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Entrevista: César Freitas
Por Marcio Baraldi
16/05/2008

Os Quadrinhos invadem a TV! (parte 3)

Esta entrevista é parte de uma série intitulada Os Quadrinhos invadem a TV!, que mostrará os três programas sobre Quadrinhos e afins que atualmente são produzidos no Brasil e veiculados em TVs e web TVs. Trata-se de uma marco no mercado de HQs brasileiro! Nunca antes tantos programas sobre o assunto foram produzidos, e todos 100% nacionais, desenvolvidos por profissionais de Quadrinhos e/ou apaixonados pela Nona Arte. E o que é melhor: não se trata de uma febre passageira, os programas sobre Quadrinhos realmente vieram para ficar! Fechando a trilogia de entrevistas planejada para esta série, o Bigorna.net conversou com César Freitas (foto), criador e apresentador do programa HQ & Cia, que acontece ao vivo todo sábado as 15h na AllTV, a primeira web TV do Brasil, com  participação direta do público através do chat da emissora. No ar desde 2006, o programa já realizou divertidas e descontraídas entrevistas com mais de 60 personalidades diferentes ligadas à HQ nacional (desenhistas, roteiristas, editores, animadores, etc). Todos esses programas podem ser vistos a qualquer momento aqui

O objetivo principal desta série foi mostrar como o brasileiro é criativo e sabe produzir bons programas com recursos limitados e imaginação e talento infinitos. Estes sujeitos corajosos por trás destes programas estão fazendo o que a grande mídia deste país não teve coragem para fazer. Estão dando uma lição de competência e visão comercial ao transformarem em realidade bem-sucedida veículos que até então não passavam de sonhos longínquos e intangíveis. Três homens diferentes e um sonho igual. Três maneiras particulares de mudar o mundo. E eles mudaram! O mercado do Quadrinho brasileiro ganhou aliados poderosos e novo impulso com o surgimento desses três mosqueteiros da HQ nacional. Desenhistas, roteiristas, editores, enfim, todos os profissionais ligados à HQ brasileira, ganharam uma nova mídia para mostrarem seus trabalhos. Uma mídia que veio para crescer, somar, unir e multiplicar. E sobretudo, que veio para ficar! Eles fizeram (e estão fazendo) a parte deles. Agora cabe a cada um fazer a sua. Prestigiando, assistindo, divulgando, dando ibope, participando, acreditando e sobretudo, produzindo cada vez mais e melhores Quadrinhos. Para que o próximo sonho que a gente consiga realizar seja o de uma indústria de HQs realmente sólida no Brasil. Como a gente merece! E como dizia o saudoso poeta: "Quem tem um sonho não dança!”...

Quando e por que você decidiu criar o programa? Você começou como um quadro dentro de um programa de variedades no Canal de São Paulo, não?

Bem, na verdade eu comecei fazendo rádio. Eu tive durante um bom tempo um programa na Rádio Fênix, uma rádio voltada para a comunidade brasileira no Japão. Aí, em 2004 eu fui fazer o quadro HQ & Cia dentro do programa de variedades Em Cena, da apresentadora Daniela Tesolin, no Canal de São Paulo. Fiquei lá  um ano e meio, aí em 2006 resolvi ir pra AllTV, onde transformei o quadro num programa completo de uma hora semanal.

Quando começou seu interesse por Quadrinhos? Antes de criar o HQ & Cia, você já tinha produzido algum Quadrinho/fanzine ou era apenas um consumidor?

Cara, eu ADORO Quadrinhos desde muito antes de aprender a ler! Mas infelizmente nunca tive habilidade pra desenho, então sempre trabalhei com Quadrinhos, mas em outras áreas, como divulgação, organização de feiras e eventos. Estudei na USP e durante oito anos eu organizei feiras de Quadrinhos e cultura pop lá. Eu exibia desenhos animados antigos numa sala e aquilo lotava!!! Era um sucesso total! Eu montava minha banquinha onde vendia gibis, DVDs de desenhos animados, CDs com trilhas sonoras de seriados e camisetas de personagens da Hanna Barbera que eu e minha namorada na época pintávamos à mão. Em 2001 eu organizei a Primeira Convenção Nacional de HQs no Shopping Plaza Sul. Foi um megaevento que durou 18 dias e foi um sucesso absurdo! Levei o Zé do Caixão, Capitão 7 (o ator Nélson Ayres), Zélio, Sidney Gusman, Vilella, Klébs, Marcelo Campos, pessoal das editoras, enfim, um monte de figuras. Rolaram workshops de Quadrinhos, debates sobre HQs, Cinema, foi um evento histórico!!!

Muita gente no meio dos Quadrinhos reclama que nada dá certo nesse mercado. Seu programa deu certo. O que você pensa dessas pessoas derrotistas/pessimistas?

Sinceramente, eu acho que essas pessoas deveriam trabalhar mais e reclamar menos! Curto e grosso (risos)!

A seu ver, por que nenhuma emissora grande de TV criou um programa de Quadrinhos até hoje, se no Brasil há tantos consumidores de HQs?

Pra mim está claro que os responsáveis pela programação das grandes emissoras desconhecem completamente a força e o tamanho desse mercado. Nós que estamos dentro dele a vida inteira conhecemos seu verdadeiro potencial e sabemos o tanto que ele pode render e crescer! É preciso acreditar e trabalhar duro!

Dos três programa atuais sobre HQ no Brasil, o seu é o único ao vivo. Você sempre quis fazer ao vivo? Você gosta do clima de espontaneidade e "imprevisibilidade" do "ao vivo"?

