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Entrevista: Antonio Eder
Por Eloyr Pacheco
01/11/2007

Antonio Eder é um quadrinhista de mão cheia! Ele foi um dos criadores do (famoso) Gralha; um dos produtores da (premiada) revista Mantícore e do álbum Chalaça – O amigo do Imperador, em parceria com André Diniz (com quem co-edita o site Nona Arte) e publicado pela Conrad, e ilustrador de Brichos. Nesta entrevista, Antonio Eder comenta, entre outros assuntos, sua experiência editorial com a Mantícore, fala como produz e se profissionalizou na área de Quadrinhos, e o que anda fazendo no momento. Ah, ele também afirma que não gosta de super-heróis! Confira.

Como surgiu o seu interesse por Histórias em Quadrinhos?

Acabei pulando etapas na hora de ler Quadrinhos. Em vez de cair na minha mão uma Turma da Mônica caiu um Kripta (sim aquelas da RGE), foi paixão a primeira vista, acho que eu estava com uns 10 anos. Depois disso foi como leitor na Gibiteca, então o meu Universo para o que era Quadrinhos ampliou infinitamente. Por exemplo, lá eles tem aquela edição antiga do Ken Parker toda encadernada e tal, li tudo em três dias! Era um devorador de Quadrinhos e fui percebendo os diversos tratamentos dados ao roteiro e aos desenhos. Desenhar sempre desenhei, mas teve uma época em que tive que decidir ou trabalhava com alguma coisa ou ser desenhista. Desenhar para mim sempre foi algo divertido, queria experimentar algo novo no traço. E nisso entra o desenho do Ziraldo com suas economias de linhas, foi a minha Bíblia gráfica.
 
Você é formado em Artes Plásticas pela Faculdade de Artes do Paraná. Essa formação o ajudou a fazer Quadrinhos?

Sim. Foi ali que aprendi estética, composição, estrutura da forma e coisas assim. Fora isso o contato com outros artistas foi bem intenso. A formação acadêmica deu mais seriedade para o meu desenho. Percebo isso hoje. Tem muita coisa que vale a pena saber, história da arte, perspectiva, teoria da cor, teorias da percepção e centenas de outros assuntos.

Como foi que você se profissionalizou na área?

Trabalhei um tempo em uma editora de livros didáticos e depois montei um escritório em sociedade. Depois disso montei o meu próprio escritório de ilustração, atendendo a publicidade, editoras e sabe Deus quem mais. Fora isso ministro aulas de desenho e divulgação do uso de HQs em sala de aula para professores e tem a parceria com o André Diniz no site da Nona Arte. Desenho para mim é uma rotina de quase 16 horas dia.

Qual é e como funciona essa sua parceria com o André Diniz? Lembro de vocês dois juntos em um Fest Comix, ainda quando era realizado na Av. Paulista, divulgando o Nona Arte...

A Nona Arte é uma editora. Uma editora de calibre pequeno para colocar títulos no mercado, mas que acabou tomando um formato inédito, a exibição de como é possível fazer HQ com qualidade e disponibilizá-los gratuitamente. Hoje temos uma preocupação de pensar mais no mercado comercial, seja na prestação de serviço de roteirista ou desenhista ou produzindo HQs por encomenda. Mas o artístico nunca fica de fora. Sempre estamos pensando em novas maneiras de divulgar o Quadrinho Nacional.

Nós nos conhecemos em 1997 na Gibiteca de Curitiba, lugar que era freqüentado por um grande grupo de quadrinhistas curitibanos. Como anda a Gibiteca de Curitiba?

A Gibiteca vai muito bem. Agora em outubro vai se comemorar os 25 anos! (N.do E.: vários eventos em comemoração ao aniversário da Gibiteca de Curitiba foram realizados durante o mês de outubro, enquanto esta entrevista era feita) Uma data a ser respeitada com certeza. O panorama aqui é ainda de amadorismo, sonhos e frustrações. Ta lá a Gibiteca formando um monte de desenhistas (sem um mercado definido), alguns se juntam e publicam heroicamente suas revistas, outros tentam vertentes mais comercias com as suas criações (Marcos Vaz com os seus personagens, é um exemplo) e outros desistem. Só para se ter uma idéia, dos sete desenhistas de HQ que criaram o Gralha, só três estão na ativa, e eu sou um deles.

Como surgiu o Gralha e qual sua participação com o personagem hoje?

Hoje eu toco o blog site do gralha junto com o Tako X. O site é diariamente atualizado com um Quadrinho, assim ao longo das semanas formam histórias inteiras. Pode não ser o melhor formato, mas é o que dá para fazer. Tem vários desenhistas bons colaborando diariamente para isso. O bacana era ter um espaço igual ao que o jornal Gazeta do Povo permitiu e publicar Quadrinhos semanalmente. Isso sim foi uma atitude de respeito aos Quadrinhos de Curitiba. O Gralha nasceu de um devaneio. Um momento bacana de união e camaradagem. “Vamos criar um super-herói para a cidade?” “VAMOS!!” E basicamente isso. O principal a respeito do Gralha foi a possibilidade de mostrar uma nova guinada nessa história toda de criaturas de super-poderes. Eu não gosto de super-heróis. Então quando chegava a minha vez de criar HQs do Gralha, me preocupava em fazer uma história diferente, na maioria das vezes o Gralha ficava no fundo, nem era importante para a história, mas ainda era uma HQ de herói. Foi divertido! Fiz algumas experiências de narrativa em cima de conceitos já criados, em especial tem O início e o fim das coisas que é uma HQ simples e boba, mas a sacada está na hora de “ler” os Quadrinhos, tá lá no site da Nona Arte.

