
Inês é morta
Os Assassinos de Inês de Castro é uma produção do Núcleo 1408, de Rui Xavier e sua esposa, Hévelin Gonçalves. O texto e a direção são dele, a assistência de direção é dela. No elenco, Daniel Sommerfeld, Gustavo Vaz, Herbert Barros, Rafael Castilho, Roberta Uhller (foto) e Ricardo Gelli (substituindo Fernando Soffiatti).
No espaço de cima do Teatro X, a pungente história da morte de Inês de Castro - aquela que foi rainha depois de morta - dá lugar à tétrica sessão de tortura de dois dos três conselheiros do rei Alfonso IV de Portugal, que degolaram a espanhola bastarda. Inês tem em seu sangue a estirpe de ninguém menos que El Cid Campeador (o legendário herói espanhol Rodrigo Diaz de Vivar). Pedro, ainda príncipe, desposa Constança - dama castelhana - , mas vem a se apaixonar pela dama de companhia da esposa, a galega Inês de Castro. Assim, Portugal e Espanha quase se juntam não fosse a necessidade política da morte de Inês. É o que conta a peça de Rui Xavier, cuja trilha sonora mistura desde samba de morro a rock pesado, uma combinação brasileira (ou diríamos, ibérica?).
A trilha sonora é de Lilian Loto, os figurinos de Hévelin, Rui assina o cenário e a iluminação ficou a cargo de Celso Melez. Repare na diferença entre a suavidade dos movimentos de Inês de Castro (que ganha vida nas formas da linda Roberta Uhller), o figurino modernoso da quase rainha de Portugal, e seu contraste com a dureza do carrasco (Herbert, ótimo) e a insânia das correntes que seguram os condenados, atreladas ao teto, causando um barulho dos diabos, perfeitamente colocado na loucura eterna de Pedro I, o Cru. Inspirado no Canto III de Os Lusíadas, de Camões, a peça é, com certeza, um cadinho de História dos nossos antepassados ali, na Rua Rui Barbosa, 399 (Teatro X), sempre aos sábados, à meia-noite.