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Entrevista: José Magnago
Por Marcio Baraldi
15/02/2008

O magno mago do Castelo das Recordações
 

Magnago e a roteirista Claudia
Gomes (Mariazinha)

Algumas pessoas são movidas a paixão. Os quadrinhistas brasileiros sem dúvida! E os fanzineiros também! Afinal, como explicar que pessoas das mais diversas profissões e idades gastem pedaços preciosos de seu tempo e de suas vidas, além de grana, claro, escrevendo, editando e imprimindo publicações de baixa tiragem para divulgar algum assunto que lhes é tão querido? Só a paixão explica um sacrifício deste! E o brasileiro, como um povo apaixonado e apaixonante, fez do Brasil um dos maiores produtores e consumidores de fanzines do mundo. O Brasil e a pátria dos Fanzines! Até livros e teses de mestrados já foram escritos sobre o assunto, como a do cartunista e editor paraibano Henrique Magalhães. Pois para dar um testemunho vivo desse verdadeiro sacerdócio que é a vida de fanzineiro, nada melhor que procurar uma verdadeira lenda-viva no assunto. E essa lenda atende pelo nome de José Magnago, velho conhecido da comunidade quadrinhística brasileira pelos seus ótimos serviços prestados, sobretudo na preservação da memória da Golden Age e do Quadrinho nacional dos anos 50 até hoje, através de seu fanzine Castelo de Recordações, que acaba de completar 17 anos de publicação. O Bigorna.net escalou as torres desse maravilhoso castelo de fantasias para conversar com este magno mago, senhor das nostalgias mágicas que nos levam de volta ao passado a cada edição de seu fanzine. Um castelo onírico onde o tempo não existe, onde o passado, o presente e o futuro dançam de mãos dadas uma ciranda infinita, na eterna companhia de cowboys, heróis uniformizados, lindas mocinhas e naves espaciais cintilantes. Enfim, um castelo de sonhos, recordações, e sobretudo... muita paixão!

Vamos começar do início. Fale um pouco da sua infância. Onde você nasceu? Quando você descobriu os Quadrinhos e como eles lhe fascinaram tanto a ponto de você virar um fanzineiro e dedicar boa parte da sua vida à divulgação deles?

Nasci na cidade de Castelo, no Espírito Santo, distante uns 40 minutos daqui de Cachoeiro de Itapemirim, onde resido atualmente. O nome do meu fanzine O Castelo de Recordações foi uma homenagem à minha cidade natal. Nasci em 1945 e em 1968 mudei-me para Cachoeiro. Criei-me no sítio do meu avô. Aos 8 anos voltei para a cidade de Castelo, quando entrei no Grupo Escolar. Em meados de 1955, na casa de um tio meu, Clarindo Sasso, li uma revista sem capa: Rin Tin Tin. Adorei! Ele tinha um cunhado, Plínio Jordão, que lia gibis. Aí eu comecei a ler os gibis dele e ele acabava sempre me dando alguns. Com isso peguei  amor pelos Quadrinhos e passei a colecioná-los. Comecei  trocando e comprando  gibis dos colegas. Comprava mais deles do que nas bancas, pois os usados eram muito mais baratos. Somente no fim dos anos 80 é que comecei a ler fanzines e acabei virando fanzineiro também em 1991.

Você se lembra qual foi o primeiríssimo gibi que comprou? Por acaso você ainda o tem?

Lembro sim. O 1º gibi que comprei foi um Cavaleiro Negro, da Rio Gráfica Editora. Infelizmente não o tenho mais.

Quantos gibis você tem na sua coleção particular? Qual é o mais antigo e quanto vale a sua coleção hoje?

Puxa, nem sei quantos gibis eu tenho (risos). São muitos. O mais antigo é um O Tico-Tico de 1919. Nem sei o preço da minha coleção, mas para mim ela tem muito valor.

Quais os heróis e gibis que mais marcaram sua vida? Por quê?

Meu herói preferido é o Jerônimo, o herói do sertão, era um personagem nacional, um cavaleiro, tipo um cowboy brasileiro, criado pelo roteirista Moises Weltman! Ele comecou como uma novela no rádio, que eu adorava ouvir. Aí com o sucesso do rádio, lançaram o gibi dele. Lembro que eu esperava ansioso todo mês pelo gibi. Tenho a coleção completa! Era um personagem tão popular que, com o advento da TV, acabou ganhando novela nos anos 60, 70 e 80.
 
Quadrinhista e fanzineiro são todos malucos. Qual foi a maior maluquice que você já fez por um gibi?

Dar vários gibis em troca de algum que eu não tinha. Também já fiz a maluquice de vender coleções inteiras, a prestação, e em alguns dos casos nem sequer recebi dos compradores. Depois tive que adquirir tudo de novo!!! Maluco mesmo, né (risos)?!

Você chegou a produzir Quadrinhos? Desenhou ou escreveu profissionalmente?

Não. Infelizmente não desenho, nem produzo gibis. Só fanzines, nos quais comento sobre Quadrinhos.

Qual você acha que foi o gibi mais importante que o Brasil já teve? E qual a editora brasileira mais importante de todos os tempos?

