Sábado, dia 20, penúltimo dia do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, foi o dia mais cheio de todos os seis que compõem a programação. Além da peculiaridade na quantidade de público houve também a bate-papo com Eddie Berganza, editor-chefe da DC às 11h! Eddie falou a respeito da DC, seus heróis, fases recentes e a situação da empresa no Brasil – elogiando a produção editorial no país. Entretanto quando questionado quanto a questões mais sérias – como royalties – o editor se esquivou dizendo não ter determinadas informações. Ao final da exposição a coisa descambou para as brincadeiras com perguntas como: “Você poderia fazer a dança do siri?”. Às 14h estava marcada a Oficina de Roteiro com Giancarlo Berard, que teve início com uma hora de atraso e se estendeu até por volta das 17h. Na oficina o roteirista italiano falou de seu processo criativo e deu dicas de como desenvolver um bom texto. Por volta das 16h começou a mesa-redonda abordando o tema Adaptações Literárias, com Pascal Rabaté (quadrinhista Francês), Marcatti e Bira Dantas. Os três falaram de suas produções em HQ com adaptações literárias. Durante a exposição de Pascal eram exibidas ilustrações dele em um telão. Bira falou da dificuldade na adaptação de Memórias de um Sargento de Milícias, que recentemente saiu pela Escala Educacional, e seu recente projeto, que é a adaptação de Dom Quixote. Marcatti se ateve à A Relíquia e ao mercado editorial de adaptações. Apesar de a Serraria Souza Pinto estar lotada, a mesa-redonda dos três foi a mais vazia de todo o Festival.
Às 18h30 começou a mesa a respeito das Pesquisas em HQs com os mestres/doutores Gazy Andraus, Paulo Ramos e Eloar Guazzelli. Paulo se ateve em demonstrar o crescimento da pesquisa em números, enquanto Gazy expôs um pouco de sua tese – ganhadora do HQ Mix 2007 - de doutorado que consiste na recepção das HQs no cérebro. Por sua vez Eloar mostrou que teses também servem para resgatar a memória de antigos quadrinhistas, como ele mesmo fez com Renato Canini em sua pesquisa. Ainda foi abordada a importância do crescimento desse tipo de estudo para as HQs e o conhecimento em geral. Marcado para as 19h30 estava o bate-papo com o quadrinhista argentino Carlos Sampayo e o italiano Giancarlo Berard com mediação de Carlos Patati. Berard falou muito do que houve na oficina de roteiro horas antes, acrescentando sua forma de dar vida aos personagens e como fazer para ele ser convincente. Já Sampayo quase não se pronunciou e quando o fez abordou a questão da música em suas HQs (ele e Berard acrescentam muito desse artifício em suas histórias, sendo este também abordado pelo italiado), o mercado editorial de HQs autorais e sua forma de criação de personagem que consiste em partir do desenho feito para a construção do caráter destes. O dia foi encerrado com sessão de autógrafos de Berard. Antes, durante a programação do dia teve ainda sessão de autógrafos e lançamentos com Eduardo Risso (100 Balas) e Sérgio Macedo (Xingu!).
No último dia (21) do Festival a organização pecou quanto ao horário de cada evento programado. Como alguns estavam marcados somente com uma hora de intervalo entre um e outro, acabaram por surgir grandes atrasos. A primeira mesa, a qual abordava Humor e Política e cujos integrantes foram Nilson, Lor, Santiago e Duke, extrapolou quase uma hora a mais no tempo previsto para seu termino. E não foi para menos, a discussão foi bastante acalorada com os quadrinhistas “lavando roupa suja” quanto à situação atual dos críticos sociais. Lor e Duke foram os mais brandos se prendendo mais em mostrar seus trabalhos e as inspirações para criar. Uma curiosidade dita por Lor foi à de que provavelmente para 2008 irá sair uma “microssérie” para TV baseada em uma HQ dele chamada Retrato. Já Nilson e Santiago é que “botaram fogo” na mesa, criticando a mídia atual e falando da importância que o Pasquim teve nos anos de ferro da ditadura militar e falta de uma publicação como ela hoje em dia, além da complacência e auto-censura dos novos cartunistas. “Os chargistas nunca foram tão de direita”, disse Nilson e Santiago completou: “A charge política é quase impossível na grande mídia”. Logo após o termino da mesa, começou a que tinha como tema A Ilustração vai bem, obrigado!, com Kako, Orlando Pedroso e Daniel Bueno. O tom da mesa deu a entender - em determinados momentos – ser uma resposta às críticas impostas por Santiago e Nilson anteriormente, com Pedroso dizendo como o ilustrador deve ser versátil se pretende trabalhar no meio. Tanto Kako quanto Daniel quase não se pronunciaram, se atendo mais em fazer uma breve apresentação de cada e respondendo às perguntas dos ouvintes que giraram em torno do mercado de ilustração.
Às 17h30 houve o bate-papo entre os gêmeos Bá e Moon. Bá direcionava perguntas a Moon para dar dinâmica na conversa. As perguntas abordaram temas como o porquê de se trabalhar no mercado estrangeiro. A esta a resposta dizia que não havia diferença, até se trabalha mais. Eles mesmos não vêem essa necessidade, a não ser para dar uma visibilidade à HQ brasileira como um todo e que eles gostam mesmo é de escrever em português. Falaram ainda da criação de personagens, que estes devem interagir com os leitores. Quanto ao público, algumas perguntas, por exemplo, foram quanto a migrar para a Internet. Os gêmeos não crêem ser necessário, nem mesmo ser a HQ uma história que se utilize de outros elementos, como luz, som e movimento em sua composição. Falaram também – claro - da adaptação de O Alienista. Para fechar o bate-papo foi feito um sorteio da HQ The Umbrella Academy - uma parceria entre Gerard Way e Gabriel Bá – com as senhas distribuídas no dia anterior aos que compraram, 10 pãezinhos: Fanzine. Feito isso, agora só daqui mais dois anos para o Festival ter novamente suas portas abertas.
O FIQ de modo geral foi ótimo, com grandes nomes dos Quadrinhos nacionais e internacionais. Houve grandes lançamentos, como o álbum Xingu! E também grandes ausências, como Melinda Gibbes que não compareceu, o japonês Yoshihiro Tatsumi – que por motivos de saúde não pôde vir -, e o homenageado Julio Shimamoto, que também não esteve presente. Houve também problemas técnicos, situações inesperadas, mas que todo evento há de passar. Nada que ofusque a grandeza e importância de algo assim para nosso país e para as HQs. Há de se ressaltar que, apesar de não mencionados nos textos anteriores, houve uma programação específica dedicada às crianças, com oficinas de tirinhas e mangá, além de mostra de filmes infantis em diversos horários durante os dias do evento. Houve ainda a doação da Q.I.F. – Quadrinhos Itinerantes Francofônicos, de HQs francesas ao acervo da Gibiteca de BH.