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Martin Scorsese |
Finalmente
Martin Scorsese abocanhou seu
Oscar. A estatueta lhe foi concedida na noite de domingo (no Kodak Theater, em Los Angeles), na madrugada para segunda-feira (aqui no Brasil) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Trata-se mais de um prêmio "consolação" pelo conjunto da obra do que propriamente pela direção de
Os Infiltrados (
Oscar de
Melhor Filme), com
Leonardo DiCaprio e
Jack Nicholson no elenco.
Tanto é que a palavra "finalmente" tem sido a mais usada pela Imprensa mundo afora, tamanha a quantidade de indicações que o diretor novaiorquino já teve – seis. Nada mais justo. Scorsese é dono de uma filmografia invejável (de
Taxi Driver a
Os Bons Companheiros, de
O Touro Indomável a
A Cor do Dinheiro,
A Última Tentação de Cristo e tantos outros filmes de altíssimo calibre). Não foi à toa. Scorsese foi aplaudido de pé por toda a platéia presente. Não sem razão. No mesmo raciocínio politicamente correto, a Academia deu mais um
Oscar ao ex-vice-presidente
Al Gore (que era vice de
Clinton) pelo eco-documentário
Uma Verdade Inconveniente, que conclama o mundo a lutar por uma solução frente ao aquecimento global. Gore foi categórico em afirmar que estava muito contente pelo prêmio, o que significa um sinal positivo de uma mudança de mentalidade. O filme, inclusive, ganhou o
Oscar de
Melhor canção para
I need to Wake up (Eu tenho que acordar), de
Melissa Etheridge.

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Helen Mirren, Melhor Atriz por A Rainha |
Por outro lado, dois
Oscars foram concedidos a duas personalidades da vida real - a rainha
Elizabeth II da Inglaterra e o ditador
Idi Amin Dada - ou melhor, para seus dois intérpretes, respectivamente a atriz inglesa
Helen Mirren (por
A Rainha, filme dirigido por
Stephen Frears) e
Forrest Whitaker, por
O Último Rei da Escócia. Parece mesmo que a Academia caiu de amores por duas personagens controversas e não menos exóticas, e que foram levados à telona através de interpretações impecáveis. Mirren e Whitaker eram francos favoritos, não houve surpresa alguma, apenas a mostra de que eram favoritos mesmo, imbatíveis. Sobre Mirren, já tínhamos falado
aqui sobre sua grande atuação em
A Rainha. E olha que ela, que é veterana no cinema e na TV (ela já interpretou até mesmo a rainha Elizabeth I, aquela da época de Shakespeare), teve uma pedreira pela frente:
Meryl Streep (por
O Diabo Veste Prada), a espanhola
Penelope Cruz (com uma bela atuação em
Volver, de
Almodóvar), a bela inglesa
Kate Winslet (pela Sarah de
Pecados Íntimos, outra maravilhosa atuação) e
dame Judi Dench (em
Notas sobre um Escândalo). Pesos pesados, mulheres tarimbadas e com várias indicações nas costas. Forrest Whitaker não ficou atrás em matéria de concorrência, tinha de tudo, de
Will Smith a Leonardo DiCaprio, isso sem falar em
Peter O'Toole (por
Vênus). O ator escocês, astro de
Lawrence da Arábia, se ganhasse, seria mesmo um outro
Oscar pelo conjunto da obra, menos pelo filme pelo qual concorria.
O cinema independente americano também não fez feio, o que demonstra que o
Festival de Sundance não só faz História como também está cada vez mais afinado com o que a Academia começa a pensar sobre a sétima arte.
Pequena Miss Sunshine recebeu duas estatuetas.
Alan Arkin, o ator veterano novaiorquino, e
Michael Arndt (pelo roteiro original) foram os contemplados. Bons sinais dos tempos. Será mesmo tendência? Por sua vez, um dos grandes perdedores da noite foi
Mel Gibson. O seu fiasco pré-colombiano
Apocalypto realmente não levou nenhuma estatueta a que foi indicado, bem como o drama de Segunda Guerra Mundial levado às telas por
Clint Eastwood,
Cartas de Iwo Jima, parece mesmo que não atraiu as atenções de Hollywood e ficou somente com um Oscar técnico, da área sonora. E olha que Eastwood, outro veterano diretor (já premiado por
Os Imperdoáveis e
Menina de Ouro) era o mais forte nome disputando com Scorsese. Mas a Academia tem dessas coisas de pesar e equilibrar as balanças. Deram uma colher de chá para o diretor de
Os Infiltrados, como já dissemos, menos por este filme do que pelo restante da magnífica obra.
Babel, de Alejandro Gonzalez-Iñarritu, foi o grande perdedor da noite, disparado. Era o mais favorito entre os favoritos para abocanhar o Oscar de Melhor Filme. Teve que se contentar com o Oscar de Melhor Trilha Sonora para Gustavo Santaolalla, o mesmo compositor argentino de Diários de Motocicleta (de Walter Salles Jr.). E falando em música, nada melhor do que o lendário compositor italiano Ennio Morricone ter recebido o seu justíssimo Oscar (das mãos de ninguém menos que Clint Eastwood) pelo conjunto da obra. Explica-se: Morricone fez a trilha do primeiro filme de Eastwood como protagonista: Por um Punhado de Dólares, dirigido pelo não menos lendário Sergio Leone. Indicado cinco vezes à estatueta, Ennio Morricone ganhou o Oscar mais do que merecidamente. Ele já compôs mais de 400 trilhas para o Cinema, incluindo filmes como Os Intocáveis, A Missão, Cinema Paradiso, Era Uma Vez na América e tantos outros. Ele dedicou o Oscar à esposa Maria. E assim que a cantora canadense Céline Dion (aquela, da canção do Titanic) terminou de cantar uma das faixas do belíssimo Era Uma Vez na América, de Sergio Leone, o compositor entrou no palco do Kodak Theater e foi aplaudido de pé. Em 1991, o maestro Henry Mancini gravou um CD de homenagem a Morricone e Nino Rota, dois dos maiores nomes da trilha sonora do cinema italiano de todos os tempos.
Finalizando, outros Oscars concedidos na noite de domingo: Happy Feet (Melhor Longa de Animação), O Labirinto do Fauno (Maquiagem, Direção de arte e Direção de fotografia), Thelma Schoonmaker (a montadora oficial dos filmes de Scorsese em Os Infiltrados), Milena Canonero (pelos figurinos de Maria Antonieta, de Sophia Coppola, outro que se deu mal de bilheteria), Cartas de Iwo Jima (Edição de som) e Dreamgirls (Mixagem de som e Melhor atriz coadjuvante, para Jennifer Hudson, em sua primeira atuação no cinema). De resto, ficou mesmo a impressão de uma entrega do Oscar bem politicamente correta, premiando injustiçados como Scorsese e quase colocando Al Gore na disputa presidencial norte-americana para 2008, sendo que ele nega firmemente. Diz que é apenas um ativista ecológico. A gente finge que acredita. Afinal, é tudo cinema mesmo. Veja a lista completa dos vencedores (em inglês) e saiba mais sobre a cerimônia de entrega do Oscar 2007 aqui.