o nascimento de um movimento que visa lutar pela soberania do quadrinho nacional, denominado: ‘‘Democracia ao Quadrinho brasileiro’’. Criado recentemente pelo cartunista Fernando Rebouças, juntamente com Elenildo Lopes, Publicitário e Administrador do site e que tem todo meu apoio para sua realização.

Há muitos anos que nosso quadrinho e a grande parte de nossos profissionais, respiram as espreitas num mercado totalmente monopolizador. Para que possamos triunfar em nossa luta contamos com o apoio maciço de todos vocês.

O sonho de ver legítimos quadrinhos nacionais nas bancas, livrarias e em todo país não vem de hoje. Ainda na década de 60, vários artistas fizeram um movimento que propunha a publicação de 66% de material nacional. O projeto de 1961 foi feito no governo de Jânio Quadros com a proposta chamada ''lei dos dois terços'', mas, infelizmente, não foi aprovado devido a renuncia de Jânio e depois pelo exílio de Jango, o que sucedeu o período da ditadura militar.

Queremos reativar essas idéias, queremos lutar por nosso quadrinho e nossa cultura. Através destes pensamentos surgiu o movimento DQB. Sabemos que a luta é grande e desigual, mas não podemos nos esmorecer diante do inimigo. Estamos conquistando apoios nos quatro cantos do país, e esse objetivo revolucionário nos une. Devemos prosseguir no nosso caminho, sem pestanejar, conquistando o apoio da imensa maioria do povo brasileiro. A luta não é só pelo quadrinho nacional, ela significa a libertação de nosso povo diante da cultura inútil dos estrangeiros e significa também a soberania da cultura de nosso povo e de nossa história.

Devemos sim nos apoiar em todos os meios de propaganda para inflamar nossos ideais. Buscar espaços na mídia televisiva, apoio de todos os setores artísticos, espaços na imprensa e no rádio. Utilizar todas as ferramentas disponíveis da internet, todos os sites e blogs que têm apreço pelo quadrinho nacional. Devemos mobilizar as editoras, as academias de letras, os grupos de luta popular, as associações, as universidades, os salões de humor, os eventos de premiação de quadrinhos, enfim... Devemos convocar o povo para mais uma luta.

Proponho que os quadrinhos americanos tenham a menor porcentagem de mercado. Os quadrinhos europeus e latinos tenham a maior porcentagem no espaço reservado aos importados. E nossos quadrinhos brasileiros ocupem a maior porcentagem de mercado dentro do país. Creio que essa divisão a seguir atenderia nossa luta:

- 60% de quadrinho nacional;
- 30% de quadrinhos europeus, latinos e asiáticos;
- 10% de quadrinhos americanos, africanos e orientais.

A luta não é só para dar mais oportunidades de mercado para nossos artistas, mas também para valorizar nossa cultura e nossa história. De nada vai adiantar toda essa mobilização para que, no final triunfante, nossos artistas repitam estupidamente os temas e estilos estrangeiros. O grande propósito de toda essa luta é: Valorizar nossa história, nosso povo e nossa raiz. Precisamos de histórias nas bancas que falem de nossa cultura, nossos povos, nossos heróis e nossas batalhas populares. Histórias que retratem, por exemplo, a Inconfidência Mineira, Guerra de Canudos, Guerrilha do Araguaia, Resistência de Corumbiara e tantas outras. Que nosso quadrinho sirva para a formação de uma sociedade mais culta e mais valorizada. Que fortaleçam a nossa identidade nacional. Que nossos super-heróis sejam tipicamente brasileiros, que possamos propagar nossa linda história nas páginas de quadrinhos, ajudando na formação cultural/educacional do ser humano. Que possamos formar leitores conscientes de nossos valores assim como fizeram os nossos artistas no passado, e que alguns ainda fazem no presente. Verdadeiros guerreiros de nossa história, que não se abateram mesmo diante de todas as improbabilidades de mercado.

A cultura enlatada de nada serve para nosso povo a não ser para ‘globalizar’ um estilo de vida fútil e estéril. É nosso dever, enquanto artistas e enquanto brasileiros, defendermos a nossa cultura.

Deixo claro que estas palavras não são uma imposição, estamos abertos a opiniões. Nossa luta é para servir a nossa classe, ao nosso povo e à nossa cultura. Não receamos ter apontadas e criticadas as faltas que cometemos. Se aquilo que propusermos beneficiar nosso país agiremos de acordo com a proposta.

Se o artista não deseja produzir trabalhos referentes à nossa cultura, que não o faça, faça ficção científica, ou qualquer outra coisa do gênero, mas que jamais beneficie a cultura dos mercados opressores vindos de fora.

