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Entrevista: Emir Ribeiro
Por Eloyr Pacheco
23/08/2007

Ele é um dos mais conhecidos desenhistas de Histórias em Quadrinhos do Brasil. Criou possivelmente a personagem mais conhecida do meio independente: a Velta (que tem quase 35 anos de criação). Tem muitos outros personagens, mas O Desconhecido Homem de Preto e Nova também são notórios no meio. Não contente apenas em fazer Quadrinhos, inclusive para o exterior, fez Cinema (também independente). Lançou recentemente mais um álbum da Velta: o Nova Identidade Paraibana. Com vocês: Emir Ribeiro, num papo por e-mail que rendeu muito.

Como foi que começou seu interesse por Histórias em Quadrinhos e como foi que você começou a produzir?

Foi muito cedo, pois já aos meus seis anos de idade, minha avó materna (hoje ainda viva, com 90 anos), sempre que me levava com ela às compras, me presenteava com uma revista em Quadrinhos. Fui me viciando nessa forma de leitura, e passei a colecionar. Como minha família tem forte tendência para o desenho, advinda certamente do ancestral e pintor Pedro Américo, foi natural que eu começasse também a tentar desenhar Quadrinhos e criar meus próprios personagens.

E a Velta? Como e quando a Gigante Loura entrou em sua vida?

Velta surgiu em 1973, no auge da censura e da ditadura militar, aparecendo como uma personagem rebelde que usava roupas sumárias, em afronta ao que era estabelecido na época. Outra contraposição foi em relação aos Quadrinhos impostos pelo mercado, vindos dos Estados Unidos, sempre apresentando homens musculosos nos papéis de personagens principais, e sempre relegando a mulher a um segundo plano, apenas como coadjuvante. Velta, portanto, surgiu para se contrapor a tudo isso.

E como foi a sua experiência em publicar para o exterior?

Apesar do bom pagamento, eu diria que foi traumática. Primeiramente, por conta da eterna pressa em aprontar o material. Os editores queriam que se fizesse uma história de 22 a 24 páginas em um mês. Segundo, pela exigência exacerbada de qualidade, chegando a ser até injustificada em alguns casos. E por fim, a quase sempre desrespeitosa maneira como era tratado, pois os sujeitos até pareciam deuses, tal era a arrogância deles. Ademais, o trabalho não me realizava profissionalmente, e o fazia apenas para ganhar dinheiro. Por isso, no ano passado, resolvi parar definitivamente de produzir para as editoras dos EUA, apesar de terem tentado me demover da decisão. Optei por fazer apenas desenhos ou histórias sob encomenda para particulares, pois, a despeito do pagamento mais baixo, não traz aquela carga de estresse que havia com as editoras.

Quais foram seus últimos trabalhos para o exterior?

Sinceramente, não lembro. Talvez tenha sido uma série de cartões originais. Recordo apenas que a história que comecei e desisti após as cinco primeiras páginas foi um personagem chamado - se não me engano - Jaqueta Amarela, e a HQ era no estilo dos anos 40.

Qual o título que mais gostou de fazer para o exterior (se é que houve algum)?

Eu poderia citar a série de cartões da Era de Prata Marvel, pois pude trabalhar nela com muito mais liberdade que nas revistas. Os editores desses cartões até que não eram chatos e não pressionavam muito. Além disso, foi quando fiquei mais conhecido no exterior, pois muitos leitores adquiriram aqueles cartões (e os procuram até hoje, pois ainda recebo encomendas de particulares que querem completar a sua coleção, e para tal, uso um modelo próprio e personalizado que mandei imprimir há uns anos). 

Lembra-se que eu publiquei uma HQ da Velta na revista Metal Pesado*? Foi a primeira vez que ela saiu em cores, não foi?

Lembro, mas vou ter de lhe decepcionar: não foi a primeira história publicada em cores da Velta. A primeira mesmo saiu em 1976, num suplemento de quadrinhos chamado O Pirralho, editado pelo jornal pessoense A União. Mais outras dezenas de histórias publicadas nesse tablóide semanal, também eram em cores. Mesmo com o término da publicação, em 1980, no ano seguinte – 1981 – lancei uma revista independente e totalmente colorida, com Velta e o Homem de Preto juntos.

