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Arquivos Incríveis: Quadrinho Vivo, de Jô Fevereiro e Cia
Por João Antonio Buhrer de Almeida
24/04/2011

A Editora Alternativa, de São Paulo, publicou coisas bem interessantes ao longo de sua existência. Lembro do livro "Parque Industrial", importante livro sobre o Modernismo escrito pela famosa artista e feminista Pagu, que a editora lançou numa ótima segunda edição, em fac-símile. Ela também publicou um dos números da revista de literatura de vanguarda "Corpo Extranho", editada por Régis Bonvicino e Paulo Leminsk, além de publicar muitos pôsters. Até que, em determinado momento, a editora resolveu também se aventurar pelos quadrinhos. Conheço três exemplos dessa empreitada: "Quadrinho Vivo", "Habra Quadrabra" e "Coleção Alternativa de Cartuns e Quadrinhos". Vou abordar aqui neste Arquivos Incríveis a revista "Quadrinho Vivo", que, no fundo, era um gibi no estilo underground, produzido no final dos anos 1970 e publicado em maio de 1980. Foi um gibi muito bem editado e impresso em ótimo papel, tudo bem profissional. Uma revista que poderia ser colocada nas bancas ao lado das melhores revistas das grandes editoras da época. Pois bem, a equipe que produziu esta preciosidade foi Josmar (que depois mudou seu nome para Jô Fevereiro e se tornaria um dos grandes artistas gráficos do Brasil), Cláudio Rocha (que depois iria criar a revista de tipologia e arte "Tupigrafia"), e Fábio Mestriner. Para saber mais sobre esta pequena jóia underground da HQB, corri atrás do próprio Jô Fevereiro, que tratou de me fornecer  informações:

 "Olá, João, Louvo a sua iniciativa de divulgação do nosso trabalho após tantos anos de publicado. Vou esclarecer as dúvidas que levantou: Eu, o Cláudio e o Fábio formávamos um grupo independente da editora, à qual apenas pertencia o Cláudio Rocha, que era um dos sócios da Alternativa. Toda a edição das nossas revistas era feita apenas pelos três, coletivamente. Nessa época o Cláudio era recém-formado em editoração pela USP, onde foi aluno da Sônia Luyten. Eu era diretor de arte e sócio de uma pequena agência de publicidade e o Fábio fazia tiras para vários jornais do país todo e tinha ministrado um curso de roteirização de quadrinhos na Associação dos Artistas Gráficos, onde fazia parte da diretoria. Nos conhecemos os três nesse curso, tendo eu e o Cláudio sido alunos do Fábio. A editora Alternativa assumiu nossas revistas "pro forma", apenas para evitar problemas fiscais e facilitar a colocação nas bancas. Ontem, revendo página por página da Quadrinho Vivo que você me enviou por email, me detive na do editorial e lembrei do contexto em que foram feitos aqueles três retratos nossos. Estávamos reunidos na casa do Cláudio com todo o material pronto, cuidando do fechamento da revista. A única coisa que faltava era preencher o espaço vazio abaixo dos créditos e do editorial, mas não sabíamos o que colocar. Então sugeri que cada um fizesse o retrato de outro. A ideia foi aceita e sorteamos quem desenharia quem. Feitos os primeiros esboços, o do Fábio não ficou parecido com o Cláudio, pois o seu traço era muito estilizado. Acabei assumindo também o retrato do Cláudio. No meio do corre-corre, derrubei o vidro de nanquim no carpete branco da sala. Daí o retrato intencionalmente borrado que o Cláudio fez do "Capitão SPLASH". Com o Fábio nós brincávamos dizendo que ele desenhava galinhas com o "pé nas costas", porque sua série de tiras para jornal se chamava "O Galinheiro" e os personagens eram só galinhas. Os anúncios, tirando o da "Cortez", foram todos feitos à mão por mim. Algum tempo mais tarde, final de 1980, decidimos retomar a parceria e fazer um "upgrade" no "Quadrinho Vivo" partindo para um projeto mais ambicioso: "Quebra Quadrinhos", num formato que preconizava as futuras "Circo" e "Animal". Chegamos a elaborar o boneco da número zero, que ainda tenho, com histórias até hoje inéditas. As duas minhas que fazem parte desse boneco, estão postadas no meu blog: "Spektros e Pesadelos", roteiro e desenhos meus, que seria publicada na revista "Pesadelo" da Vecchi se ela não tivesse fechado, e "Oficina Nelsão", roteiro do Fábio e desenhos meus. O projeto foi engavetado porque veio a inflação galopante, o mercado ficou caótico, acabamos os três indo trabalhar na Imprensa Oficial do Estado por um tempo, a partir do qual cada um tomou seu rumo. Mas ainda nos comunicamos esporadicamente. "

Pois é. Aí está pelas palavras do grande Jô, a história deste gibi que, pessoalmente, considero o último suspiro da primeira fase do movimento do quadrinho underground no Brasil, aquele produzido nos anos 60 e 70 (auge desse Movimento). A partir da década de 80, outra geração surgiria, produzindo um Quadrinho underground que evoluiria para um trabalho mais autoral e personalizado, abandonado aquelas características e influências da primeira fase do movimento. Entre os principais expoentes dessa nova safra estão Angeli, Marcatti e Lourenço Mutarelli, entre outros.

Para conhecer mais do trabalho de Jô Fevereiro, e ver várias páginas de quadrinhos seus, entre eles um pouco deste "Quadrinho Vivo", visitem seu blog particular.

Veja a galeria de imagens de Quadrinho Vivo aqui.

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