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Entrevista: Lorde Lobo
Por Edu Manzano e Marcio Baraldi
15/08/2010

"Tá mais do que na hora do governo fazer sua parte e defender os quadrinhistas brasileiros!"

O gaúcho Lorde Lobo é um daqueles caras cujo entusiasmo e talento o transformam num sujeito catalizador das atenções! Sempre envolvido em projetos de qualidade, vem escrevendo seu nome na história das HQs brasileiras com muito trabalho e talento. Inteligente e polêmico, Lobo acredita no potencial dos quadrinhos brasileiros e não aceita críticas vazias ou preconceituosas! Lobo é membro de uma geração que mostrou ao mundo que os quadrinhos brasileiros podem ser tão bons quanto os produzidos no primeiro mundo! Na área do humor Lobo criou o atrapalhado TopMan e na praia dos quadrinhos sérios criou um dos (anti)heróis mais interessantes dos últimos tempos: o zumbi Penitente, personagem que se tivesse sido criado pela Marvel, por exemplo, seria elogiado e cultuado por toda a colonizada crítica nacional. Mas, como ele é brasileiro...
Com vocês, em plena lua cheia, uivando pelo campo, no meio desse temporal: Lorde Lobo!AUUUUUUUU!....

1 - Você é um dos mais ativos criadores e divulgadores dos quadrinhos nacionais, o que você acha que os quadrinhos brasileiros têm de especial?

Bem, creio que nem faço tanta coisa assim. Na verdade, no momento, só tenho trabalhado com meus próprios personagens! Na época do prozine Areia Hostil sim, fazia algo mais em prol do quadrinho nacional, enquanto coletividade, pois abria as páginas da publicação para diversos artistas.

Hoje, como disse, estou num momento de dedicação aos meus próprios personagens, principalmente ao Penitente. E luto por um espaço pelos quadrinhos nacionais porque acho extremamente injusto que, num país como o nosso, os únicos quadrinhos de heróis que estão nas nossas bancas, sejam os norte-americanos! É nosso país! São nossas bancas! Mas são os personagens deles.

O que o quadrinho brasileiro tem de único? Bem, acho que nem é essa a questão, uma vez que trabalhamos com conceitos universais, como super-heróis, monstros, mocinhos e bandidos! Só tenho lutado por um espaço mais digno para nós, autores brasileiros!

2 - Como ativo produtor e divulgador você também combate veementemente os inimigos da HQ Nacional, como vê isso? Como você vê os ataques gratuitos e sem razão aos artistas e HQs nacionais?

Pra ser sincero, já fui mais preocupado com isso! Hoje, já desisti desse tipo de gente! Se querem ser um bando de paga-pau pros norte-americanos, que sejam! Mas é realmente ridículo este ataque a produção nacional! Na maioria das vezes os caras nem leram e já estão falando mal! Isso é preconceito! Isso é atestado de mente fechada! Enfim, isso é idiotice!

3 - Você vem tendo sucesso e um grande retorno do seu personagem Penitente e sua série, conte-nos um pouco sobre o personagem, como surgiu a ideia de criar seu conceito?

Bem, o que chamas de sucesso, chamo de "investimento", pois é nessa fase que o Penitente está. Estamos apenas investindo, o mais pesado que podemos, no personagem. E veja que falo no plural, pois não estou fazendo isso sozinho.

Sem meus colaboradores, nada disso estaria acontecendo! Eles são as figuras mais importantes nesse momento! E como eu já disse em outras ocasiões, não tive trabalho algum na hora de criar o Penitente, pois ele simplesmente apareceu em minha mente, só tive que chegar em casa e anotar tudo. Conto como isso se deu na primeira edição da revista. Quem quiser saber de forma mais detalhada, já sabe, basta comprar a revista (risos)!

4 -Você centralizou os roteiros em você e tem feito o trabalho de ilustração com outros artistas? Fale do processo de produção das HQs do Penitente e dos artistas com quem esta trabalhando!

