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Entrevista: Eder Russo
Por Marcio Baraldi
11/01/2008

É um pássaro? Um avião? Não, é a SuperComics!!!
 
Eder Russo (foto) é um desses caras tão apaixonados por Quadrinhos que, mesmo sem ser desenhista, roteirista ou editor, resolveu viver a qualquer custo do seu objeto de paixão. Por conta disso ajudou a fundar uma das gibiterias mais tradicionais de São Paulo, a SuperComics, instalada na Rua Gandavo, 58, em pleno miolo da Vila Mariana. Eder, dono de uma das maiores colecões de Quadrinhos do Brasil e de um respeitável conhecimento no assunto, começou como funcionário da loja ate comprá-la e tornar-se seu dono e administrador. A partir daí a SuperComics se tornou um point obrigatório para os aficionados por Quadrinhos de São Paulo que a lotam todos os sábados para conferirem as novidades, completarem suas colecões e, claro, discutirem acaloradamente seu assunto preferido: Quadrinhos! Como canja de galinha e discutir Quadrinhos não fazem mal a ninguem, o Bigorna.net convidou Eder para esse bate-papo exclusivo em que o empresário expôs suas opiniões sobre o Quadrinho mundial: seu passado, presente e futuro. Puxe uma cadeira, caro leitor, abra uma cerveja e junte-se a nós nesse papo de amigos sobre essa "crazy little thing called comics" que gostamos tanto! E antes de mais nada, um brinde a 2008! Que este ano traga muitos bons Quadrinhos para todos nos! TIM-TIM!

Ano passado a Marvel completou 40 anos no Brasil. Você a acompanha praticamente esse tempo todo. Você chegou a comprar as famosas "edições 0" distribuídas nos postos da Shell?

Não cheguei a pegar as revistas no posto, mas corri atrás logo em seguida. Quando a Ebal começou a publicar as revistas Marvel, fui em tudo quanto é sebo conhecido para achar as edições zero.

Qual foi o primeiríssimo gibi que você comprou? Você ainda o conserva até hoje?

A primeira revista que eu comprei na banca foi uma revista do Batman, pela Ebal (que corresponde a Detective Comics #374). A história mostrava o Robin sendo encurralado em um beco e depois de levar a maior surra dos bandidos, ficava em coma no hospital. E o Batman começa uma busca pelos bandidos. Infelizmente não tenho mais esta revista.

Quantos gibis você tem na sua coleção particular? Você ainda compra tudo que sai da Marvel, DC e outras menores?

Ainda compro tudo fielmente e minha coleção já passou de trinta mil revistas faz tempo!

Trinta mil?!? Mas você consegue REALMENTE ler tudo isso?!? Ou é mais para dizer que você tem as coleções completas?

Eu li 99% das revistas com certeza! Antigamente eu tinha mais tempo livre para ler, mas hoje em dia acabo me envolvendo com Internet, séries na TV a cabo e outras distrações e com isso o tempo para leitura diminuiu um pouco.

Você é daqueles radicais que guardam seus gibis num plástico individual, lacrado a vácuo, sem toque manual, trancado a sete chaves numa sala com luz infravermelha, sem oxigênio e sem gravidade? Ou seja, impossiveis de ler (gargalhadas)?!?

(risos) Não, longe disso! Gosto de conservar as revistas, mas não chego aos extremos de alguns colecionadores. Eu guardo as revistas em sacos plásticos (uma média de 20 revistas por saco) dentro de caixas de papelão. E só! E isso só acontece por culpa da falta de espaço físico. Caso contrário, gostaria de deixá-las todas em estantes com fácil acesso para poder consultá-las sempre que possível.

Você começou lendo gibis mais infantis, tipo Turma da Monica, Disney, etc, ou já começou pelos Super-Heróis?

Quando era criança, meu pai comprava os gibis infantis da época (Luluzinha, Riquinho, Brotoeja, Bolota, vários da Disney). Mas desde cedo eu sempre gostei de aventuras policiais e histórias de vampiros. Nisso eu e meus irmãos fomos privilegiados, pois meus pais nunca nos impediram de ver filmes de ação e terror na TV, mesmo os do Drácula (Christopher Lee). Então logo que entrei na escola, minhas visitas à banca de jornal começaram a se direcionar só para os heróis.

Você acompanha os gibis de Super-Heróis da Marvel e DC no Brasil desde a saudosa Ebal. Qual você acha que foi a melhor editora de Quadrinhos do Brasil de todos os tempos?

Com certeza a Ebal! Apesar de ter comprado gibis da RGE, Bloch e Abril, sempre detestei o formatinho. E esse foi um dos motivos que me levou a começar a colecionar os gibis importados a partir de 1974.

