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Augusto Boal |
O dramaturgo, diretor e ensaista teatral brasileiro
Augusto Boal, uma das maiores personalidades do Teatro mundial nos últimos 30 anos, faleceu no último sábado, 2 de maio, no Rio de Janeiro. O corpo de Boal foi cremado. A causa da morte foi insuficiência respiratória. Augusto Boal sofria de leucemia, e morreu aos 78 anos.
Conhecido e reconhecido internacionalmente como o fundador do revolucionário Teatro do Oprimido, Boal inspirou gerações em todo o mundo. Em suas práticas de ensino e utilização do teatro, Boal utilizou-se do Método Paulo Freire para que acontecesse uma transformação social através da arte. No método do Teatro do Oprimido, o público era transformado em ator. Boal foi o criador do sistema “coringa”, o que tornou possíveis inúmeras experiências cênicas. Foi muito utilizado no Teatro de Arena de São Paulo, do qual Augusto Boal foi um dos líderes e co-criadores (ao lado de José Renato). Nas palavras do próprio Boal sobre o Teatro do Oprimido: “O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-atores”.
Boal era formado em Qúimica pela UFRJ, nos anos 50. E enquanto fazia seu PhD em Engenharia Química, nos Estados Unidos, estudou Artes Cênicas na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Estudou também Dramaturgia na School of Dramatics Arts (também em Columbia), com o escritor e ensaísta de teatro John Gassner - que por sua vez foi professor de dramaturgos como Tennessee Williams e Arthur Miller. Nessa mesma época, Boal assistia às montagens teatrais do Actor’s Studio, de Lee Strasberg (que utilizava em larga escala o Método Stanislavsky). Sua primeira direção teatral, ao retornar para o Brasil, foi Ratos e Homens, uma versão da novela clássica do autor americano John Steinbeck. A montagem rendeu a ele o Prêmio Revelação da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte). Um dos livros mais importantes de Boal é 200 Exercícios e Jogos para o Ator e o Não-Ator Com Vontade de Dizer Algo Através do Teatro (publicado no Brasil pela Editora Civilização Brasileira) e foi vertido para várias línguas, reverenciado por diretores teatrais e professores de teatro importantes como o francês Jean-Pierre Ryngaert. Em março de 2009, Boal foi nomeado pela Unesco como embaixador mundial do Teatro, em Paris.
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Foto da montagem de Chapetuba Futebol Clube, com Flavio Migliaccio, dir.: Augusto Boal, 1959 |
Outras peças dirigidas por Augusto Boal no Teatro de Arena foram
Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri e
Chapetuba Futebol Clube, de Vianinha (Oduvaldo Viana Filho, o criador de
A Grande Família), ambas em suas primeiras montagens. O teatro de Boal, político num momento crucial para a História brasileira, ganhava corpo nos trabalhos do Arena, nos anos 60 e 70. Com a decretação, pela ditadura militar, do AI-5, em dezembro de 1968, Boal excursiona pelas Américas, vai também aos Estados Unidos. Chegou a trabalhar dramatizações a partir de notícias de jornal com grupos de alunos-atores. Monta peças como
Torquemada, em Buenos Aires, sobre a Inquisição, e esteve em países como o México e o Peru. Na volta ao Brasil, em 1970, é preso e torturado. Mudou-se depois para Portugal e finalmente para Paris, onde criou um centro internacional de pesquisa sobre as técnicas do Teatro do Oprimido.

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Show Opinião (Zé Ketti, Nara Leão e João do Vale) |
O importante espetáculo
Opinião passou para a História como um importante baluarte e ato de resistência ao golpe militar de 1964 também foi dirigido por Boal. No palco e nas músicas, estavam nomes como Zé Ketti, Nara Leão e João do Vale. Nara seria mais tarde substituída por Maria Bethânia. A proposta do show partiu de autores como Vianinha, Paulo Pontes e Armando Costa, todos do CPC da UNE (o Centro Popular de Cultura), que foi colocado na ilegalidade pelos militares. Boal é também autor de várias peças, entre elas
José, do Parto à Sepultura e
Revolução na América do Sul,
Murro em Ponta de Faca e
Mulheres de Atenas (baseado em
Lisístrata, do comediógrafo grego Aristofanes), com música de Chico Buarque.
Murro em Ponta de Faca foi dirigida depois por Paulo José, no Brasil, em que o enfoque é a vida dos exilados políticos. Na volta definitiva ao Brasil, Boal funda o CTO-Rio, o Centro do Teatro do Oprimido.
A perda irreparável do educador, dramaturgo, diretor e homem de Teatro Augusto Boal ainda está para ser contabilizada. As gerações que se seguiram ao seu método e mesmo as que lhe foram testemunhas, certamente tiveram contato com uma idéia popular de teatro, de pensamento, de transformação.