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Por Eloyr Pacheco 01/07/2005 Eloyr Pacheco - Podemos dizer que sua primeira experiência editorial foi o fanzine Olha a Frente!? Como foi que você se envolveu nesse projeto? Eddie Van Feu - Bom, eu já tinha me formado em Jornalismo e sempre editei jornaizinhos estudantis, da escola à faculdade, então o fanzine não chegou a ser uma coisa totalmente nova. A novidade estava no fato de trabalhar com várias pessoas e de ser um trabalho livre sobre temas que adorávamos. A idéia do zine surgiu no terraço da casa dos meus pais, quando estávamos dando uma festa (acho que era meu aniversário) e eu comecei a falar sobre a idéia de fazermos nossos quadrinhos profissionalmente. Da conversa, surgiu o zine, que era o primeiro passo. A primeira versão do zine não saiu. Ninguém entregou material, a gente não conseguiu se entender... Depois de um tempo (alguns meses), retomamos o projeto um pouco mais maduros. Aí saiu! O fanzine acabou se tornando a revista Olha a Frente!, publicada pela Editora Escala, e você passou a produzir outras publicações. Como a turma que originalmente se reuniu para produzir um fanzine se tornou um estúdio? Acho que foi um acidente! Quando nos unimos pra fazer um zine tínhamos a intenção de publicar profissionalmente. Não queríamos simplesmente contar histórias. Queríamos contar histórias e sermos lidos! Mas tínhamos consciência de que não tínhamos experiência nenhuma e por isso decidimos tentar um zine antes. Foi divertido, mas aprendemos que podíamos brigar muito e que não era tão fácil quanto parecia. Foram seis números do zine Olha a Frente! até nos sentirmos seguros para procurar uma editora. Com o zine nas mãos e um bom argumento, fomos de porta em porta vendendo nosso peixe. Depois de algumas portas na cara, pegamos um ônibus e fomos pra São Paulo, onde fomos na Escala. Começamos a trabalhar um mês depois, aos trancos e barrancos e era muito difícil! Ninguém tinha computador, as condições eram precárias, tudo era difícil e a maioria de nós estava perdendo os empregos. Nos dedicamos de corpo e alma e fomos aprendendo. Um de nós comprou um computador, logo depois outro comprou o seu. Como sempre fui mística, ofereci uma revistinha de anjos para o dono da Escala e ele aceitou. Avisei que não tinha maquinário pra fazer e ele foi super legal comigo, deixando que eu entregasse apenas o texto e os desenhos soltos. Eles diagramaram e me pagaram o valor integral do trabalho. Com esse livrinho de anjos eu comprei o computador e fui aprendendo, até poder fazer o trabalho todo sozinha. Quando a Olha a Frente! acabou, começamos a vender outros projetos, cada qual trabalhando no que conhecia mais. Assim fizemos revistas e livros sobre música, cinema, humor, piadas, seriados, anjos, magia cigana, informática... A editora passou a encomendar produtos e foi aí que descobrimos que podíamos fazer revistas de cozinha, artesanato, ervas e plantas que curam e etc... Tudo foi paciência da Escala - pois éramos novatos e inexperientes - e persistência de nossa parte. Como foi que surgiu a revista Booken? A partir dela surgiram novos projetos que hoje estão sendo publicados pela Editora Linhas Tortas, isso quer dizer que valeu a pena? A Booken surgiu de um sonho antigo de dar oportunidades a novos artistas. Deu muito trabalho, pouco dinheiro e muita satisfação. Descobrimos que nem todo mundo tem esse amor cego pela HQ que nós tínhamos e que era preciso profissionalizar aquela idéia. Depois da Booken (Editora M&C), a gente ainda fez uma nova tentativa com a Talentos do Mangá (Editora Escala), que foi um fiasco total e só durou 3 números. Com a experiência das duas revistas, percebemos que nunca mais queremos fazer uma coletânea na vida. Mas continuamos querendo dar oportunidades a novos artistas. Então usamos essa experiência para investir seriamente no quadrinho e usamos as histórias e artistas que mais funcionaram nas duas revistas anteriores (Alcatéia e Contos de Leemyar foram as que mais receberam cartas e elogios). Valeu a pena porque sem a Booken e a Talentos, não saberíamos metade do que sabemos hoje, sobre mercado, artistas e até sobre nós mesmos. Você dá aulas de Mangá na Escola Daniel Azulay; hoje os interessados em quadrinhos têm a oportunidade de poder freqüentar cursos como o seu, o