NewsLetter:
 
Pesquisa:

Entrevista: Leonardo Melo
Por Eloyr Pacheco
28/11/2008

O roteirista e editor independente Leonardo Melo criou a Quadrinhópole, uma das mais bem-sucedidas publicações lançadas recentemente no mercado independente de Quadrinhos brasileiro. Leo é atualmente um dos mantenedores do coletivo Quarto Mundo, que vem colaborando com a proliferação de títulos e divulgação do Quadrinho Nacional. Nesta entrevista, sua segunda para o Bigorna.net (leia a primeira aqui), entre outros assuntos, ele faz uma avaliação da Quadrinhópole, que chegou ao seu 7º número, e do mercado de Quadrinhos.

Qual a sua avaliação comercial da Quadrinhópole depois de sete números lançados?

Bem, faz dois anos que começamos a publicar, e só agora começaram a esgotar os primeiros números da revista. Praticamente sem distribuição e sem divulgação e ganhando um prêmio HQ Mix, acho que foi uma grande vitória. Claro que ninguém fez isso para ganhar dinheiro, mas acabamos ganhando uma projeção muito grande nesse período, e esse era o objetivo desde o início, então, acho que consegui cumprir o programado.

Na prática, essa projeção trouxe o que de positivo para você?

Acho que o principal resultado disso foi “ter saído do anonimato”, hehehe. Essa experiência toda serviu para que eu me tornasse um pouco conhecido no meio, e que conhecesse várias pessoas também, o que acaba resultando em várias oportunidades. Foi daí que surgiu o Quarto Mundo, por exemplo, e diversas outras parcerias para meus projetos atuais. Hoje em dia o pessoal que conhece um pouco do mercado nacional sabe que tem um maluco lá em Curitiba escrevendo uns roteiros doidos. Pessoal de publicações novas me mandam suas revistas pra saber minha opinião, e essa troca de experiências é muito legal. No fim, creio que essa aventura se resumiu nisso: ganhar um pouco de experiência.

Ok, você saiu do anonimato e ganhou experiência! Isto basta para você?

Claro que não! Agora, quero ganhar dinheiro e dominar o mundo! (risos). Falando sério, acho que a Quadrinhópole cumpriu seu objetivo principal. Agora, é hora de evoluir... dar o segundo passo. Daí vêm os outros projetos. Apesar de que, esses dias mesmo estava me dando uma saudade de ficar do lado de fora da Fest Comix vendendo a Quadrinhópole #1 (não acredito que estou dizendo isso).

Ahahaah, eu me lembro das bagunças (no bom sentido, claro!). Eventos como o Fest Comix, considerado no gênero o maior no Brasil, no seu ponto de vista, agregam o quê ao mercado?

Tirando a proliferação desenfreada dos fanboys? Hehehehe. Bom, precisamos de eventos de Quadrinhos, mas não só para o público de Quadrinhos, esses eventos deveriam agregar outras artes também, para trazer público de fora. É disso que estamos precisando hoje em dia. Claro que é importante essa constância de eventos, como o Fest Comix e o FIQ, pois é lá que quem é do meio acaba se encontrando e é a oportunidade de discutir coisas como essas que estamos falando. Mas precisamos de mais!

Das sete, qual a que mais lhe agradou? Por quê?

A sétima, porque foi o ápice de uma evolução que começou desde o número 1. A cada número houve uma evolução, aprendendo com os erros, não só na qualidade gráfica, mas no processo como um todo. E olhando para as seis edições que vieram antes dela, parece que tudo caminhou para que ela fosse o resultado final.

“Aprender com os próprios erros e acertos”, produzir uma publicação até achar que ela chegou no ponto ideal, mas será que é somente para isso que o mercado independente se presta?

Não. Isso é conseqüência de quem nunca tinha publicado nada e quis se meter a besta... hehehe. Então, é natural que você vá progredindo, aos poucos. Mas o mercado independente é hoje a única alternativa de publicação pros artistas nacionais. Em outras palavras, o mercado independente se presta justamente a levar Quadrinhos nacionais ao público interessado. Felizmente, este é um público que está crescendo, pois estão vendo que tem muita coisa de qualidade nesse meio.

Qual a HQ de todas as edições que você mais gostou?

Difícil escolher uma favorita. O primeiro nome que vem na cabeça certamente é o Undeadman (o arco completo apresentado nas edições 1 a 5), não só por ser o personagem que eu criei, mas até hoje vejo gente elogiando e falando o quanto ele se destacou na revista, sobretudo por causa da arte do André, também. E foi uma das poucas que é praticamente unânime em não receber críticas negativas. Mas para não parecer auto-elogio, se tivesse que escolher uma que não fosse de minha autoria, acho que seria a Abraços por R$ 0,50, do Léo Santana e do Laudo, publicada na sétima. Foi uma história que realmente superou minhas expectativas.

Quais são seus planos para a revista a partir de agora?

Por enquanto quero continuar participando de eventos, na medida do possível, e continuar ajudando o Quarto Mundo a se fortalecer, para ajudar nas vendas da revista. Ainda tenho muita coisa aqui enchendo meu armário e quero me desfazer dessas edições antes de pensar numa possível oitava edição. Mesmo porque agora estou mais interessado em trabalhar nos meus projetos pessoais. Tenho alguns álbuns em andamento, como o primeiro volume das histórias do Undeadman, fechando a fase na Idade Média, e outros em parceria com Bira Dantas, Ângelo Ron, Laudo e André Caliman. Tem muita coisa ainda pra tirar da gaveta, seja através da Quadrinhópole ou não.

