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Crítica: Gatão de Meia Idade – o Filme
Por Eloyr Pacheco
03/04/2006

Alexandre Borges como o Gatão de Meia Idade


Poucos são os filmes deste novo filão descoberto pela indústria “hollywoodiana” – o de adaptações de Histórias em Quadrinhos para o cinema – feitos no Brasil. Lembro-me de dois filmes independentes (O Desconhecido Homem de Preto e O Gralha); do clássico Judoka; do Menino Maluquinho 1 e 2 e do Ed Mort, coincidentemente de Luis Fernando Veríssimo e Miguel Paiva, o criador de Gatão de Meia Idade e também de Radical Chic. Adulto e em circuito comercial só Ed Mort. E, mesmo este, é de 1997. Considero Blade o divisor entre as velhas e as novas adaptações de HQ para cinema nos EUA; então temos 1998 como marco (X-Men é de 2000 e Homem-Aranha é de 2002). Mesmo com a chamada “retomada” do Cinema Nacional e todas as adaptações de HQs de sucesso mundial, depois de quase dez anos da produção de Ed Mort só agora surge uma nova adaptação de Quadrinho Nacional nos cinemas brasileiros: Gatão de Meia Idade - o Filme.

Gatão de Meia Idade – o Filme, ainda que tenha uma reação positiva da platéia, não utiliza todo o potencial que o personagem e a linguagem dos Quadrinhos permitem. A boa abertura feita em quadrinhos nos leva a esperar uma linguagem mais ousada, planos mais elaborados, “ângulos forçados”, o que o filme não tem. Mesmo a abertura tem problemas, ela se perde entre a linguagem de Quadrinhos e a de animação, e utiliza recordatórios – aqueles pequenos quadros com textos narrativos – sobrepostos a balões de pensamento. Alguns detalhes como uma parede vermelha aqui, uma roxa acolá, copos coloridos na prateleira da cozinha onde um xadrez em dois tons com cores próximas das do colorido de Miguel nas tiras, deixam transparecer um esforço que nada acrescenta à linguagem visual do filme. O uso de cores quentes em adaptação de Quadrinhos para o cinema foi utilizado, até certo ponto com exagero, no filme Dick Tracy (1990), de Warren Beatty. Embora de um modo geral Dick Tracy não tenha agradado ao público, acabou por conquistar os Oscars de Melhor Direção de Arte, Maquiagem, Cenário e o de Canção Original (interpretada por Madonna, que também atua no filme). Os Oscars recebidos refletem o quanto a transposição de plataforma (do papel para a tela) foi estudada e pesquisada na indústria americana até chegar onde chegou. No Brasil, Menino Maluquinho, criado por Ziraldo, procurou utilizar o uso de cores quentes, principalmente na fachada das casas, para dar um ar de História em Quadrinhos. Conseguiu. Num filme realizado para crianças funcionou. Da forma comedida como foi utilizada em Gatão de Meia Idade não acrescenta nada. A luz também não foi explorada como poderia.

Uma das experiências mais bem sucedidas em Gatão de Meia Idade está no uso de pequenas animações em preto e branco. Desenhos que o designer Cláudio, o Gatão (Alexandre Borges) faz de suas ex-namoradas ganham vida na telona quando ele relembra suas aventuras amorosas. A motoqueira Sandrão (Cristiana Oliveira) tem o “Q” de História em Quadrinhos, mas faltou exagero e irreverência para chegar ao limite de interpretação que a personagem permitia chegar. Alexandre Borges é o próprio Gatão, caiu-lhe bem o personagem. Alexandre usa um ar sarcástico e, quando necessário, expressões dúbias; as frases de efeito saem de sua boca quase que num mesmo tom refletindo o humor irônico de Miguel Paiva em suas tiras. Vale registrar a cena em que pai e filha – o Gatão tem uma filha adolescente – brigam pelo controle da tevê e Cláudio assiste a um desenho animado de Mauricio de Sousa e o tema de abertura composto por Zé Rodrix.

O maior mérito de Gatão de Meia Idade é a coragem de carregar nas costas o peso de ser o mais recente filme brasileiro a embrenhar-se neste filão das adaptações de Histórias em Quadrinhos em circuito comercial num momento em que a indústria americana consegue fazer isso com tanto requinte. A comparação é inevitável.

 Veja também:

Gatão de Meia Idade - a pré-estréia

Gatão de Meia Idade, de Miguel Paiva, no cinema

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