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O cinema perde Robert Altman
Por Ruy Jobim Neto
22/11/2006

O diretor Robert Altman (1925-2006)

O que dizer do grande cineasta Robert Altman? Tudo. Esse genial diretor nos brindou com obras que se tornaram clássicas, como Três Mulheres, Nashville, M.A.S.H. e os mais recentes Short Cuts, Pret-a-Porter e Assassinato em Gosford Park. É simplesmente impossível não gostar de suas fábulas costuradas como se fossem colchas de retalhos, ou de seus painéis extremamente corrosivos seja do Vietnã, da aristocracia britânica ou mesmo do mundo da moda.
 
Até Popeye, de 1980, foi rodado por Altman, tendo o ator Robin Williams na pele do famoso marinheiro dos Quadrinhos. E os seus elencos, então? Havia toda uma constelação de artistas que trabalhavam sempre com ele, davam o tom certo que ele queria impor a seus filmes. É o caso de Lily Tomlin e Shelley Duvall. Esta última, por exemplo, fez a Olívia Palito na versão cinematográfica do marinheiro criado pelo cartunista E.C. Segar. O filme teve roteiro de ninguém menos que o também cartunista Jules Feiffer. Ultimamente, Altman descobriu novos parceiros, tendo nos seus luxuosos elencos uma gama de astros como Julia Roberts, Maggie Smith, Kristin Scott-Thomas, Tim Robbins, Jennifer Jason Leigh, Madeleine Stowe, Julianne Moore, entre tantos outros. Por sua vez, o cineasta conduziu ao menos seis de suas atrizes a indicações ao OscarSally Kellerman, Ronee Blackey, Lily Tomlin, as inglesas Helen Mirren e Maggie Smith e Julie Christie, de quem era muito amigo. Mesmo Sissy Spacek trabalhou com ele, em Três Mulheres
 

Kristin Scott-Thomas em Assassinato
em Gosford Park

Nascido no Missouri, em 1925, Altman teve formação católica na infância. Depois da II Guerra Mundial, ele chegou a se alistar na Força Aérea Americana e se tornou co-piloto de um B-24. Mas foi com sua primeira esposa, Lavonne Elmer, que ele se mudou para Hollywood para tentar a vida no Cinema, uma vez que era fascinado pela Sétima Arte. De roteirista, dublê de ator e de compositor de canções, ele chegou a ser diretor de filmes para a Publicidade. Chegou até mesmo a retornar a sua cidade natal, Kansas City, para tentar a vida trabalhando como roteirista e montador para uma produtora cinematográfica que fazia filmes educacionais e publicitários, onde aprendeu tudo o que precisava para trabalhar no Cinema. Ele estreou profissionalmente como diretor em Os Delinqüentes, de 1957.
 
Já em Hollywood, trabalhou como diretor e criador de séries para TV, inclusive tendo dirigido episódios para as famosas séries Bonanza (em 1959), de faroeste, e Alfred Hitchcock Show, que apresentava histórias apavorantes e de mistérios. Até que lhe foi oferecido o roteiro de M.A.S.H., em 1969, que se tornou o seu primeiro grande sucesso. No elenco, além de Sally Kellerman, estavam Donald Sutherland e Elliot Gould. Com Nashville, de 1975, Altman ascende ao posto de mestre, e sua carreira não pára mais. Já no início de 2006, o diretor fez a sua estréia nos palcos, encenando Ressurrection Blues, de Arthur Miller, em Londres, pela famosa companhia Old Vic, que tem direção geral do ator Kevin Spacey. Quando recebeu, ainda neste ano, o Oscar pelo conjunto de sua obra, Altman falou do transplante de coração ao qual tinha se submetido há dez anos. 
 

Madeleine Stowe e Tim Robbins
em Short Cuts

Os seus filmes eram caracterizados pelo diálogo simultâneo, onde vários personagens falavam tudo ao mesmo tempo. Altman gostava de tecer grandes encenações com seus elencos, a partir de roteiros enormes. Em filmes como Short Cuts, o cineasta retrata um dia numa cidade como Los Angeles, com personagens envoltos em terremotos particulares. Num dado momento, um terremoto sacode todas aquelas vidas de verdade. Ele dizia, aos que o perguntavam sobre os diálogos simultâneos de seus filmes, que o cinema de Howard Hawks é todinho recheado desses diálogos. E que os cineastas que serviram de inspiração a ele foram Ingmar Bergman, Federico Fellini, Akira Kurosawa, John Huston e Jean Renoir. Sobre a complicada relação de amor e ódio entre ele e Hollywood, Altman vinha com a seguinte tirada: "Não estamos um contra o outro. Eles vendem sapatos e eu faço luvas".

Outras tiradas do mestre: Meryl Streep, para ele (e com toda a razão) é uma atriz que não precisa de diretores. Seria algo muito redundante, dizia Altman. Quando perguntado se poderia se aposentar, o velho diretor perguntava, em troca: "você está falando de morte, é isso?" E finalmente, a maneira como ele via sua arte: "Os atores têm que conhecer o roteiro (do filme) porque eles têm que memorizar as falas. Os técnicos têm que saber o roteiro porque tem que organizar luz e som. Mas eu tento me manter o mais virgem o possível. Eu digo: diga-me sobre o que é esse filme e eu descobrirei o que fazer, e estou verdadeiramente buscando visualizá-lo. E não aconselho a jovens diretores que façam isso, porque esse é simplesmente o meu método".
 
Robert Altman faleceu, portanto, aos 81 anos nesta segunda-feira (dia 20), num hospital de Los Angeles, Califórnia, e a informação só foi divulgada ontem pela assessoria de Imprensa de sua produtora. A causa da morte não foi divulgada.

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