Não, não centralizei os roteiros em mim! Na verdade, sou o cara que cuida de tudo no que diz respeito ao Penitente, estou por dentro de tudo que aconteceu e vai acontecer (não podia ser diferente), mas há sim caras que colaboram como roteiristas, como é o caso de Edvanio Pontes, Rafael Tavares e outros que aparecerão nas futuras edições e especiais. Claro que sempre estou envolvido em cada processo, mas a revista é o resultado de um trabalho de equipe! O Penitente surgiu em minha mente no final de 2006 e passei o ano de 2007 escrevendo e organizando o universo dele. Só em 2008 lançamos a edição número 1 da revista! Os primeiros caras a acreditar no Penitente, depois de mim, foram Nel Angeiras e Edvanio Pontes! Depois vieram Israel Gusmão, Rafael Tavares, Jader Corrêa e Matias Streb, isso pra falar apenas das edições que já foram lançadas! Mas tem MUITOS outros nomes envolvidos nas edições que estão por vir! É muita gente boa. Aguardem!

5 - Junto ao Sideralman, Necronauta e Cometa, o Penitente é um dos personagens mais originais e criativos da nova safra de heróis, se é que podemos chama-lo assim. Mesmo assim, muitos já criticaram os Super-heróis brasileiros acusando-os de meras cópias dos americanos. O que você acha disso?

Obrigado por ter colocado o Penitente ao lado desses outros personagens que curto muito! A diferença maior entre eles é que, dos citados, o Penitente está mais para anti-herói do que herói, propriamente falando.

Bem, até entendo que alguns heróis brasileiros possam lembrar outros que já existem. O engraçado é que sempre tentam comparar com os personagens norte-americanos, como se estes fossem os mais originais! (Nota do Entrevistador: Vocês não imaginam as besteiras que falam de personagens brasileiros, inclusive por parte de quem diz defendê-los, mas só os usa de fachada para promover suas revistas - de heróis americanos, claro!). Lá nos EUA tem muita cópia da cópia, da cópia etc. Quem criou o conceito de super-heróis (ainda que com outro nome), foram os gregos e outros povos da Antiguidade, quando escreviam sobre seus deuses e semi-deuses: Hércules, Jasão, Sansão, Thor, Maciste, esses são os primeiros herói da Humanidade! Depois deles, são só adaptações modernas dos mesmos conceitos antigos! Mas falando em personagens norte-americanos, basta comparar Savage Dragon com Hulk, Ripclaw com Wolverine, Homem-Elástico, Homem Borracha e Sr. Fantástico e assim vai. Mas parece que estes opositores dos quadrinhos brasileiros não enxergam isso, preferindo fazer essas comparações fracas só com os personagens brasileiros! É claro que tem muito personagem fraco nos quadrinhos nacionais, mas isso o próprio público julgará!

6 - Pelo Penitente ser uma mistura de justiceiro com morto-vivo, seu conceito possibilita diversos caminhos nos roteiros.

O Penitente é um morto-vivo-justiceiro! Sobre os roteiros, sim, há muitas possibilidades! Estamos tentando explorar o personagem aos poucos, mas como a coisa é feita de forma independente, é um tanto lenta. Ideias temos aos montes, mas tem que se ter paciência para concretiza-las. Nestes três números já lançados da revista eu procurei fugir de certos clichês típicos do gênero super-herói, do tipo: "surgiu um super-herói na cidade, no mesmo instante surgem os super-vilões para combatê-lo", etc. Na revista do Penitente, as coisas estão acontecendo aos poucos, o próprio personagem está se descobrindo! Até então, ele só lidava com o natural, agora ele é o sobrenatural e o anormal! Ele ainda só tem enfrentado inimigos bastante "normais", mas aos poucos as coisas irão mudar.

7 - Quais as próximas produções envolvendo o personagem?