Não é decepção nenhuma (snif!). (risos) Brincadeiras à parte, isso não me espanta, pois você sempre procurou fazer o melhor com a Velta e seus demais personagens. Você já juntou esse material que comentou em uma única edição? Se não, pretende fazer isso?

Gostaria de fazer isso. Inclusive existe a cobrança de alguns leitores, nesse sentido. Ocorre que a maioria prefere trabalhos novos e inéditos, e acabo optando por contentar a maioria. De qualquer maneira, há necessidade de se preservar esse material que é raro e está quase todo impresso originalmente em papel jornal. Um dia terei de fazer isso.

Como está a aceitação de Velta – Nova Identidade Paraibana?

Inicialmente, muito boa, apesar de estar limitado às vendas pelo correio, que são sempre vagarosas. Inclusive, espero que se repita a freqüência de compras no lançamento oficial na Paraíba, que se dará no dia 06 de agosto de 2007, daqui a dois dias. [obs.: a entrevista estava em andamento antes do lançamento citado por Emir]

Você produziu o álbum de forma totalmente independente? Houve algum patrocínio ou apoio financeiro?

Infelizmente, nenhum apoio. A edição foi toda bancada pelo meu próprio bolso. E não foi por falta de tentativas, pois me inscrevi em todas as leis de incentivo à cultura, assim como bati às portas de órgãos públicos com vistas a patrocinar a edição, e nada consegui. 

A história deste novo álbum é a parte 3, ela começa onde?

Na seqüência de leitura, a série começa na 25 Anos de Velta (1998), continua na 30 Anos de Velta (2003) e deságua nesta edição colorida.

Você não acha que isso pode atrapalhar o acompanhamento da HQ por novos leitores, ou planejou isso para os fãs acompanharem a trajetória da Velta?

Fica difícil contentar todos os leitores, novos ou velhos. Quando fiz aquela edição em formatinho, para a Editora Escala, com histórias curtas e sem continuação, houve quem reclamasse da falta de enfoque na parte pessoal da personagem, e na seqüência dos fatos da sua vida. Quando faço em continuação, mais outro grupo também reclama pela dificuldade em acompanhar a série sem ter lido as edições antigas. Tenho, então, de fazer uma opção, de acordo com a contingência editorial do momento.

O Desconhecido Homem de Preto, outro personagem seu, teve dois filmes produzidos por você; e a Velta, não vai ganhar uma produção cinematográfica?

Nem tenho mais pique para bancar e participar de uma produção em vídeo. Sem falar que andar com uma câmera na rua, mesmo num Estado relativamente calmo como a Paraíba, é sempre um risco. Já recebi sugestões diversas sobre levar a Velta para o vídeo ou TV, mas para tal, seria preciso um equipamento e atores/atrizes profissionais. Atualmente, não valeria a pena fazer um filme na base do amadorismo. E como não tenho acesso a pessoas que trabalham com e para televisão ou produtoras de vídeo, a idéia acaba ficando só no papel (ou na mente... ou no desejo dos fãs da Velta).

E quando veremos novamente as HQs de Nova?

Possivelmente em 2009 ou 2010, pois não há desenhos prontos, mas apenas roteiros escritos. Portanto, pode demorar um pouco.

Valeu, Emir! Obrigado pelo tempo que dedicou para a realização desta entrevista.
 
Eloyr, eu é que agradeço por mais esta oportunidade de falar com os leitores e o público que adora Quadrinhos. Um abraço a você e todos os que acessam o Bigorna, que já se tornou mais um ponto de referência para quem curte nossa forma de arte preferida.

*A HQ da Velta saiu na Metal Pesado #6 de novembro/dezembro de 1997.

O Bigorna.net agradece a Emir Ribeiro pela entrevista realizada no dia 17/08/2007

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