Acho que o gibi mais importante foi O Tico-Tico, pois era inovador, publicou os maiores personagens de todos os tempos e foi o "pai" de todos os outros gibis brasileiros. E a maior editora, sem dúvida, foi a Ebal, a grande pioneira dos Quadrinhos no Brasil! Mas, além dela tivemos muitas outras ótimas editoras.

Você, o Queiroz, o Jorge Barwinkel, Valdir Damaso, Luis Antonio Sampaio, são a “turma dos veteranos” que mantém acesa a chama da Golden Age ("Era de Ouro dos Quadrinhos" - do inicio da indústria até fins da década de 50) no Brasil. Se não fossem vocês praticamente ninguém falaria da Golden Age no Brasil. Vocês são todos amigos entre si? Você acha que as atuais gerações se interessam pela Golden Age?

Sim, somos todos amigos há muito tempo e um ajuda o outro. Um sempre dá uma força ou um pitaco no fanzine do outro. Mas quanto à moçada das novas gerações aqui no Brasil, acho que poucos se interessam pela Golden Age e por HQs antigas, infelizmente.

Você começou com o Castelo de Recordações em 1991. Porque você resolveu lançar seu próprio fanzine?

Porque gosto muito de HQs e chegou uma hora em que resolvi ter meu próprio fanzine. Assim eu publico apenas o que eu gosto!

Qual foi o primeiro fanzine que você lançou? E quais os outros que você tem?

O primeiro e principal é o Castelo de Recordações mesmo, e seus filhotes (edições especiais). Mas também faço o Devoradores de gibis.

Na sua opinião, qual a importância dos fanzines para a cultura brasileira?

Eles são muito importantes pois resgatam as HQs, as editoras, os mestres dos Quadrinhos mundiais e nacionais, informam, divulgam, promovem, apóiam os novos valores dessa arte, enfim, ajudam a vender gibis.

Você acha que os jornais, as TVs e a mídia em geral dão o devido espaço e valor aos Quadrinhos?

Vejo algo somente em alguns jornais e um pouco na TV. A mídia em geral não dá muito espaço ou valor, não.

O Castelo de Recordações está prestes a completar 17 anos e já passou das 100 edições. É um dos fanzines mais longevos do Brasil. Como você se sente tendo dedicado tanto tempo aos Quadrinhos assim? Vale a pena toda essa dedicação já que você não tem ganhos financeiros com o fanzine?

Sim, vale a pena. Só a amizade que fazemos com gente como você e tantos outros já faz valer a pena. Fazer fanzines é um prazer.

O Mandrake, Fantasma, os Cowboys e o Tarzan eram muito populares no Brasil até o início dos anos 80. Hoje eles praticamente sumiram dos Quadrinhos e da mídia, dando lugar aos mangÁs e a heróis mais violentos e high-tech como X-Mens, Exterminadores de todo o tipo, etc. O que aconteceu com aqueles heróis “românticos” de outrora? Não há lugar no mundo para eles?

Acho que em várias partes do mundo ainda são lidos e queridos. Mas aqui no Brasil, pelo jeito, não são mais.

Do que você sente falta nas bancas atualmente? Se você tivesse grana pra montar uma grande editora, que Quadrinhos você colocaria nas bancas?

Sinto falta de GIBIS NACIONAIS nas bancas, claro! Se eu pudesse, colocaria nas bancas gibis nacionais, como o seu (Roko-Loko), os do Arthur Filho, do José Salles, do Francenildo Sena e tantos outros.

Você ainda lê os gibis atuais? Você acha que os gibis de hoje são tão bons quanto os da Golden e Silver Age (“Era de Prata” dos Quadrinhos)?

Sim, ainda leio. Mas com certeza não são iguais aos da Golden Age e da Silver Age. Infelizmente não possuem a mesma qualidade.

Na Golden Age, os heróis eram heróis e os vilões eram vilões, os papéis eram claros e bem definidos. Hoje esses papéis parecem confusos e misturados. O que você acha disso? Acha que o mundo mudou muito, moralmente falando?

Sim, o mundo mudou demais! A violência impera no planeta. A família desmoronou. Boa parte da juventude não respeita pais, professores, religiosos, os mais velhos, etc, e quando crescem se tornam péssimos profissionais, drogados, marginais, etc. Mas graças a Deus que existem as exceções”

Seus filhos cresceram num ambiente lotado de Quadrinhos a vida inteira. Eles também demonstraram interesse pelos gibis ou você não conseguiu transmitir o “DNA dos Quadrinhos” para eles (risos)?

Não, não consegui (risos)! Meus filhos não querem saber de gibis, apenas me ajudam na hora de editar e fazer pesquisas de algum tema na Internet quando eu preciso.

Se você fosse um super-herói qual seria o grande superfeito que você realizaria?

Difícil dizer. Acabar com as guerras? Com a poluição? Com os corruptos? Com a pobreza? Dar paz ao mundo? Ah,que bom seria!...

Deixe um recado final para os leitores do Bigorna.

Um abraço a todos os leitores do Bigorna. Aproveito para parabenizá-lo, Marcio Baraldi, pelas suas ótimas publicações. Você é um orgulho para nós brasileiros, pela sua luta pelos Quadrinhos nacionais, pela sua amizade para com os fanzineiros. E muito obrigado pela oportunidade da entrevista. Abração do seu grande amigo José Magnago.

O Bigorna.net agradece a José Magnago pela entrevista, concedida por e-mail e finalizada no dia 10/02/2008

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