Quero que você dê uma nota de 1 a 10 e faça um breve comentario (justificando a nota) sobre as seguintes editoras brasileiras: Ebal, GEP, Bloch, RGE, Abril, Panini e Mythos.

a) Ebal: Nota 9 . Só não leva 10 porque no meio do caminho aderiram ao famigerado formatinho. Mas foi a editora que arriscou a trazer muitas novidades da DC e Marvel para o Brasil, publicando inclusive aventuras de personagens bacanas do quinto escalão como Congo Bill, Léo Futuro e outros tantos.
b) GEP: Essa era aquela que publicou o Capitão Marvel, Surfista Prateado e os X-Men em almanaques em preto-e-branco, né? Nota 8 com mérito!!! Eu adorava estas revistas com heróis diferentes e virei fã do Capitão Marvel kree preso na zona negativa e de todo o dilema que os heróis mutantes enfrentavam. E apesar de achar as aventuras do Surfista muito chatas, o desenho do John Buscema me fascinava!
c) Bloch: Nota 5 . Depois que a Ebal parou de publicar os heróis Marvel, o único jeito era acompanhar essas publicações, mesmo com a colorização bizarra que eles usavam.
d) RGE: Nota 8 . Adorei ver os novos X-Men e o Nova sendo publicados por aqui!
e) Abril: Nota 1 . Graças à falta de respeito desta editora aos leitores (alterando histórias, diálogos, desenhos, cortando diversas páginas de uma única história, criando uma nova cronologia, além dos editores mal educados com os leitores), eu parei de comprar revistas nacionais e comecei a ler e colecionar apenas os gibis importados. Inclusive conheço diversas pessoas com a mesma opinião que eu.
f) Panini: Nota 8 com louvor! A editora está de parabéns com as publicações nos diversos formatos que estão lançando. Espero que continue assim por muito tempo.
g) Mythos: Nota 6 . Não acompanho a maior parte de suas publicações, mas acho que eles poderiam variar mais nos títulos que publicam. Existe muito material americano bom que não é publicado aqui, então eles não precisavam ficar focados no material da DC que a Panini não queria lançar. Talvez devessem arriscar mais no material europeu.

Com qual heroi dos gibis você mais se identifica? O poderoso Vollstag (risos)?!?

(risos) Com certeza não! Meus heróis preferidos são o Batman (DC) e o Homem-Aranha (Marvel).

Alguém já te disse que seu bulldog Boris tem a cara do "Dentinho", o cachorro dos Inumanos (risos)?

(risos) Várias pessoas já falaram isso! Nada mais justo que um cara que adora Quadrinhos arrumasse um bicho de estimação que também lembra um personagem. E o Boris é tão querido por todos que o conhecem, quanto o Dentinho (risos)!

Boris e Dentinho: separados no nascimento??

Vou te contar um segredo. Quando eu era moleque eu escrevia para as editoras. Tive uma cartinha publicada na SuperAventuras Marvel #1 (Abril) e no Homem Aranha #42 (RGE). Eu escrevia reclamando de um monte de coisas mas eles só publicavam os elogios (risos). Você também escrevia para elas?

Eu tive cartas publicadas em revistas da Ebal e da Abril. Nas da Ebal, eu pedia que eles publicassem histórias de personagens que ainda não eram muito conhecidos por aqui. E nas da Abril, geralmente era para reclamar da colorização nos formatinhos (às vezes eles usavam apenas uma cor para colorir a página inteira, então você via apenas o preto das sombras e, por exemplo, o roxo que usaram em todo o resto) e pelos outros motivos que citei na pergunta sobre as editoras.

Pra você quais foram os nomes mais importantes da HQ mundial de todos os tempos, tirando o Baraldão, claro (gargalhadas)?

Jack Kirby (nem Stan Lee seria "O Stan Lee" se o Kirby não tivesse feito a parceria que resultou nos personagens que acompanhamos até hoje), Steve Ditko (é um gênio pouco reconhecido), Neal Adams e Gil Kane.

Do alto da tua experiência com gibis da Marvel e DC, como você avalia a trajetória destas editoras? Qual a melhor fase de cada uma delas e como elas estão hoje em termos de qualidade e criatividade?
 
Tanto a Marvel como a DC passaram por maus momentos nos anos 90, publicaram tanta porcaria que é melhor esquecer, mas atualmente as duas estão lançando histórias envolventes e de excelente qualidade. É uma concorrência sadia que as força a colocar bom material no mercado ou então irão sofrer a ira dos leitores. É só ver toda a polêmica que essa história atual do Homem-Aranha está criando por lá (a saga One More Day).

Cá entre nós, você não acha que os gibis de super-heróis atuais sao chatíssimos? Não são vazios e gratuitamente violentos? A fase mais criativa e empolgante desse gênero não teria sido nos anos 60 e 70?

Acho que o problema hoje é que tem muita revista sendo lançada e a qualidade das histórias acaba se diluindo muito. Acabamos vendo algumas situações sendo repetidas em diversos personagens diferentes. Você lê a revista no "piloto automático", já sabendo para onde a história está caminhando. Eu adoro esses encadernados de histórias antigas que a Marvel e a DC estão lançando (Essentials e Showcases), mas ainda aprecio a fase atual, fico ansioso esperando o próximo número de algumas revistas.

