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Como foi: palestra com Fábio Moon & Gabriel Bá no 13º Fest Comix (SP)
Por Cal
07/11/2007

Evento: 13º Fest Comix
Local: Colégio São Luiz - São Paulo
Data: 2 de novembro de 2007 - 13h

Moon, Bá e Cal ao final da palestra no 13º Fest Comix

Batalhadores há 10 anos no duro mercado de Quadrinhos brasileiros, os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon já têm histórias e tanto para contar! As mais importantes os leitores podem acompanhar nos álbuns da série 10 Pãezinhos, e nos trabalhos lançados pelas editoras Via Lettera, Devir, Image e Dark Horse, todos aclamados por público e crítica. Dos fanzines até estar desenhando os títulos do mercado americano Casanova e The Umbrella Academy, citados na revista Entertainment Weekly como promessas do setor, e ganhadores de diversos prêmios, há toda uma expectativa pelo que esses astros tupiniquins da Nona Arte tem para compartilhar com seu público leitor. Com vocês, Fábio Moon e Gabriel Bá.

Com um atraso de 15 minutos, Moon foi o primeiro a chegar. Vestindo uma camisa de mangas curtas azul, com dragões desenhados em vermelho, apresentou-se e disse que o Bá chegaria logo, pois foi buscar o Rafa, um amigo quadrinista que eles consideram talentoso e que acham que precisa estar perto do público leitor para sentir o mercado e as opiniões. Meio tímido no começo, sua primeira dica é para aqueles que desejam ingressar no mercado de Histórias em Quadrinhos. Diz que atualmente está se utilizando da analogia entre futebol e Quadrinhos para explicar a dedicação que um aspirante a desenhista ou contador de histórias deve ter. Ele cita: “Para ser escalado para um time de futebol você tem de estar pronto, preparado, treinado muito, só assim poderá atuar no time, o mesmo vale para os Quadrinhos, se você não desenhar, não terminar suas histórias, nunca vai estar preparado para o mercado quando as chances aparecerem”. Par ser um player você tem de jogar!

Destaca a importância de se fazer fanzines, opção barata, de fácil acesso e produção rápida. “Reúna os amigos, alguém escreve, alguém desenha, e assim vai. Mostre para os outros e com as críticas você irá se aperfeiçoar e expelir todos os seus defeitos como desenhista na medida em que aprimora seu traço, sua narrativa, fazendo da arte de contar histórias uma coisa natural como falar ou andar. Se você não pode produzir 60 páginas, faça 4, faça 2, faça 1, mas faça!”. “Não espere, um dia você tem de começar!”. Fábio traça um cenário não muito promissor para quem quer atuar na área, apesar de 10 anos produzindo, explica que só agora está ganhando dinheiro com Quadrinhos. Fez faculdade de desenho, trabalhou em agência de publicidade, como ilustrador, chargista e guia de exposições de arte. Com a chegada do irmão Gabriel, eles dão vez às perguntas dos fãs. Somos em mais ou menos 50 pessoas!

Smoke and Guns: Graphic lançada pela AiT/Planet Lar em 2005, EUA

Pergunto o que eles liam de Quadrinhos quando do momento em que decidiram que era isso que queriam para suas vidas; sobre a graphic novel Smoke and Guns; e se os trabalhos atuais para o mercado americano estão sendo prazerosos. Moon responde que começaram a se interessar por Quadrinhos em 1988 , quando cursavam a oitava série, nessa época liam a Chiclete com Banana, a Circo, e os Quadrinhos de heróis da Abril, que nesse momento também começou a publicar as famosas graphic novels, uma em particular lhe chamou a atenção, O Edifício, de Will Eisner, obra-prima que mostra o cotidiano e  interação, da vidas de várias pessoas residentes do edifício. Fábio refere-se a obra de forma apaixonada, realmente deve ter tido um grande impacto em seu trabalho. Como teve a Chiclete, que ele explica: “Ao ver o universo que Angeli criara e retratava na Chiclete com Banana, tudo era muito verossímil, haviam os punks, a grama que brotava das rachaduras das calçadas da Vila Madalena, local em que moravámos, os fios dos postes...”. Realmente deve ter sido demais ler sobre algo tão real, uma coisa que se está vivendo, nesses detalhes é que podemos perceber a paixão e associação que todos nós, criadores ou fãs, criamos com os Quadrinhos. Tudo isso somado ao trabalho sobre Machado de Assis do colégio (ou seria Guimarães Rosa?), foram o caldeirão de onde se originaram as influências que permeariam o trabalho dos irmãos.