Mas, como fica a periodicidade da Quadrinhópole?

Não fica. Hehehehe. A revista está em “stand by” por enquanto, e se eu vier a fazer a #8, creio que será bem diferente das outras, e sem periodicidade definida. Essa de publicar trimestralmente as 7 edições foi uma loucura que eu fiz, porque tinha me comprometido desde o #1. Mas hoje é inviável, da forma como vínhamos fazendo, manter uma publicação independente com uma periodicidade constante. O tempo é muito curto para que você consiga vender o suficiente entre uma edição e outra para que a revista continue se mantendo. Talvez, no futuro, com o fortalecimento do QM e o esquema de distribuição, possa ser possível algo assim, sem levar um prejú. Mas no momento atual, é complicado, a menos que você consiga um patrocinador muito bom, mas aí os radicais já diriam que você não é independente... heheheheh.

Você não pensa em procurar uma lei de incentivo à cultura ou anunciantes para a Quadrinhópole?

Já pensei, sim. Até inscrevi um projeto no último edital do mecenato que teve aqui em Curitiba, mas não passou. O duro é correr atrás de capitação depois que o projeto é aprovado, tem que ser alguém que manje. E não tenho condições de pagar alguém pra correr atrás disso pra mim no momento. E já pensei em vender anúncios, sim, até já fui atrás de alguém pra correr atrás disso pra mim, mas não deu muito certo. O problema é que nós, editores independentes, temos que correr atrás de tudo sozinhos. É cobrar os colaboradores, correr atrás de patrocínio ou anúncios, diagramar a edição, revisar, mandar pra gráfica, buscar as revistas, fazer a propaganda, agilizar algum evento de lançamento, distribuir, vender, atualizar o site ou o blog... é coisa que não acaba mais. E ainda temos nossas vidas particulares pra cuidar, então é complicado você largar tudo pra correr atrás de anunciantes pra uma revista da qual eles nunca ouviram falar e que nem sabem se vai atingir o público que eles esperam. Essa é a nossa realidade.

Falando em público: você conhece o seu público? Qual é o público da Quadrinhópole?

Acho que a maior parte é composta por leitores já acostumados a comprar coisas diferentes. Colecionadores compulsivos que compram qualquer coisa que vêem pela frente... heheheeh. Mas tem vários amigos e amigos de amigos, também, o que é legal por justamente trazer esse “público de fora” para dentro do meio.

Legal seus planos para o Undeadman. Mas, há algo em andamento ou já com data marcada para lançamento?

Está em andamento, tanto o Undeadman quanto os outros. Minha idéia era lançar pelo menos 1 deles ano que vem, mas sabe como são os desenhistas... tudo depende do ritmo deles... hehehehe.

O fortalecimento do Quarto Mundo ajudou a revista comercialmente?

Ainda é cedo para dizer. Apesar do QM estar ativo há 1 ano, o grande forte do grupo deu-se em eventos e na divulgação do Quadrinho nacional. Claro que isso certamente ajudou a revista a conquistar o HQ Mix e conseguir uma projeção muito maior do que conseguiria sozinha, mas só recentemente a gente conseguiu estruturar um esquema de distribuição independente. É um esquema que ainda está engatinhando, e que deve demorar um pouco para colhermos os frutos e fazermos um balanço do que funciona e como, até deixar tudo "redondo". A luta continua.

Como funciona este esquema de distribuição montado pelo Quarto Mundo?

Basicamente, a idéia é que tenha uma pessoa em cada cidade (ao menos as capitais) para receber os títulos do QM e distribuí-los nas bancas e/ou comic shops de sua cidade. Passa um tempo, o cara vai lá, vê o que foi vendido e faz os acertos com os autores. Grosso modo, seria isso, com um percentual pra banca, evidentemente, e um pro distribuidor, mas nunca excede 50%, ou seja, o autor recebe no mínimo 50% do preço de capa de sua revista, dependendo da margem praticada pela banca. Foi a alternativa que encontramos para contornar o problema de distribuição... vamos ver como funciona.

Como um todo, como você vê o mercado de Quadrinhos no Brasil hoje?

Em expansão. Num ritmo absurdo. Em 2 anos, o número de publicações independentes aumentou, brincando, em umas 10 vezes, se não mais. Isso é bom, porque quanto mais diversidade, melhor, e mais coisas de qualidade vão surgindo. Esse “boom” também é um dos motes que originou o QM, grupo extremamente necessário para tentar organizar essa “bagunça” e tentar, efetivamente, criar um mercado nacional decente. Claro que isso ainda leva tempo e possivelmente nós nem veremos os frutos do que está sendo feito hoje... isso vai ser com nossos filhos. O consolo é que a gente acaba se divertindo pra c#%$@! no processo. =D

Obrigado, Leo. E parabéns pela Quadrinhópole, uma revista que merece todo o reconhecimento que recebeu. Abraço, velho!

Eu é quem agradeço a você e todo o pessoal do Bigorna pelo apoio e a oportunidade de continuar divulgando o trabalho. Abração!

O Bigorna.net agradece a Leonardo Melo pela entrevista realizada por e-mail e finalizada no dia 27 de novembro de 2008

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web