De fato fazer ao vivo é imprevisível mas em compensação é muito mais divertido! Considero fazer ao vivo um grande desafio! No programa sempre procuro deixar o entrevistado bem à vontade como se fosse um papo de boteco. Até hoje sempre deu certo (risos).
 
Já que falamos do formato "ao vivo", conte algum vexame ou coisa muito engraçada que aconteceu no seu programa. Algo que você lembra e dá risada até hoje.

Putz, são tantos...! Eu vivo dando vexames (risos)! Uma coisa que eu faço muito é trocar os nomes dos entrevistados ou então esquecer o nome deles (gargalhadas)! Uma vez me deu um branco logo no começo do programa e eu não conseguia lembrar o nome do entrevistado, aí eu fiquei um tempão enrolando só chamando o cara de “você”, ”meu grande artista”, e tal. E o pessoal reclamando que o programa já tava na metade e eu ainda não tinha dito o nome do entrevistado (gargalhadas)!!! Até que eu lembrei e aí deu tudo certo. Mas essas coisas são normais, fazem parte do negócio, pois o fato de fazer ao vivo te deixa muito mais suscetível a erros. Enfim,ossos do ofício!...

Quantos autores já passaram pelo seu programa até hoje?

Ah, muitos! Já foram mais de 60 entrevistas com autores diferentes. E ainda virão muitos mais. As portas estão abertas para todos que tem um bom trabalho pra mostrar.

Qual foi o autor que te deixou mais emocionado? E qual o que te deixou mais nervoso/ansioso pra você entrevistar? Do tipo,ficar gaguejando (risos)?

Ah, foi uma honra entrevistar o Ivan Reis e o Marcelo Campos! Porque eles são desenhistas extraordinários, tem renome internacional e mesmo assim são pessoas extremamente humildes, simples e foram super solícitos comigo. Sou grande fã do trabalho deles e foi um grande prazer entrevistá-los. Mas o cara que mais me emocionou entrevistar foi o Gualberto, porque ele é um verdadeiro Mestre para mim e eu aprendi muito com ele. Ele é uma verdadeira Enciclopédia de Quadrinhos e metade do que eu sei foi ele que me ensinou. Conheci o Gualberto na loja de Quadrinhos Tiragem, do Joel, que ficava na galeria Ouro Fino, nos Jardins (bairro de São Paulo). Eu freqüentava direto lá e um dia topei com o Gualberto. Nessa época eu só lia Marvel e DC, só conhecia Quadrinhos de Super-Heróis, e o Gualberto me disse que havia todo um outro mundo dos Quadrinhos que eu precisava descobrir. Aí ele me mostrou Crumb, Freak Brothers, Manara, Crepax, o Rich Corben...

Meu!!! O Corben revolucionou os Quadrinhos, cara!!! O que ele fazia com o aerógrafo era totalmente inédito!!!

Com certeza! Aí o Gualberto me mostrou Heavy Metal, Metal Hurlant, El Víbora, Cimoc, o Quadrinho independente e alternativo, e eu pirei com aquilo! E principalmente, ele foi o cara que me fez gostar do Will Eisner, que era um autor que eu não prestava atenção e quando descobri pra valer com o Gualberto eu pirei, não larguei mais! É uma das coisas mais geniais de todos os tempos.

Seu programa, além de ser ao vivo, possui o lance da interatividade, ou seja, o público pode participar com perguntas em tempo real. Você acha que a Internet é a TV do futuro?

Eu acredito que as emissoras de TV devem começar a usar em breve este recurso da interatividade, por conta do advento da HDTV. Considero a Internet um grande laboratório para se testar novas opções e formatos.

Por falar em interatividade, qual foi a pergunta mais constrangedora ou absurda que o público fez no seu programa?

Ah, sempre tem uns moleques que vêm com perguntas impublicáveis para os entrevistados (risos)! Mas a melhor estratégia é ignorar quando esses moleques entram no chat para desrespeitar um trabalho feito com tanto esforço e cuidado como o nosso.

Fontes seguras me revelaram que você tem mais de dez mil gibis na sua casa. Há gibis empilhados até no corredor (risos). O que você faz com tantos gibis? Você tem tempo de lê-los?

(Gargalhadas) É verdade!!!! Tenho mesmo(risos)!!! Na real, eu não consigo ler tudo não. Geralmente eu separo os que me interessam mais e dou prioridade pra eles. Mas eu procuro estar sempre bem informado, não só sobre Quadrinhos, mas sobre tudo que acontece nesse mundo. Por isso, tenho que ler muito de tudo!

Se você ganhasse um milhão de reais, o que você faria? Como aplicaria essa grana no seu programa?

Putz! Tem tanta coisa que poderia ser feita com essa grana que fica até difícil imaginar tudo! Mas com certeza minha primeira atitude seria comprar um bom equipamento, câmeras novas, etc, para fazer matérias externas, coberturas de lançamentos e de eventos. Com o programa mais estruturado eu procuraria levá-lo pra alguma emissora grande tipo a TV Cultura. Porque eu acho que o público de HQ não tem muito a cara do SBT, por exemplo, acho que é um outro perfil, mais sofisticado culturalmente. Acho que se a gente estivesse na Cultura o público de Quadrinhos nos sustentaria, nos daria ibope, acredito que surgiriam anunciantes e patrocinadores. Porque esse público de Quadrinhos no Brasil é muito carente, não tem muita opção. Lembro que a editora Abril chegou a vender 120 mil exemplares do Homem Aranha por mês. Cadê esse público hoje?!?Onde foram parar essas pessoas?!? Acredito que um programa bacana numa emissora grande traria esse público de volta!
                                                                          
O Bigorna.net agradece a César Freitas pela entrevista, concedida em 12/05/2008

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