O que realmente importa para eles é contar boas histórias! Em virtude disso, estão sendo criteriosos com a aceitação de qualquer trabalho, tem que haver uma empatia, eles querem criar uma marca que na hora em que você pegar uma história, logo associará à Moon e Bá, xi, rimou! Sobre Smoke and Guns, Fábio diz que foi o 1º trabalho feito para um autor diferente, uma história que não fosse deles. Uma história divertida, sobre vendedoras de cigarros (iguais aquelas que você pode ter visto nos filmes antigos, que vendiam cigarros numa bandeja) e a disputa pelo conntrole de cada bairro em que elas atuam. Moon diz que ser exigido no desenho de artefatos que não estava acostumado, principalmente armas e carros antigos, valeram o trabalho. “É esse nível de exigência que vai dar bagagem e domínio ao artista!”. Sobre Casanova, título da Image Comics, e The Umbrella Academy, da Dark Horse, diz que as revistas estão dando projeção ao trabalho deles, com a saída de Bá de Casanova, Moon assumi a arte a partir do nº 8, os roteiros são de Matt Fraction. Sobre quem gostariam de fazer um trabalho em parceria, são diretos! Bá: “Laerte!”. Moon: “Neil Gaiman!”.

Estão lendo os livros do novelista americano Ernest Hemingway (cool!), compraram quinze de uma tacada só (!) no começo de 2007, todos na língua original, em inglês, para se acostumarem com as manias e trejeitos do vocabulário yankee! Gabriel está tentando pela enésima vez completar de ler o livro Neverwhere do Neil Gaiman, em inglês. Nas outras tentativas ele sempre chegava até o capítulo um (risadas), agora está no quinto. Moon diz que presenteou a mãe com a versão nacional. Sobre material de trabalho e as técnicas de desenho, Bá diz que não é muito bom com a arte-final com pincel, essa é mais a praia do irmão, utiliza caneta nanquim descartável, e sente-se bem produzindo assim. Muitas vezes desenham em páginas A4 mesmo, desde a época dos fanzines. Ainda, a dica para a escolha de materiais de trabalho para quem quer desenhar, que caneta, que tipo de papel, isso só o tempo e as tentativas irão mostrar qual o melhor, qual se encaixa mais no seu estilo e na maneira como você quer produzir. Novamente sobre o mercado de Quadrinhos, dizem que as editoras só levam prejuízo com publicação de Quadrinhos. A Devir ganha dinheiro com RPG. A Conrad com a publicação de livros. E que eles demoram ainda mais para ganhar, pois seus trabalhos não são mensais, portanto, se uma obra leva dez meses para ficar pronta, e mais 2 na editora, só depois de um certo tempo começará a dar retorno para pagar o tempo e trabalho dedicado ao projeto.

Edição Comemorativa de 10 anos do 10 Pãezinhos, Devir 2007, Brasil

Pela sinceridade e amor aos Quadrinhos, nota-se com certeza que Fábio Moon e Gabriel Bá ainda reservam gratas surpresas aos fãs das boas histórias e dos personagens do mundo real, como eu e você! Se você é novo no universo dos gêmeos, corra para a livraria mais próxima, real ou virtual, e compre seu exemplar da edição comemorativa de dez anos do fanzine 10 Pãezinhos, publicado em 2007 pela Devir. Uma boa dica também para as escolas, é adotar a adaptação da obra de Machado de Assis feita pelos irmãos para O Alienista, lançado pela Agir também em 2007. E agora uma dica aos realizadores do Fest Comix! Iniciativas como essa serão sempre bem-vindas! Poder ouvir o que Moon, Bá e Laerte têm a dizer sobre nossa paixão que são os Quadrinhos é super 10! Mas esperamos que da próxima vez, pelo menos um projetor para tornar a palestra mais dinâmica e visual seria essencial! Afinal nós estamos falando de uma arte totalmente visual, não é mesmo?!

Whoosh!

(foto: Cal)

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