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Lash Larue, o Don Chicote
Por José Pinto de Queiroz Filho
13/03/2011

O cowboy Lash Larue tornou-se extremamente popular nos EUA, tanto como personagem de HQs quanto de filmes, onde era vivido pelo ator Alfred LaRue. Curiosamente, o prestígio que obteve no Brasil, onde era conhecido por Don Chicote, resultou somente de suas histórias em quadrinhos, pois, nenhum filme do ator foi exibido no país.

O personagem parecia mais um gângster do que um herói. Usava um uniforme negro e tinha o chapéu levantado ligeiramente do lado direito. Sua arma principal era o chicote que trazia pendurado nas mãos. Daí o nome Lash (Chicote), que projetou sua imagem na tela e nos quadrinhos de forma diferente de seus contemporâneos.

Alfred LaRue começou a carreira de ator, em filmes de faroeste, no papel de bandido. Em 1945, a Producers Releasing Corporation (PRC) produziu um filme chamado Song of old Wyoming, estrelada por Eddie Dean, o último cowboy cantor. Nele Alfred atuou como o bandido “Cheyenne Kid", que no fim do filme regenerava-se e unia-se ao herói, Eddie Dean, para defender a lei e a ordem.

Seu uniforme negro causou “frisson” na platéia, principalmente entre as crianças, tornando-o popular e aumentando a receita das bilheterias. O sucesso foi tamanho que volumosa correspondência de fãs foi enviada a PRC exigindo mais filmes com Cheyenne. A produtora decidiu atender aos pedidos dos fãs e ele retornou no ano seguinte, novamente ao lado de Eddie Dean, no filme The Caravan Trail. O seu nome mudou para  Cherokee mas o uniforme e o perfil do personagem eram os mesmos. Ainda em 1946, coadjuvou Eddie Dean em outro filme, Wild West (Oeste Selvagem). Desta feita, o nome de seu personagem foi Stormy.

Sua popularidade disparou, obrigando a PRC a produzir série própria, em 1947. Ele que havia sido Cheyenne Kid em oito filmes anteriores tornou-se o rei do chicote na película Law of the Lash. Seguiu-se Return of the Lash, com o mesmo perfil; entretanto, em algum lugar no caminho, o “Kid“ transformou-se em Cheyenne Davis. Todos esses filmes foram produzidos por Jerry Thomas (que tinha trabalhado na série de Eddie Dean) e dirigidos por Ray Taylor.

A co-estrela de LaRue era Al “Fuzzy” St. John, um dos Side-Kicks (ajudantes de heróis) mais engraçados dos filmes de faroeste. Na era silenciosa, Fuzzy tinha feito filmes policiais na produtora Keystone, e tinha obtido sucesso numa série própria de curtas metragens. Também havia trabalhado com muitas estrelas do Western, tais como, Bob Steele, Bob Custer, Bill Cody, Tom Tyier, Rex Bell, Fred Scott, Lee Powell, Buster Crabbe, George Houston e Bob Livingstone.

Em 1948, os filmes de faroeste entraram em declínio e os orçamentos foram cortados em todos os estúdios. A PRC entrou em processo de falência e seus donos tiveram que abandonar o negócio. Mas LaRue continuou em outro estúdio. Logo estaria de volta em uma série nova (junto com Fuzzy), para Western Adventure Productions (WAP), produzida por Ron Ormond e dirigida por Ray Taylor.

Surge o Don Chicote

Nesta nova série, LaRue tornou-se Don Chicote e continuou representando o personagem pelo resto de sua vida.

Novos produtores, J. Francis White e Joy Houck, entraram em 1949. Ron Ormond assumiu como diretor e provavelmente produziu um dos melhores filmes de Don Chicote: King of the Bullwhip. Os B-Westerns eram notáveis pelas cenas de ação, mas a série de Don Chicote pecava pela reprodução repetitiva de cenas de filmes anteriores, com ângulos fotográficos redundantes e edição letárgica. Cenas, sempre parecidas, repetiam-se monotonamente.

Ainda assim, King of the Bullwhip tinha mais ação que a maioria dos western B, e certa criatividade que diferenciava a produção. Por exemplo, o bandido El Azote, que também usava um chicote. Ormond, fez várias cenas de luta com chicotes entre herói e bandido. Tais inventividades melhoraram bastante a qualidade das películas. Somou-se a isso o trabalho fotográfico que era incomum e bastante criativo. Don Chicote firmou-se como um herói do Oeste, diferente e sem igual.

Infelizmente, com os cortes no orçamento, o diretor se viu obrigado a utilizar, excessivamente, cenas de películas anteriores. Assim, cenas de filmes de Eddie Dean  como Wild Wets, foram utilizados em Prairie Outlaws, The Black Lash, exibido em 1952, e principalmente na produção de 1948, Frontier Revenge.

Quando o diretor Ormond  precisou fazer cenas novas em Black Lash, teve de conseguir, para o ator Jim Bannon, uma camisa semelhante à utilizada em filmes anteriores. Depois reutilizou as mesmas cenas em filmes posteriores, sem creditar Bannon.

O último filme da série Don Chicote, foi um pastiche de Outlaw Country de 1949. Com o título de The Frontier Phantom, LaRue fazia papel duplo – do herói e de seu irmão gêmeo – que também apareceu nos quadrinhos. O irmão gêmeo surgiu, primeiro, em Outlaw Country, e era chamado de O Fantasma de Fronteira. Este personagem retornou, junto com muitas inserções do filme anterior em Frontier Phantom.

Apesar desses entraves, LaRue tornou-se figura notável entre as lendas da tela. Don Chicote foi um dos últimos personagens importantes entre os cowboys do cinema. Entretanto, se ele tivesse sido um contratado da Republic Pictures, sob a direção de William Witney, sua estrela teria brilhado muito mais.

Ainda em 1949, a Editora Fawcett publicou o gibi Lash Larue, que perdurou até 1953. A revista continha HQs do personagem e fotografias do ator na capa e na contracapa. Curiosamente o ajudante Fuzzy não aparecia nos gibis. Depois a Charlton Comics assumiu o personagem até 1961. Foi um grande sucesso editorial, alcançando a marca total de 84 edições.

Mas, voltando ao cinema, no final de 1953, todos os grandes cowboys das matinês montaram os seus corcéis pela última vez e desapareceram no horizonte do tempo. Don Chicote fez filmes em 1947, 1948, 1949, 1951 e 1952 (mais os de Eddie Dean, em anos anteriores). No início de 1950, fez uma série de televisão intitulada Tales of Famous Outlaws (Contos de Bandidos Famosos), produzida por Ron Ormond e Western Adventure Productions, que retratava a lei e a ordem, à partir das aventuras de seu avô – avô do personagem - nos dias do velho Oeste. O A maior parte do espetáculo era composta de clipes de velhos Westerns. O programa era também conhecido como Lash of the West.

Durante um período LaRue tornou-se dependente de drogas, mas curou-se após rigoroso tratamento. Converteu-se a uma religião cristã, tornou-se pastor e passou a pregar a sua crença. Após a aposentadoria, frequentou festivais de cinema e encontros sobre quadrinhos. Sempre foi o primeiro a ser convidado. Comparecia sempre vestido à caráter, com o chicote nas mãos. Faleceu em 1996 levando consigo uma Era de glória para o gênero Faroeste. E o chicote não estalou nunca mais.

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