Num país como o nosso, onde os super-heróis são considerados o supra-sumo do Quadrinho é quase um sacrilégio dizer que não se gosta de super-heróis. Por que você não gosta?

Pois é, todo mundo quer desenhar o Batman, ou criar seu super-herói nacional... Eu nunca tive essa vontade... até porque meu traço não tem nada a ver... Aquela Kripta que li quando criança me transformou em um devorador de Quadrinhos diferentes. A maioria de meus amigos curtem super-seres e afins e mesmo assim o dialogo é bem tranqüilo. Mas a verdade crua é que é uma indústria de massa e muito lixo é produzido. Super-herói para mim já basta o Gralha.

Resguardada as devidas proporções, claro, você fazia com o Gralha o que o Eisner fazia com o Spirit?

Sim, com as devidas proporções... o Gralha rende muita coisa, muitas possibilidades gráficas. Atualmente o JJ Marreiro com a sua Mulher-Estupenda é o mais criativo que vejo desta linha despretensiosa de fazer algo de super-herói brazuca. Mas que venham os Sacis cyborgs, a Mula sem cabeça telepata, o Pai de santo hermafrodita, o Pororoca humano, o Açaí mutante, a Maniçoba escaldante, o Vatapá de buracos negros (é uma entidade que nem o Galactus, entende?) e tantos outros.

Essa iniciativa da Gazeta do Povo que você comentou, como foi e por que acabou?

Teve uma mudança de equipe editorial, e em todas as áreas quando se entra um pessoal novo vem com aquela mentalidade de acabar com tudo que já estava estabelecido e começar algo do zero. Eles falaram “O Gralha já deu o que tinha que dar, vamos fazer tirinhas para adolescentes” e por ironia, esse caderno que publicava os Quadrinhos do Gralha acabou um tempo depois (era o caderno FUN, que destinava-se ao publico teen, ou algo parecido).

Como foi a sua experiência, tanto comercial como editorial, com a revista Manticore?

A Manticore foi um divisor de águas. Para mim é o meu melhor trabalho em equipe. É o mais complicado em termos de conceitos e referências e foi a minha escola a respeito de como um revista de HQ não deve ser editada. Teve muita burrada e ingenuidade no processo todo. As pessoas não deveriam bancar editores de revistas pensando em ficar ricos com isso. Não da certo!! Em matéria de vendagens vendeu-se muito pouco. Não cobriu o custo da impressão. Graças a tudo que é santo, o editor teve fôlego e publicou o segundo número, fechando assim a história. A Manticore é até hoje lembrada e comentada. A versão PDF esta lá no site da Nona Arte para quem quiser conhecer.

E hoje o que você faria diferente?

Correria atrás de um editor (editora) com experiência no mercado nacional.

As bancas de jornais e revistas andam um verdadeiro depósito de revistas (e isto não é de hoje!) e a livrarias recebendo cada vez mais lançamentos considerados muito caros pela maioria dos leitores... Para você qual é o futuro do Quadrinho?

Sinceramente não faço menor idéia. Este mercado, cá entre em nós, é o mais esquisito do mundo. Tem uma pilha de coisas em banca e livrarias, as editoras falam em crise, mas tão colocando títulos e mais títulos, ninguém está investido nos quadrinhistas daqui (salvo uma série interminável de republicações de medalhões já consagrados...), os independentes estão dando a cara e publicando suas próprias revistas (e diga-se de passagem fazendo revistas bacanas e dando a cara para bater!) e para os apreciadores tem saído mangás aos montes. Desenhistas e roteiristas estão se decepcionando com essa realidade, alguns desenhistas estão morrendo na miséria (vide o caso Colin), outros com mais sorte conseguem um contato com o exterior... eu nem imagino lugar mais caótico e sem nexo que esse.

Quais são seus planos editoriais no momento?

Estou montando os primeiros rabiscos do novo álbum dos Brichos que será a adaptação para Quadrinhos do segundo longa metragem. Tem uma série de HQs educacionais que andei desenhando que ainda estão no prelo. Tem um álbum de Quadrinhos que estou terminando com o André Diniz que fala de uma assunto bem inusitado (mais novidades mais para frente). Tenho desenhado diversos roteiros de amigos meus e claro desenhado as minhas HQs. Resumindo, desenhando das 6 da manhã às 8 da noite todo santo dia!
 
Obrigado, Antonio, pela entrevista.

Valeu pela oportunidade Eloyr!

O Bigorna.net agradece a Antonio Eder pela entrevista realizada por e-mail e finalizada em 31/10/2007.

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