Baseado em um musical da Broadway, o filme conta como um trio de cantoras de soul chegam ao topo da parada musical pop, no início da década de 1960. Tendo esse enredo, há de se esperar uma grande variedade musical que, felizmente, é apresentada: desde o funk e o mo-town, chegando até belas baladas românticas. Por outro lado, há um certo exagero na quantidade de números musicais – uma economia, especialmente quando os personagens cantam à capela apenas uma estrofe, seria mais do que bem-vinda. Tal exagero é percebido mais facilmente por um erro de estruturação do roteiro: no começo do filme o público é habituado a ver performances musicais apenas sobre o palco e, quando menos se espera, há uma canção em que os personagens desandam a cantar no meio de uma discussão. Nesse momento, o espectador pode estranhar e será obrigado a repensar o filme inteiro.

O elenco tem atuações dos mais diversos níveis. Eddie Murphy interpreta uma mistura de James Brown, Ray Charles e Marvin Gaye sem deixar o papel soar estranho. A constância de Murphy diante do grande desafio já lhe rendeu um Globo de Ouro. Outro membro da equipe premiado é a surpreendente Jennifer Hudson. Interpretando um personagem forte, Jennifer rouba a cena logo em seu trabalho de estréia. Jamie Foxx prova mais uma vez que esgotou toda sua quota de talento em Ray e ainda não conseguiu recarregar as baterias. A cantora Beyoncé está irreconhecivelmente magra e apresenta uma atuação limitada. Nunca é de se esperar que ela tenha um trabalho brilhante, mas diante de uma protagonista fraca e insossa, a tarefa se torna impossível. Danny Glover faz uma pequena participação e dá conta do recado.

Com oito indicações ao Oscar, Dreamgirls tem tudo para ser um grande vencedor na noite de 25 de fevereiro. A questão que fica no ar é a seguinte: será que merece tanto? Para quem não é super-fã de musicais, a negativa grita aos ouvidos em cada canção.

* Edu Fernandess é Editor de Cinema e Vídeo do Homem Nerd