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Horror Negro: talentos nacionais reunidos
Por José Salles
30/07/2007

Horror Negro, publicação em formatinho brochura da Editora Nova Sampa lançada em 1990, merecerá destaque neste artigo por reunir numa só revista alguns dos mais formidáveis quadrinhistas do cenário nacional. Esta edição que me foi presenteada por Edu Manzano permanece até hoje impecavelmente conservada – o acabamento gráfico do gibi, registre-se, é igualmente cuidadoso (a capa é plastificada).
 
Abre a revista uma HQ de Olendino Mendes chamada Velha História, com um ato de vingança do além: o corpo putrefato da esposa traída pelo marido com a irmã mais nova, despertando do túmulo e, sedenta de revanche, vai aplicar no casal adúltero horrendos assassinatos. O sobrenatural criado por mãos & olhos profundamente humanos. Romãozinho é a história que vem a seguir, assinada por uma dupla peso-pesado: Júlio Emílio Braz escreveu e Flávio Colin desenhou a lenda de Romãozinho, negrinho nascido no sertão, cruel a ponto de provocar intrigas mortais no seio da própria família. Após tamanha perfídia, a mãe do negrinho rogou-lhe a praga da imortalidade, e até hoje Romãozinho está vivo e matando qualquer viajante desavisado que lhe cruze o caminho.

Arte de Flávio Colin para a HQ Romãozinho

 
Épico nas páginas de Horror Negro: aos olhos dos felizardos leitores surge a HQ Monstrinhos, assinada por Eloir Carlos Nickel – um dos melhores senão o melhor autor do estilo ficção & fantasia do Quadrinho brasileiro. Com notáveis influências de filmes de ficção científica dos anos 70 do século XX, deslumbrantes cenários apocalípticos mostrando imensas cidades desertas. Sem que se saiba porquê, as crianças de todo o planeta tornaram-se furiosos assassinos, e as orgulhosas metrópoles de outrora agora não passam de cenário desolador, onde os poucos adultos, acuados na silenciosa selva de pedra, defendem-se como podem dos precoces carniceiros. Como vocês sabem, nos dias politicamente corretos que seguem, alguma obra de arte que mostre violência contra crianças é veladamente censurada por aqueles que controlam os meios de comunicação – e nesta HQ de Nickel há fartura de descrições de violência contra os pirralhos – e creio que a maldade está mesmo em quem vê: para mim, esta HQ, além do deslumbre visual do traço do autor, é de bom humor à toda prova. Não é pra menos que o quadrinhista tenha dedicado este trabalho a seus monstrinhos, digo, a seus próprios filhos. Felizes os que puderam ler esta HQ em tamanho grande numa edição especial de Medo:Terror-Crime-Loucura lançado posteriormente pela Press Editorial. Anos depois, um triste acidente tirou a vida de uma das filhas de Nickel.
 
Outro excelente artista presente neste gibi Horror Negro: Rodval Matias assina & desenha Um Caso Diferente, onde um detetive particular, buscando os assassinos de um empresário, vai contar com uma ajudazinha do além – uma ótima história policial, no ritmo dos seriados televisivos como Além da Imaginação. Rodval Matias passou o nanquim na HQ a seguir, escrita por Júlio Emílio Braz com lápis de Mozart Couto chamada O Símio – Aurora. Não se iludam com este título que lembra os filmes de pornochanchada, trata-se de uma HQ com referências muito mais sofisticadas, que vão dos filmes de ficção científica como a primeira parte de 2001 Uma Odisséia no Espaço, numa simbiose de mitologias bíblicas. O início da eterna luta do homem consigo mesmo, com seu lado mau, o constante conflito civilização-barbárie que desde sempre acompanha a humanidade.
 
Encerra a revista com chave de ouro outra HQ de Eloir Carlos Nickel, 2061 – A Última Passagem, prova que a vingança é mesmo um prato que é melhor quando servido frio – e que lugar mais frio do que as profundezas do espaço? No futuro, um velhinho porreta vai dar o troco num asteróide que teria sido o responsável pela destruição de seu adorado planeta. Outro grande mérito desta edição – e que na verdade não deveria ser mérito, mas obrigação de todas as editoras – é uma página onde se dão notas sobre os colaboradores e ficamos sabendo o ano de publicação da revista. Parece simples, mas nada é muito simples quando falamos de mercado editorial dos Quadrinhos brasileiros.

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