Sei bem que não teremos unanimidade de apoio por parte dos nossos próprios artistas, o que me entristece, porque nossa bandeira é para todos os profissionais do ramo, mesmo aqueles que não estarão na luta. Há profissionais que se contentam em vender, pelas ferramentas da internet, de mão em mão ou de boca-a-boca, mil ou dois mil exemplares de suas edições. Muitos acreditam que este é o nosso mercado, se nivelando por baixo, sem maiores sonhos e perspectivas.

Muitos outros profissionais que já venderam ou vendem relativamente bem seus trabalhos, crêem que se eles conseguiram todos podem conseguir, e nada fazem para ajudar ao próximo. Com suas idéias egoístas e reacionárias acusam os profissionais de preguiçosos por não tentarem o mesmo. Pois digo que estes pensamentos não passam de idéias vindas de uma mente comprada pelo sistema burquês-capitalista que nos ensina á décadas a sermos individuais. Para mim estas atitudes de ego são idênticas aos pensamentos burgueses dos latifundiários que no conforto de seu lar não se importam com milhares de brasileiros que não tem onde plantar, comer ou morar.

Outros artistas dizem que nossos quadrinhos não atendem ou satisfazem o gosto do leitor e que não são comercialmente aceitáveis por parte das editoras, pois relembro a todos os tempos áureos das revistas de terror brasileiras que vendiam mais que as importadas. Cito as edições de Pasquim que chegou ao excelente número de 200 mil exemplares por mês ou as vendagens de Chiclete com Banana, Strip Tiras, Níquel Náusea, Paralelas e tantas outras que foram, por anos, sucesso de venda e público. Nossos artistas são capazes não só de suprir as necessidades do povo, mas também de emplacar o mercado contra os estrangeiros, porém todos nós sabemos que lutar da forma que lutamos hoje contra os ‘enlatados’ é desigual. As editoras e distribuidoras formaram um esquema mafioso de distribuição que impedem que os artistas brasileiros entrem, ficando fadados a distribuição local e boca-a-boca, o que não nos permite competir no mercado. Temos que mudar esse quadro, pois já provamos por décadas que temos bons artistas, bons roteiristas e o mais importante, temos leitores.

Sobre as editoras, queremos abatimento nos impostos, não estamos pedindo isenção e sim uma redução para aquecer o mercado, pois de nada vale essa batalha se as editoras não tiverem uma vantagem em nos publicar. Sabemos que as editoras estrangeiras são uma verdadeira indústria. São recrutados centenas de profissionais para editar uma só revista. Aqui no Brasil, ao contrário, o próprio desenhista é quem escreve, desenha, colore e distribui seus trabalhos, sendo inviável sua produção em larga escala e sua competição no mercado. Por isso precisamos de uma redução de impostos para que, além das editoras conseguirem nos publicar, consiga derrubar o monopólio estrangeiro. Nossos artistas precisam ser distribuídos e ter condições dignas de produzir seu trabalho. Mesmo diante dessa problemática nossos artistas sempre deram conta de produzir, mesmo tendo que dividi-lo com outras tarefas que lhes põem comida na mesa.

Imagine se todos estes artistas pudessem trabalhar unicamente para o quadrinho? Viver efetivamente dessa profissão? Alguns artistas contratariam pessoas para duplicar suas produções, como fez Maurício de Souza nos estúdios da turma da Mônica, o que seria bom, pois gera emprego. Mesmo assim acredito que conseguiríamos dominar mensalmente o mercado sem precisar de grandes indústrias humanas. Ninguém está pedindo clemência ou se escorando no governo, estamos reivindicando um direito, o direito da soberania do quadrinho brasileiro. Todos nós pagamos impostos e é de nosso direito lutar por nosso mercado. O governo teria certamente mais lucros na área comercial e teria um povo ainda mais aculturado.

Não estamos pedindo ajuda financeira para o Estado e sim espaço de mercado. Não precisamos que os quadrinhos americanos dominem 90% do nosso mercado, precisamos que nós o dominemos. Não precisamos passar pela humilhação de buscar recursos por leis federais e estaduais de incentivo a cultura, essas leis nada mais é que uma ironia cruel com nosso artista, que precisa mendigar favores para empresas que pouco estão se lixando para a cultura e sim pelo abatimento de impostos. Não podemos escorar em campanhas políticas ou utilizar do nepotismo ou amizades políticas para vermos nossos trabalhos nas bancas. Isso tem que acabar, o artista brasileiro merece ser dignamente valorizado, seja em qual setor for.

Convoco todos os brasileiros, artistas ou não, a lutarem pela soberania da nossa cultura e deixo um pensamento de Mao Tsetung para que seja nossa força de luta.

‘‘Que nos momentos difíceis os camaradas não percam de vista os nossos sucessos, olhem para o nosso futuro luminoso e redobrem a coragem’’.

* Cleuber Cristiano, Quadrinista brasileiro

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