O universo do bas-fond na boca da tragédia

Plínio Marcos escrevia um Teatro inquietante. Quem o visse vender seus livros com as peças, neles editadas, já sentia na atmosfera o pulsar dos excluídos de que ele tanto gostava de retratar. O que faz a Cia. Independente de Teatro na mais recente montagem de O Abajur Lilás, sob a batuta de Fernanda Levy (na direção geral) e Eduardo Sofiati (na co-direção), é o ato da transcriação, não da catarse pura e simples. Segundo a própria encenadora - atriz com passagem por cursos de teatro em Moscou, na Rússia e que há dois anos estreou, como dramaturga e diretora, o belíssimo monólogo Isadora Duncan -, o que se pretende com Abajur é colocar o espectador numa circunstância, de modo que o ambiente de uma boate decadente, tendo um mocó a ela acoplado, seja percebido através de sons, gostos, cheiros, toques. Um tic-tac propositadamente insuportável é ouvido durante boa parte do espetáculo. Há uma tensão no ar.
Uma cantora de músicas que vão do samba ao brega, três prostitutas, um cafifa e seu capanga, todos compõem o universo violento que Fernanda Levy extrai da obra de Plínio, como ela mesma diz, uma obra aberta, propensa a novas interpretações. O próprio espaço cênico da Toca do Calango, que fica na rua Frederico Abranches, 118 (a uma quadra e meia da Estação Santa Cecília do Metrô) colabora para a criação da diretora. Tudo beira o decadente, e o espectador é convidado a fazer parte deste momento dos personagens. À medida que as prostitutas percebem outras saídas para suas vidas, um acesso de raiva de uma delas redunda não só na destruição de um abajur – o mesmo do título – como dá início a um redemoinho trágico. O que era amargo virou fel, definitivamente. Desta forma, a platéia não é poupada, ela se vê envolta pelos personagens de Plínio, no pior momento de suas existências cruas e desesperadas.
A luz vermelha, a música, o repertório escolhido. O resultado agradaria Plínio – é inquietante. No elenco da peça, encontram-se atores das mais diversas procedências. Nele, figuram Daniel Jorge, Luciana Esposito, Mari Nogueira, Paulo Américo, Renata Laurentino, Thiago Barros e Carolina Mesquita. Os figurinos foram composição do próprio grupo. Fernanda Levy tratou da ambientação, da trilha sonora e da iluminação. Assim, com uma trajetória diversificada e criativa, a Cia. Independente de Teatro pretende começar a temporada 2008 na capital paulistana, seguindo a agenda até março, quando apresentará sua versão de O Abajur Lilás no Fringe, a mostra nacional paralela do Festival de Curitiba. A seguir, retoma a temporada até o fim do ano, na Toca do Calango. Foram meses de pesquisa, leitura e preparação dos atores. E o resultado está aí, para ser absorvido pelo público, com Plínio Marcos permanecendo assim, atual, demasiadamente atual.
Serviço
Espetáculo: O Abaur Lilás
Autor: Plínio Marcos
Direção: Fernanda Levy
Gênero: Drama
Faixa Etária: Acima de 18 anos
Local: Espaço Cultural Toca do Calango
Endereço: Rua Frederico Abranches, 118 - Santa Cecília - São Paulo-SP, próximo ao metrô Santa Cecília.
Dias e Horários: Sábados às 21h e Domingos às 19h
Estréia: 19 de janeiro
Temporada: de 19 de janeiro até 16 de março
Tempo de duração: 90 min.
Lotação: 35 pessoas
Reservas e informações: telefone (11) 9967-5700 ou e-mail cia.independentedeteatro@gmail.com
Ingressos: R$ 20,00/R$ 10,00 (estudantes, idosos e classe artística)
Estacionamento em frente: R$ 4,00
(fotos: Eduardo Sofiati)