que, há algum tempo, não havia. Como foi que você aprendeu a fazer mangá? Você é autodidata? Quais as suas principais influências? Eu fiz cursos de desenho clássico, quadrinhos, desenhava em casa olhando pra televisão e lia muito, tanto livros quanto HQs. Nunca me prendi a um estilo ou gênero. Eu queria que o desenho tivesse carisma e a história fosse boa (o que, cá entre nós, não é pedir muito). O estilo mangá pra mim foi natural, pois era como eu desenhava, mas tentei torcer para o comics ou para o quadrinho europeu. Ficou uma droga. Aprendi o mangá por conta própria, já que era um estilo não só desconhecido pelos cursos que eu fazia como ainda havia um preconceito contra "esses desenhos de olhos abertos que parecem Speed Racer". A onda era comics, que eu nunca consegui desenhar direito porque não sacava nada de anatomia. Então, um dia, decidi deixar de fazer o que os outros queriam e fazer o que eu queria e aí saiu um traço mangá sojo, já na Booken. Minhas influências são a velha escola de animê, já que não tinha mangá no meu tempo. Eu me baseava em desenhos como Candy Candy, Patrulha Estelar, Rei Arthur e, é claro, Cavaleiros do Zodíaco. Hoje, dou aula no Curso de Desenho do Daniel Azulay - um mestre e tanto - e coordeno a cadeira de mangá do curso, que está em seu terceiro ano. Lá, não ensino apenas desenho e roteiro, mas deixo o aluno livre pra descobrir seu próprio estilo e mostro animês e filmes raros para que o futuro artista tenha uma visão mais ampla da HQ e aprenda a ter opinião. Atualmente você escreve quatro títulos; haja imaginação, hein?! Qual seu método para escrever roteiros? Aprendi a fazer roteiros por necessidade. Já fiz roteiro pra teatro, curtas metragem e HQ e é algo que eu simplesmente amo fazer. Tenho um método muito intuitivo, mas aprendi uns macetes do que funciona ou não numa história, observando os bons filmes, séries e quadrinhos. Meu método é, antes de tudo, ter músicas que sejam a trilha daquela história. Assim, sempre que eu precisar voltar àquele roteiro, é só colocar a música que a história já "incorpora". Depois, crio os personagens, que são a espinha dorsal dos meus roteiros. Com personagens criados, faço os spots, uma série de eventos fora de ordem que devem entrar na história. Então começo a escrever, sempre conferindo os spots pra ver se não estou esquecendo nada. Com a história pronta, leio-a e vejo qual a mensagem que ela passa. Geralmente, a mensagem é boa e não há problema, mas se eu escorreguei e passei uma mensagem equivocada, reescrevo o que não está bom. Então passo para os membros da Frente! e para o editor da LT, e ouço as opiniões e sugestões. Às vezes eu acato, porque eles têm razão. Às vezes, não. A palavra final é sempre minha e eu gosto dessa liberdade. Escrever vários roteiros não chega a ser difícil, mas o fato de interromper a história para escrever outra coisa atrapalha muito. Por isso, gosto de escrever de noite, antes de dormir, quando o telefone não toca e eu sei que não vou ser interrompida por causa de outro trabalho. Também gosto de ficar o máximo de tempo possível num mesmo universo. Sair de Leemyar, ir para Alcatéia e voltar para Heróis S.A. é difícil, porque você perde a sintonia e demora a pegar no tranco. Então faço todos os roteiros possíveis de Heróis e Clube (que escrevo juntas porque são paralelas - o que as torna um pouco mais melindrosas), para então partir para Leemyar. Alcatéia já tem uma boa parte escrita porque quando pego nela, não saio de jeito nenhum. É a história mais densa, mais profunda e dramática e ela precisa de um envolvimento total. Quando entro em Alcatéia, não pode haver interrupção, então ela fica por último. Eddie Van Feu é um nome muito diferente. É seu nome mesmo ou simplesmente um pseudônimo? Um pouco de cada. Na escola começaram a me chamar de Eddie Van Hallen por causa do meu cabelão e meu jeito meio maluco, que ligavam ao roqueiro. De todos os apelidos que tive, esse ficou e já se parecia com meu nome, tornando-se com o tempo uma abreviatura. Acrescentei meu sobrenome e mantive como meu nome tanto na vida cotidiana quanto para assinar meus trabalhos. Hoje, até o banco aceita e é como assino. O Bigorna agradece a Eddie Van Feu pela entrevista (concedida em 14 de dezembro de 2004)
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