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Resenha: A Comadre do Zé
Por Matheus Moura
13/02/2009

O pessoal da Graffiti não brinca em serviço. Mal o ano começou e já lançaram um álbum 100% Quadrinhos – como é conhecido o coleção que só publica HQs. Depois dos livros Um dia uma morte (Fabiano Barroso, Piero Bagnariol) e O relógio Insano (Eloar Guazzelli), é publicado A Comadre do Zé (74 págs., formato 17 x 25 cm, preto e branco), de Luciano Irrthum.

E o impacto é imediato, a começar pela capa. Ela carrega um amarelo chamativo, o qual misturado com o preto dá o tom do alerta: “limpa o pé!!!” - grita o nervoso senhor que está em primeiro plano. O berro mais parece um aviso ao leitor que irá adentrar o estranho mundo de Irrthum. Estranho não só pelo tema – que surpreende – mas também pelo traço estilizado e singular. O jornalista Paulo Ramos, na introdução, faz a aproximação do estilo de Irrthum com o de Colin, Mutarelli, Jô Oliveira e Marcatti. Não posso deixar de concordar com ele, mas mesmo assim, Ramos não conseguiu denominar exatamente com – os exemplos – o que realmente remete os desenhos de Irrthum. Penso que só a ele mesmo. Nisso concordo com Pablo Pires, em seu texto ao final do livro.

Quanto à história em si, ela aborda a vida comum de pessoas interioranas. Mas interioranas mesmo, daquelas cidadezinhas “onde a luz elétrica só chegou no ano passado”. Dessas existem inúmeras no país, principalmente no interior de Minas e subindo. Bom, mas não é este o cerne do tema. A História aqui começa com o casal Zé e Maria (mais típico não há!). Em realidade como a deles, é normal ter de seis filhos para cima. Zé está nessa. Infelizmente uma TV usada que comprou estraga. Agora sem a diversão familiar, o que há de se fazer? Ir para o quarto parece ser o melhor passatempo. Dessa forma mais um rebento entra na fila. Com a grande quantidade de filhos que possuem, Zé e Maria têm o problema de conseguirem pessoas para batizarem o novo bebê que está a caminho. O primeiro estranho que aparece é o “cumpadi”, mas o inusitado mesmo fica por conta da cumadre do Zé. A partir disso começa a suceder uma sequência de fatos estranhos. Irrthum dá boa condução a história pecando somente em algumas pequenas repetições. Acredito que se ele tivesse escrachado mais ainda o linguajar interiorano ficaria melhor, pois há momentos que pelo ritmo de leitura não parece que o personagem usaria determinado tipo de expressão e/ou pronúncia.

Fora isso não há o que reclamar. Quem conhece os traços do artista sabe o quanto ele melhorou e vem melhorando com o passar do tempo. Teve até um caso em que li uma HQ dele publicada em um zine e a reli depois na Graffiti #17, com as linhas atualizadas. Sem comparação! Entretanto, se por um lado não se tem muito o que reclamar do autor, há de se chamar a atenção para uma falha editorial. No livro o que comentam do autor é muito vago: “Irrthum colabora há 15 anos com a Graffiti 76% Quadrinhos e com inúmeras outras revistas e A Comadre... é seu primeiro álbum” (claro que resumi). Só isso? Quero conhecer mais da vida dele, quais são as revistas com que colaborou (pelo menos as principais)? Site ou blog, não há? Preciosismos à parte, este álbum merece ser conhecido, lido, relido e figurar ao lado de outros grandes trabalhos como Estórias Gerais, de Sberk e Colin.

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