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Por Elydio dos Santos Neto 11/04/2011
Ainda hoje discutimos o que significa uma história em quadrinhos brasileira. Edgard Guimarães, no seu livro “O que é História em Quadrinhos Brasileira” (Marca de Fantasia-2005), retoma o assunto mostrando concepções diferentes sobre “o que é história em quadrinhos legitimamente brasileira”. Pessoalmente considero que todo trabalho produzido no contexto brasileiro, ainda que com autores estrangeiros e temas universais, e que leve o leitor brasileiro a refletir sobre sua condição humana e brasileira (regional ou local) é uma história em quadrinhos brasileira digna de ser considerada, desfrutada, refletida, analisada e avaliada.
Imagine chegar então no jornaleiro da esquina, naquela banquinha pequena que possuía no máximo 50 revistas diferentes em seus cordéis, e mais de 20 títulos de jornais na bancada. Daí, encontrar preso por um prendedor de roupa em um barbante, um gibi chamado Ninja, o Samurai Mágico, estampado na capa, em close, um descabelado, com cara de bêbado, um espadachim com roupa estranha em destaque, e um selo editorial, com um garotinho desenhado no estilo do Gasparzinho. Você ficaria chocado, como ficaram todos naquela época. Pela primeira vez via- se um gibi que reunia em suas páginas todos os elementos das facções citadas acima. Um gibi que não se sabia se era de heróis, terror ou infantil e que trazia uma aventura da época do Japão feudal. A história narrada em ritmo de desenho animado, com muito mais quadrinhos por página do que estávamos acostumados a ver e cheio de personagens com nomes impronunciáveis. E além de tudo, tinha um roteiro absolutamente original. É. O mundo dos comics para quem teve a sorte de ler aquele gibi, lançado pela novata Editora Edrel, nunca mais poderia ser o mesmo.”. Ou como afirma Roberto Guedes, em seu livro “Os Super Heróis Brasileiros” (Opera Graphica, 2004): ”Minami Keizi foi, sem dúvida, um dos grandes pioneiros dos quadrinhos brasileiros. Mas, de acordo com ele mesmo, tratava-se de um ilustre desconhecido até meados da década de 1980, quando, então, seu nome começou a ser divulgado como o “primeiro desenhista brasileiro de estilo mangá”, ou como o “primeiro editor de quadrinhos eróticos do Brasi”, graças às extensas matérias feitas na Folha da Tarde pelo jornalista Franco de Rosa.”. É preciso acrescentar ainda que além dos motivos acima expostos, há também uma razão afetiva por este meu interesse. A Editora Edrel marcou uma parte muito significativa de minha adolescência, quando, morando na cidade de Pindamonhangaba, desejava ser desenhista de histórias em quadrinhos. De fato cheguei a ser aluno do Curso Comics de Desenho. Este curso era promovido pela Edrel e era por correspondência. Foi por aí meu primeiro contato com os trabalhos dos desenhistas Fernando Ikoma, Cláudio Seto, Paulo Fukue, Fabiano Dias, Roberto Fukue entre outros. Particularmente, naquele período, gostava muito da arte de Fernando Ikoma. Acompanhei também seus trabalhos quando colaborou como desenhista de algumas histórias do Judoka, herói favorito de minha adolescência. Até hoje guardo comigo o exemplar do livro “A técnica universal das histórias em quadrinhos”, de autoria de Fernando Ikoma, que adquiri e que percorri as páginas, não sei quantas vezes, fazendo e refazendo as lições que ele sugeria. Posteriormente meus interesses, por diversos motivos, tomaram outros rumos e eu me formei como professor e pesquisador na área de Educação. Neste caminho estou ainda hoje,feliz, mas, desejoso de poder aproximá-lo de minha paixão de adolescente. Paixão que não morreu e que parece ganhar, neste momento, condições para se expressar e amadurecer.
Quem foi Minami Keizi Minami Keizi foi jornalista, escritor, desenhista e astrólogo com colaboração regular no Jornal Nippo-Brasil. É hoje reconhecido como um dos grandes pioneiros dos quadrinhos brasileiros, principalmente por ser um dos primeiros e principais introdutores do estilo mangá no Brasil, além de ter colaborado para a constituição de novos gêneros de histórias em quadrinhos voltadas para o público adulto. Também ajudou, seja como editor e mesmo como desenhista, a abrir espaços para novos talentos e a formar desenhistas e roteiristas para as histórias em quadrinhos no Brasil. O reconhecimento de seu trabalho, no entanto, é bastante recente e um dos sinais que o expressam é o fato de Minami Keizi ter sido agraciado no ano de 2004, com o Troféu Ângelo Agostini na categoria de Mestres do Quadrinho Nacional, premiação promovida pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-SP) mediante votação aberta para diferentes categorias e com um Premio HQ Mix em 2008,também como mestre da HQB. Desde muito jovem, com apenas 21 anos, começou a trabalhar como editor e atuou em várias editoras. Foi um dos fundadores da Edrel que, entre os anos de 1960 e 1970, marcou forte presença no campo editorial dos quadrinhos, publicando, em grandes tiragens, histórias em estilo mangá, histórias eróticas, histórias adultas de caráter psicológico, histórias onde se mesclavam textos escritos e imagens da arte seqüencial (prenúncios das Graphic Novels que viriam posteriormente!), revistas de piadas, vários tipos de livros e ainda organizando um curso de desenho de histórias em quadrinhos por correspondência, o “Curso Comics”. Como já afirmei, colaborou também com o lançamento de novos artistas no Brasil, artistas que marcaram época e ajudaram a formar as novas gerações de desenhistas e roteiristas. Destaco, entre os vários, Cláudio Seto, Fernando Ikoma e Paulo Fukue. Escreveu mais de 800 livros, colaborou como astrólogo para o semanário Nippo-Brasil e também para diversos semanários do interior. Faleceu em 14 de dezembro de 2009, em Itapevi, na Grande São Paulo.
Vejam na próxima semana a entrevista que realizei com mestre Minami, em abril de 2006. Provavelmente uma das últimas que concedeu antes de falecer. |
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