Estamos trabalhando num especial que mostrará a vida do personagem antes dele ter se tornado o zumbi Penitente. Também estou juntando material para um especial só com encontros do Penitente com outros heróis nacionais. Há ainda um roteiro bem legal, escrito por Rafael Dantas, que faz uma costura bem interessante entre vários personagens do universo do Penitente. Mas estas produções estão, em sua grande maioria, sem desenhistas, ainda na fase de roteiro.

8 - Além do Penitente, dê uma geral sobre suas outras criações suas e quais os planos para elas?

Bem, no momento estou me concentrando no Penitente, mas planos de retomadas existem, é claro! Sobre o Topman, penso em voltar com ele qualquer dia desses! Já tenho material pronto para ser lançado! Tem também o Lipe, que é meu personagem infantil, com este trabalho todas as semanas, pois ele é  o personagem principal do caderno infantil que sai encartado todas as segundas-feiras no jornal onde trabalho, o "Agora", do Rio Grande / RS. Estou com um livreto, contendo as primeiras tiras dele, pronto para ser impresso! Para o prozine Areia Hostil também há planos de um retorno, mas eu e Law Tissot, meu sócio nesse projeto, ainda temos que ver se isso será possível.

9 - Como você vê, do ponto de vista ético, pessoas que divulgam quadrinhos brasileiros em revistas e sites, dizendo-se defensoras dos mesmos, mas os atacando em comunidades de relacionamentos e blogs?

Penso que às vezes falamos ou escrevemos coisas que podem ser mal interpretadas. Outras vezes, estamos de saco cheio por algo e acabamos "descontando" em outro lugar e, novamente, mal entendidos acontecem. Há ainda momentos em que não conseguimos nos expressar da melhor forma, enfim, são muitas as possibilidades para algo ruim acontecer, discussões terem início e tal. Às vezes me decepciono com um ou outro "colega", mas sei que tem gente que pode se decepcionar comigo também!

Sobre o ponto de vista ético, nem seria ético de minha parte falar mal de alguém. Cada um sabe de si e faz o que acha que pode fazer! E ninguém precisa gostar do que eu faço! Mas pessoalmente acho perigoso um formador de opinião dizer que só isso ou aquilo é bom! Como diz um grande amigo meu, o JJ Marreiro, o Brasil é um país tão “interessante” que, em muitos casos, o jornalista pensa ser mais importante que o artista! Incrível, mas é verdade!

10 - Dos heróis e super-heróis nacionais quais os seus preferidos?

Acredito no potencial de muitos! Mas entre meus preferidos estão o Cometa (Samicler Gonçalves), Necronauta (Danilo Beyruth), Lorde Kramus (Gil Mendes), Mulher Estupenda (JJ Marreiro), Nova (Emir Ribeiro) e, mais recentemente, Comando V (Alan Goldman). Tenho um carinho especial pelos Invictos (Rafael Tavares) e outros poucos. Mas, preparem-se para receber os Noturnos (Nel Angeiras)!!!

11 - E dos autores?

Putz, já os citei acima! Mas há muitos outros como Will (Sideralman), Samuel Bono (Bucha), Edvanio Pontes (Coelho Puto), Law Tissot (Cidade Cyber), Edu Manzano (Tormenta) e muitos e muitos outros, que sei que estarei esquecendo e ficarão chateados comigo (desde já, desculpem pela minha falta de boa memória).

12 - Como roteirista e ilustrador, quais suas principais influências?

Na verdade, estou ainda me descobrindo como roteirista! Já como ilustrador, minha maior influência passou a ser o estilo desenvolvido por Bruce Timm. Mas na verdade, sou um ilustrador de quadrinhos infantis e de humor. É onde me sinto mais seguro!

13 - Você colocou uma HQ do Penitente no site da multinacional Oi! essa experiência lhe trouxe bons resultados em termos de divulgação e retorno?

Foi bem legal a experiência! Principalmente pra conquistar um novo público!  Os caras envolvidos nos quadrinhos da Oi são muito competentes!

14 - Qual sua visão do mercado de quadrinhos no Brasil, Lobo?

