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Roberval: metalinguagem na metalinguagem
Gazy Andraus
09/12/2005

Roberval e seu filho como Capitão Trovão e Faísca


O universo do desenho e das Histórias em Quadrinhos (e tiras), é vasto, ilimitado e tão rico de variedades e personagens, quanto de autores. No Brasil, já é sintomática a publicação alternativa como forma legítima de expressão, tanto de amadores como de profissionais, mesmo que estes últimos não tenham muita penetração ou reconhecimento: afinal, o Brasil é imenso, e a todo instante surge um novo autor.

Mas a mega-revista Roberval n° 1, concebida por Mário Latino, não é apenas mais uma criação perdida em meio a outros inúmeros títulos. Primeiro, porque o próprio autor, nascido em 1957 na Nicarágua, além de quadrinhista desde 1990, foi guerrilheiro antes disso, e lutou contra a ditadura somocista, tendo vindo ao Brasil ao final de 1980, após denunciar um esquema de corrupção que ocorreu no próprio exército. Visto assim, a própria história de vida do autor já é um roteiro cinematográfico e/ou quadrinhístico. Mas sua cria, Roberval, também reflete as várias facetas de Latino, desde que o personagem é um autor de tiras de quadrinhos, que, metalingüisticamente, recria vários gêneros, como os de super-heróis ("Capitão Trovão e Faísca": identidades secretas de Roberval e seu filho), "lutando" contra a injustiça na cidade de "Sanca City" (o autor de carne e osso morou em São Carlos).

Basicamente, Roberval nasceu como alter-ego de Mário Latino, numa mistura de "cartunista e escritor", como bem diz o próprio autor no texto de abertura da revista. O personagem, casado e com um criativo filho, se vê obrigado a dar vazão a suas idéias, em meio a uma vida partilhada com sua esperta e pragmática esposa Regina, caracterizada como contra-ponto aos devaneios de Roberval. A capa do primeiro número, no grande formato 33,7 x 25,2 cm (idêntico a uma fase do fanzine GrapHiQ, também lançado em fins de 1990 por Mário Latino), traz uma história em quadrinhos de Roberval, em que a metalinguagem serve para introduzir o leitor ao universo da revista, já que mostra o personagem explicando a gag da confecção de uma tira, e apresentando a seu filho outros dois personagens da revista - no caso, calcados no gênero faroeste.

A gama de informação e referência em Roberval é diversificada, e vai desde a técnica da construção de uma tira, aos meandros da editoração dos trabalhos de um profissional da HQ, à filosofia existencial, crítica social, história e referências à cultura pop - como quadrinhos, literatura, TV e cinema - misturando tudo com conceitos atuais, num cadinho rico e informacional de gags subjetivas (e objetivas), muitas vezes sutis, capitaneadas por um autor de vivências sólidas e muito conhecimento adquirido, tanto através de estudos, como pelas práticas profissionais em diversas áreas (Latino também é treinador de tae kwon do). Os traços dos desenhos são fluídos e mostram uma estética em contornos angulosos, e ao mesmo tempo "movimentados". As construções dos planos se diversificam, e o autor prefere, na maioria das vezes, representar as figuras humanas de proporções reais, embora mantendo certa caricaturização, além de desfilá-los de perfil, como se estivessem num palco teatral (Will Eisner sempre afirmou que as Histórias em Quadrinhos têm mesmo uma aproximação muito grande com o teatro, e Aragonés tornou-se famoso por suas seqüências e desenhos pantomímicos, que dispensam textos fonéticos).

Por tudo isso, Roberval tem potencial para continuar suas investidas na arte dos quadrinhos e tiras, e enquanto espera-se o segundo número do título, suas gags e metalinguagens podem ser lidas também nos sites Graphic Brasil, este de criação do próprio autor, e como colaborador no Ligazine.

Roberval pode ser pedida pelo e-mail mariolatino@yahoo.com, ou pela caixa postal 213, CEP: 08675-970.

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