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Por Ruy Jobim Neto 08/01/2007 Todos, quase sem exceção, estão queixosos com o Cinema Nacional. Ainda bem. Eles ainda continuam, e é um tipo de revolução silenciosa, sem panelaço nas ruas. Pois eu lembro dos queixumes intermináveis no início da década de 1980, quando havia ainda a indústria do que se chamava "pornochanchada". Traduz-se, por favor. Chanchada, como as da Atlântida, nos anos 1950, eram comédias populares. Acrescentando-se o prefixo Pornô, temos a idéia de filmes que ultrapassaram a linha do erótico. Era curioso, e ao mesmo tempo triste, que as pessoas chamassem filmes estrelados por Sônia Braga, Vera Fisher e mesmo Lucélia Santos de pornôs. Era mesmo estranho, pois eram filmes subvencionados pelo Estado, pela Embrafilme, todos financiados a fundo perdido pelo erário público. E que geralmente não satisfaziam a quase ninguém, a não ser à nata de cineastas ligados economicamente ao Poder.
As queixas do público brasileiro eram várias, inúmeras... Algumas continuam, mas não a de que produzimos filmes "pornôs" com elenco televisivo, ah, isso não. O pessoal se queixa de que não possuímos tão boas histórias assim. Mas as coisas estão mudando. Devagar, mas estão. Lembro da época de faculdade, em que tínhamos professores como os (falecidos) cineastas Chico Botelho (Janete e Cidade Oculta, seus dois únicos longas) e Wilson Barros (Anjos da Noite), e imperava a chamada "ditadura da direção de fotografia". Era um dos pilares que, diziam, o nosso Cinema precisava alcançar. Pra quê, pergunto-me hoje? Para nos igualarmos em forma – não em conteúdo – aos grandes mestres da tão prestigiada American Society of Cinematographers? – até hoje não entendi essa, mas enfim... Pode ter sido perfeitamente um patamar. E todos, sem exceção torcíamos para que o próximo patamar fosse o do roteiro. E ainda não foi. Depois apareceu a questão do som. Lembro que outro patamar que precisávamos alcançar era esse, pois todo mundo se queixava que o som no Cinema brasileiro era miserável. E era mesmo. Demorou muito para que não somente nossas salas de exibição instalassem o som Dolby como, principalmente, nossos filmes (alguns deles saídos dos laboratórios da Álamo, em São Paulo) conseguiram orçamentos e técnicos que os levassem até Los Angeles para uma finalização sonora também em Dolby. Hoje temos o som digital, e nossos filmes também. Os orçamentos, altíssimos, definiam desta forma como a qualidade da película iria chegar ao público – bom, primeiro você corta no elenco, nas locações, tenta o máximo de material emprestado, atores sem um mínimo de pagamento (talvez um lanche e um refrigerante) e despeja toda a carga de beleza do filme na direção de fotografia e no som. Ótimo. É, parecia ótimo. Mas as queixas continuaram.
Ao entrevistar o ator Lima Duarte, em 1995, para um jornal, perguntei sobre Cinema, e ele então falou sobre o prêmio de Melhor Ator recebido no Festival de Gramado por Corpo de Delito, em que não havia concorrentes. Lima disse textualmente que não sentia orgulho algum daquele prêmio, que era algo para cumprir tabela, pois não havia outros filmes com os quais competir. Esse período muito complicado foi entre os anos de 1991 e 1992, em que produzimos menos de cinco filmes, em todo um ano. Era um desastre. Com a Retomada, anos depois, uma luz no fim do túnel começou a ser enxergada. E era engraçado que o pessoal, o público médio, ainda assim continuava com seus queixumes. Na realidade, sempre tivemos bons cineastas e bons roteiros, bons textos, bons personagens. O público é que sempre queria que nosso Cinema tivesse histórias de perseguição, de correrias, de aventuras, de montagem rápida. Ou seja, o pessoal praticamente exigia que nosso Cinema fosse como o Cinema americano. Aí começa a primeira distorção. Muita idéia que foi trocada em torno desse assunto já aconteceu em simpósios, em congressos, em festivais. Nosso Cinema é nosso, com a nossa cara, com o nosso orçamento. O fato de a Globo Filmes ter entrado de forma pesada no jogo audiovisual brasileiro (a partir de 2002), das distribuições de muitos de nossos filmes serem feitas através de empresas estrangeiras, das reuniões das comissões formadas por cineastas e atores com Presidentes em Brasília, das leis de incentivo terem realmente incrementado a produção, tudo isso foi uma mexida de pedrinhas no fundo desse aquário com água quase parada. A percepção que o público sempre teve de nosso Cinema era simplesmente a existência de uma queixa, a queixa de que deveríamos competir de igual para igual com a cinematografia estrangeira. E agora estamos com levas de filmes com aspecto muito mais televisivo do que antes. Ora, cinema, teatro e televisão são artes primas, mas completamente diferentes em essência. E sabemos nós que aqui, no Brasil, as faculdades também foram durante muito tempo deficitárias no ensino de Dramaturgia, pelo simples fato de que elas petrificavam as grades curriculares, devido a estúpidos problemas políticos internos nessas entidades. Por isso há tanta beleza no Cinema argentino, no Cinema europeu, que muito mais se aproximam entre si do que o nosso a qualquer coisa que valha. Mas temos saída. Calma, temos boas histórias, sim. Precisamos agora é de um público mais paciente. |
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