Porra, nesse ponto sou bem "frio e calculista" (sempre quis usar esta expressão-risos)! Acho que nos falta uma visão mais empresarial! Falta pensarmos como empresários que defendem seu mercado! E nosso mercado está tomado pelos gringos, sejam americanos, europeus ou asiáticos. É hora de retomarmos o nosso espaço. Empresários calçadistas, tabagistas, têxteis, ou seja lá de que ramo for, não deixam o mercado ser enfraquecido pela entrada de produtos gringos. O Governo até os defende! Mas em se tratando de quadrinhos, nada é feito e todos batem palminhas! Sou, SIM, a favor das cotas de impressão e distribuição! Se uma Panini da vida vem pro Brasil, que seja obrigada a INVESTIR em produto nacional, sim senhor! Esse papinho de que quadrinho nacional não vende é mentira destes porcos nojentos (e peço desculpas aos porcos pela comparação com este tipo de gente), pois nada que não tenha investimento de mídia vende! Bastaria um investimento nesse sentido pra coisa funcionar! Tá mais do que na hora do Governo fazer a sua parte e defender os quadrinhistas brasileiros! Eu tenho a sorte de viver do meu traço e das minhas ideias, mas tô cansado de ver colegas tendo que trabalhar em supermercados, fábricas, lojas ou em qualquer outra coisa pra poderem sobreviver. Isso tem que acabar! Chega de visão romântica que diz "o que é bom não precisa ser imposto, não é preciso obrigar a editora a publicar o que não vende.". Bah! Fala sério, papinho de babaca que não sabe do que são feitos os mercados! Tem muito lobby, muita negociação, muito investimento e muita lei. Chega de ser sonhador, é preciso ser empresário!

Costumo citar um exemplo bem simples: tente importar cebola (ou qualquer outro produto) de forma indiscriminada, pra ver se deixarão entrar no país. Claro que não! E por que não deixam?! Porque o Governo defende os produtores nacionais de cebola (ou do que for). Então por que não fazem o mesmo pelos produtores de quadrinhos?!? Está na hora disso mudar!!!

15 - Fala de forma simplificada como deveria ser uma lei de proteção e incentivo ao Quadrinho Nacional. Se você fosse um deputado por exemplo, como seria o seu projeto de lei?

Resumindo: apoio ao sistema de cotas de importação, como ocorre com qualquer outro produto comercial! Simples assim! É pegar o que já funciona em todos os demais produtos nacionais e aplicar também nos quadrinhos!

16 - Nos últimos anos temos visto que as editoras optaram pela diversificação de produtos e autores, pois os quadrinhos não têm grandes tiragens como no passado. Essa nova realidade possibilita que autores independentes possam vender e administrar seus produtos com mais facilidade. Qual sua visão dessa "possibilidade"?

Antes os leitores só podiam comprar o que existia a disposição deles. Hoje o leque é bem maior! E não é porque as editoras (na verdade, são apenas republicadoras) ficaram boazinhas! O advento da internet mostrou que havia muita coisa sendo escondida. É o momento de aproveitar a brecha, sim! Mas não basta apenas produzir sem saber o que estamos fazendo, ou seremos tal qual o papagaio que fala sem saber o que diz. E preciso fazer pressão política também! Tá na hora de nos mexermos, em todos os sentidos!

17 - E se você tivesse um milhão de reais pra montar uma pequena editora, o que você faria? O que publicaria e como distribuiria?

Meu sonho é justamente este (risos)!  Bem, eu investiria em quadrinhos nacionais de qualidade! O problema maior é realmente a questão da distribuição, pois até isso está monopolizado no Brasil. Seria preciso investir também numa distribuidora?! Talvez.

18 -Se o gênio Shazam lhe concedesse três desejos, o que você pediria?

1º) Paz no mundo... Opa! Isso é desejo de candidata à Miss (risos)!
Cara, sei lá... Porra! Difícil essa! Que os humanos cumprissem os 10 Mandamentos já seria um bom começo! Depois eu guardaria os outros dois pra pensar e usar na hora certa  (risos finais)!

Visite o site do artista aqui.

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