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Por Alexandre Nagado 30/11/2005
É sobre esse tema que se debruçam os autores Gazy Andraus, Edgar Franco, Henrique Magalhães, Marcelo Marat, Cesar Silva e Edgard Guimarães (este, também o organizador da obra). A compilação das pesquisas e conclusões gerou o livro O que é História em Quadrinhos brasileira (Organizador: Edgard Guimarães - Formato: 12 x 18cm - 88 págs.), da editora paraibana Marca de Fantasia, que tem produzido várias obras teóricas sobre quadrinhos e cultura pop. O ponto de partida do livro foi um texto do pesquisador Moacy Cirne datado de 1971, no qual ele defendia que nenhum super-herói brasileiro (no caso, o antigo clássico O Judoka) poderia ser considerado realmente nacional, por ter sido criado seguindo modelos estrangeiros. Não bastaria um referencial geográfico para que isso o tornasse identificado como sendo de autoria nacional. Atualizando esse ponto de vista, trabalhos como Combo Rangers, Holy Avenger e tantos outros também não poderiam ser chamados de quadrinhos brasileiros por utilizarem inspiração em modelos vindos de fora. Esse raciocínio preconceituoso, controverso e radical de Cirne inspirou uma extensa pesquisa histórica e conceitual sobre o tema, levantando muitos pontos interessantes e polêmicos. De modo bem didático, Cesar Franco enumera situações diversas, buscando e analisando definições geográficas, culturais e criativas que poderiam denominar uma HQ como sendo brasileira. Já Edgar Franco se mostra bastante contundente em sua crítica a estereótipos nacionalistas e oportunistas de autores interessados em agradar intelectuais, bem como a mentalidade colonizada de muitos autores, capazes apenas de fazer versões de seus heróis favoritos ou desenhar para o mercado estadunidense. A excessiva influência de modelos importados, especialmente dos EUA e Japão, é bastante explorada, deixando o trabalho bem atual. O capítulo de Henrique Magalhães versa sobre a longa tradição do humor no Brasil, citando autores muito ou pouco conhecidos que têm produzido tiras para a imprensa ao longo dos anos. A impossibilidade em se concorrer com os preços baixos e a estrutura superior do material estrangeiro é mencionada como um dos fatores para a dificuldade na construção de uma identidade nacional. Mesmo que, afinal de contas, seja quase impossível construir tal identidade em um país com tantas diferenças regionais, misturas étnicas e centros urbanos cosmopolitas. Os textos apresentam uma linguagem acadêmica, com tudo de bom e enfadonho que isso pode acarretar. Frases longas com divagações complexas e pontuadas por muitas citações podem afugentar o leitor habituado a uma leitura mais dinâmica e objetiva. Independente disso, a obra merece um olhar cuidadoso e pode servir como um ponto de partida para jovens quadrinhistas em busca de conhecimento sobre o pedregoso terreno em que se aventuram. Concordando ou não com os pontos de vista apresentados, o leitor poderá ter um amplo leque de opiniões, sejam elas ponderadas, realistas ou radicais, mas todas embasadas em muita pesquisa e conhecimento de causa. A questão da identidade nacional é pertinente mas, na prática, pode não levar a lugar nenhum. Pois, como Edgar Franco bem define em sua participação, a preocupação maior de qualquer autor deveria ser apenas produzir material de qualidade. A obra custa R$ 12,00 e pode ser adquirida junto à editora através de do e-mail: contato@marcadefantasia.com.br Resenha publicada originalmente no blog Sushi Pop. |
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