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Projeto HQCD ...e o som virou quadrinhos!
Por Gazy Andraus
12/05/2006

Histórias em Quadrinhos bem que poderiam ser “ouvidas” pelos olhos, e músicas, “vistas” pelos ouvidos. Afinal, cientificamente falando, tanto sons como desenhos são ondas vibratórias, com a diferença que as primeiras, sonoras, e as últimas, de luz: misturá-las seria sinestesia pura!

Mas o que aproxima a arte dos quadrinhos à música (e especialmente o gênero rock), ainda está para ser decifrado: muitos são os exemplos desta parceria, como o roqueiro Alice Cooper, que já virou personagem de HQ numa obra especial (A Última Tentação) em conjunto a Neil Gaiman. Diversos autores de quadrinhos são músicos, e alguns músicos são desenhistas: Simon Bisley e Robert Crumb são dois exemplos, além de outros que trabalham sob a audição musical, como Guido Crepax, Druillett e Edgar Franco. Igualmente, algumas transliterações de músicas para as HQs e vice-versa ocorreram: Mozart Couto verteu para os quadrinhos a faixa-título The Number of the Beast, do disco homônimo da banda Iron Maiden, e uma outra banda de heavy metal contemporânea, não tão conhecida, chegou a usar Wolverine como canção, incluindo vídeo-clipe promocional, apresentando nele, imagens do bestial herói.

Porém, o músico e quadrinhista Antonio Clériston de Andrade embarcou num projeto, no mínimo, ousado e interessante: o projeto HQCD... e o som virou quadrinhos, de sua autoria (com a Banda Dialógica), que consistiu em transformar em Histórias em Quadrinhos 16 canções suas. O projeto sinestésico foi lançado no fim do ano passado, de forma independente (sob auxílio do governo de Pernambuco e da Secretaria de Educação e Cultura). As letras das músicas mixam um estilo MPB com rock, numa agradável e feliz simbiose, contendo excelentes arranjos musicais e qualidade de gravação impecável. Clériston, além de também ser um dos quadrinhistas, convidou quinze outros autores (dentre os quais figuram Arnaldo, Cariello, Lailson, Mascaro, etc.), sendo que todos imprimiram um estilo pessoal em cada uma das canções quadrinizadas. Assim, o ouvinte-leitor tem três possibilidades de interação com o trabalho:

1- Pode apenas ler as Histórias em Quadrinhos do álbum, ou;
2- Pode ouvir exclusivamente as canções no CD que vem encartado no projeto (imaginando as cenas), e depois, ou ainda;
3- Ouvir o CD enquanto lê os quadrinhos (o ideal para uma melhor fruição do projeto), optando na escolha das faixas, ou deixando correr as trilhas no toca-CDs.

As letras foram transpostas de forma fiel, mas as concepções gráficas de cada História em Quadrinhos ficaram a cargo da criatividade dos respectivos autores. A variedade de artistas impingiu uma gama versátil de estilos, desde o realismo, ao caricaturismo, chegando quase ao abstracionismo, em esfuziantes quadrinhos coloridos e em preto e branco. O álbum tem uma apresentação espiralada, e o CD vem embutido num envelope dentro do fascículo, contemplando uma caprichada produção gráfica. Um trabalho diferente, em que Clériston e toda a equipe de músicos e quadrinhistas merece apoio e reconhecimento, pois não é sempre que trabalhos de tamanha qualidade reúnem, num mesmo pacote, músicas tão visuais, e quadrinhos tão sonoros, como os que aqui são vistos e ouvidos, enriquecendo sobremaneira o universo intrigante e fascinante das Histórias em Quadrinhos e da música.

O cientista cognitivo Steven Pinker chegou a considerar em seu livro Como a Mente funciona que, embora a música não tenha uma função objetiva justificável e lógica para a existência da raça humana, paradoxalmente, existe uma necessidade premente da audição musical (e sua fruição prazerosa), como um provável deleite da mente em restabelecer um certo equilíbrio necessário, o qual ainda está para ser desvendado pela ciência. Assim, é bem possível rebater este argumento às imagens dos desenhos, principalmente os das Histórias em Quadrinhos: a mente precisaria igualmente da fruição dos desenhos, que estimulariam o cérebro por meio da visão, através das ondas visuais impressas que preenchem o branco do papel com representações gráficas personalizadas, como o fazem os músicos ao criarem os sons organizados no espaço, antes silencioso. Assim, o Projeto HQCD não é apenas mais um trabalho artístico, mas também um experimento necessário à mente dual humana. Clériston, o autor-maestro, executou bem este premente e essencial dialogismo sinestésico.

Projeto HQCD. Antonio Clériston de Andrade. Álbum (formato 21 x 28cm) e CD encartado. Pedidos para Clériston: cleristonhq@terra.com.br. Rua Neto Mendonça, 165, apto. 301 - Tamarineira - Recife-PE -CEP 52050-100. Tels.: (81) 9252-3420; 3265-0338.

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