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Por Mário Latino e Marcio Baraldi 06/07/2010 Os muitos universos de Alex Raymond
Até esse momento Alexander Gillespie Raymond era desconhecido no mundo das HQ. Na verdade, começara a desenhar muito cedo, encorajado pelo pai. Aos 18 anos entrou para a Escola de Desenho Grand Central. Mais tarde trabalhou como assistente de Russ Westover na tira Tillie, The Toiler e depois com o célebre Chic Young e com o irmão deste, Lyman na série Tim Tyler's Luck, fazendo as tiras diárias e páginas dominicais. Quando o King Features Syndicate abriu um concurso para descobrir tiras em quadrinhos que pudessem enfrentar as tiras da concorrência, Raymond apresentou Flash Gordon e Jim das Selvas. Ganhou na hora, recebendo ainda o convite para desenhar o Agente Secreto X-9 que era escrita pelo famoso romancista Dashiell Hammett. Raymond se submeteu a um ritmo infernal, pois tinha que desenhar todas as tiras diárias, mais as páginas dominicais. O Agente Secreto X-9 fazia concorrência direta a Dick Tracy, mantendo-se em pé de igualdade com a tira mencionada. Jim das Selvas tinha a missão mais difícil de todas, enfrentar o Tarzan, de Foster. Não era tarefa fácil, mas as aventuras de Jim Bradley na África e no Extremo Oriente não fizeram feio competindo contra as façanhas do homem-macaco. Mas foi com Flash Gordon que Raymond atingiu o sucesso absoluto. A tira, futurista, narrava as aventuras de Flash, sua namorada Dale Arden e o professor Zarkov, no planeta Mongo, contra a cruel tirania do imperador Ming. Flash Gordon era, além de uma HQ de encher os olhos, uma verdadeira previsão do futuro. Reza a lenda que a NASA, serviço espacial dos EUA, se inspirou nos foguetes mirabolantes de decolagem vertical de Flash Gordon para desenvolver os foguetes de verdade. E que analisavam suas HQs para tentar criar na vida real as armas exibidas nos quadrinhos, como raios laser e afins. Enfim, uma ficção tão científica, que se afastou da ficção e se aproximou da realidade. Tudo graças a imaginação visionária (e quem sabe, mediúnica) de Raymond! Com tudo isso, lógico que Flash Gordon transformou-se num sucesso, sobretudo pela beleza do estilo de seu estilo, cujos desenhos - limpos e claros - pareciam ter se inspirado nas pinturas de Michelangelo. E, se em Flash Gordon a eterna luta entre o bem e o mal se manifesta de maneira simplória, com uma história que não era lá essas coisas, a concepção plástica da mesma compensava tudo. Pouco tempo depois, à beira do esgotamento, Raymond largou Agente Secreto X-9 e Jim das Selvas para se dedicar exclusivamente à sua cria mais famosa, Flash Gordon. Enquanto isso, nuvens negras de guerra se acumulavam nos céus da Europa. A catástrofe estava por chegar, e nem desenhistas de histórias em quadrinhos estavam imunes a ela. Do Planeta Mongo para as ruas de Nova Iorque
É importante dizer que, enquanto os políticos norte-americanos pregavam uma neutralidade imbecil, os desenhistas em quadrinhos já tinham assumido uma posição beligerante. Isso fica mais que evidente quando vemos o material que era publicado então. Os heróis desenhados por Milton Caniff derrotavam as hordas japonesas e o agente X-9 desmantelava redes de espiões alemães na mesma época em que Tarzan, O Fantasma e O Capitão César, entre outros, enfrentavam nas tiras de jornal o perigo totalitário que nos anos vindouros colocaria o mundo em xeque. Quando os Estados Unidos, apavorados pelos acontecimentos de Pearl Harbor, entraram na guerra os desenhistas de histórias em quadrinhos já estavam preparados para fazer sua contribuição. Enquanto a maior parte desse aporte se refletiu nas tiras para jornal, alguns desenhistas foram para o campo de batalha, Raymond entre eles. A bordo do porta-aviões USS Gilbert Islands, e com a patente de capitão, testemunhou as batalhas de Okinawa e Bornéu. Em 1946, já de volta do horror da guerra, Raymond inicia uma nova tira, Rip Kirby. No Brasil, Rip Kirby foi batizado como Nick Holmes, numa tentativa de associá-lo a Sherlock Holmes, o mais famoso detetive da literatura. Kirby (ou Nick Holmes), como Raymond, é um ex-oficial da Marinha que se torna detetive particular. Suas aventuras, tendo como pano de fundo a alta burguesia nova-iorquina, nostálgica por um mundo aristocrático que não existe mais, mostram uma evolução incrível na construção psicológica das personagens. Não é mais o ponto de vista simplório das histórias de Flash Gordon. Em Rip Kirby, Raymond deixa claro que o crime é, muitas vezes, produto de um sistema econômico injusto e excludente. E, como na novela noir, muitas vezes a podridão está instalada nas classes sociais mais abastadas.
O crítico americano Kenneth Rexroth declarou que todas as histórias de aventuras podem ser reduzidas a dois protótipos: A Ilíada e a Odisséia. Desse ponto de vista o Flash Gordon seria o Aquiles das HQ enquanto Rip Kirby viria ser Ulisses. Rip Kirby ficou melhor ainda quando à equipe de Raymond se juntou Fredd Dickinson, ex-repórter policial. Os roteiros adquiriram um realismo e ritmo que não tinham até então. Após a morte de Raymond, Rip Kirby continuou sendo feita pelo desenhista John Prentice. E, coisa estranha, o trabalho de Prentice era tão idêntico ao de Raymond que os conhecedores não sabem dizer onde termina o trabalho de um e começa o do outro. Costuma-se dizer que criadores e artistas atingem o ápice da criatividade aos cinqüenta anos, quando talento e experiência se equilibram. Se isso é verdade, Raymond, o criador das fabulosas páginas de Flash Gordon, ainda estava apenas começando! De qualquer forma, Alex Raymond tornou-se um dos maiores gigantes da História das HQs e um dos artistas mais influentes de todos os tempos. Praticamente impossível encontrar um artista dos quadrinhos que não se ajoelhe frente a magnitude e perenidade da obra de Raymond. Já seu personagem maior, Flash Gordon, também, entrou definitivamente para a cultura pop da Humanidade, tendo se transformado em seriados de TV, filmes para cinema, desenhos animados e toda sorte de merchandising, além de Quadrinhos, claro. Entre os excelentes artistas que desenharam Flash Gordon após a morte de Raymond estão nomes históricos como Gil Kane, Dan Barry,e o mais importante de todos, o extraordinário Al Willianson (veja aqui), que era tão apaixonado pela obra de Raymond que se tornou seu mais fiel discípulo estético, tendo alcançado com sua obra o mesmo grau de virtuosismo e exuberância de seu Mestre máximo. Aliás esta é a melhor definição para Alex Raymond: o Mestre máximo dos Quadrinhos mundiais e seus muitos universos! |
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