Muita gente idolatra Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman e outros intelectuais dos Quadrinhos. Mas você não acha que esses autores na verdade não escrevem histórias de Super-heróis, mas sim HQs adultas, mais "cabeca", tipo Kripta ou Shock, e as misturam às HQs de Super-heróis, descaracterizando completamente esse gênero? Ao tentar fazer os super-heróis parecerem "reais", eles não estariam justamente acabando com o principal desse gênero, que é a fantasia e a diversão puras e simples?

Concordo. O que deveria ser um evento especial acabou se tornando o arroz com feijão de todo dia. Conheço muita gente que só quer ler histórias de heróis se forem escritas por alguém "do nível" do Alan Moore ou Neil Gaiman e não conseguem ou sabem apreciar uma história mais simples. Esse pessoal não pode se considerar fã de Quadrinhos, na minha opinião. São apenas leitores de best-sellers!

Na sua opinião, qual foi o maior acerto da indústria de Quadrinhos mundial? E qual o maior erro?

O maior acerto são as minis ou máxis séries. O cara tem uma história para contar sobre determinado assunto ou personagem. Faz isso e pronto. Isso dá oportunidade de personagens menos conhecidos terem seus quinze minutos de fama. Já o maior erro são os diversos títulos mensais para um mesmo personagem, a superexposição de personagens mais famosos e atualmente conduzir as revistas na base dos eventos anuais (isso amarra demais a criatividade dos escritores).

Você estava reclamando que a pirataria cibernética chegou aos Quadrinhos. Comente um pouco isso e como esse problema esta afetando seus negócios?

Muitas pessoas estão parando de comprar as revistas, já que conseguem baixar os scans de graça na Internet. É a "lei de  Gerson" ampliada para o mundo inteiro! Deviam se tocar que se as revistas não venderem, vão acabar sendo canceladas. Daí eles vão ler o quê?!?

Você acha que dentro de alguns anos ou décadas, a Internet vai engolir de vez os gibis e toda a imprensa impressa?

Espero que não! É um saco depender de uma máquina para conseguir ler algo. Sou do tipo que gosta de ter a revista ou o livro nas mãos, para poder ler onde quiser, sentado em frente a uma mesa ou no chão ou deitado na cama.

Qual o perfil e a faixa etária do publico que freqüenta sua livraria?Quais são os títulos mais vendidos?

Meu público vai dos 25 aos 50 anos. E os títulos que mais vendem são os da DC e Marvel mesmo. Poucos clientes arriscam comprar títulos de outras editoras (Dark Horse, Image ou outras menores).

O Roko-Loko está vendendo bem aí, carvalho (risos)?!?

(risos) Claro!As historias dele são muito divertidas.

Você gosta do Quadrinho brasileiro? O que você lê? Quais são seus autores preferidos?

Geralmente eu leio apenas tiras de humor como o Roko-Loko ou coisas do Laerte, Angeli, Níquel Náusea. Não acompanho as aventuras de ação, pois geralmente descambam para a sacanagem e as histórias acabam sem sentido algum. Eu sei que alguns editores acham que apenas sacanagem vende, mas não é bem por aí.

Destes desenhistas brasileiros que estão trabalhando para a Marvel e a DC quais você gosta mais?

Meu preferido é o Ivan Reis! Também gosto muito do Joe Bennet (Bené Nascimento) e Ed Bennes (Edilbenes). Gosto do Deodato também, acho ele sensacional, mas esse estilo que ele esta fazendo agora eu não curto. Está uma moda de fazer desenhos muito realistas, parecendo fotos, e eu não curto. Gosto de ver desenho MESMO, um traco pessoal, bonito.

Você nunca fez fanzines ou escreveu roteiros para HQs? Nunca criou um personagem seu?

Não, nunca. Não tenho muita aptidão para ser escritor. Idéias até surgem, mas na hora de passar para o papel, é um branco total (risos)!

Se você tivesse um boa editora que tipo de Quadrinho você publicaria? O que você acha que falta nas bancas? Que mensagem deveria ser dita que não se encontra nos Quadrinhos atuais?

Se tivesse uma editora, eu ia tentar fugir do lugar comum! Tem muito material bom sendo publicado lá fora, tanto nos EUA como na Europa. É uma pena que o material europeu tenha uma publicação tão restrita por aqui. Atualmente é quase zero.

O que você espera de 2008 e do futuro para o Brasil e o Mercado de HQs?

Que as pessoas comecem a ler mais revistas, que tentem acompanhar coisas novas. E que o mercado de Quadrinhos no Brasil cresça ou, no mínimo, se mantenha como está atualmente, sem encolher. Sem que as editoras menores fechem as portas, deixando seus leitores com sagas incompletas.

Deixe seu recado final para o povo brasileiro deitado em berço esplêndido.

Que os leitores prestigiem seus escritores e desenhistas preferidos e comprem os trabalhos publicados. O mercado de Quadrinhos nacional e mundial depende disso!!!

Visite o site da SuperComics.

O Bigorna.net agradece a Eder Russo pela entrevista, realizada em 08/01/2008.

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