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Resenha: Batman - Cidade Castigada
Por Matheus Moura
19/12/2007

Originalmente publicada na revista mensal Batman, nos números 22 e 23 em meados de 2004, a minissérie, Batman - Cidade Castigada (148 págs., formato 17 x 26 cm, R$ 26,90) agora foi relançada no formato encadernado e em capa dura - o que acaba por dar outra cara à revista e papel de destaque na prateleira de uma banca. Isso apesar de constar no site da Panini distribuição em "livrarias e lojas especializadas".
 
Mais uma vez a tendência dita o mercado, não foi por acaso o relançamento desse material - sendo na zona do 1º eixo em setembro - pois um dos autores estaria no Brasil em outubro, para o FIQ: Eduardo Risso, o conhecido desenhista de 100 Balas, e é justamente seu parceiro nesta série de sucesso que escreve os textos, Brian Azzarello. A dupla mais uma vez mostra que funciona, criando um material de destaque para o Homem-Morcego. No texto, Azzarello consegue prender o leitor do início ao fim, com uma trama muito bem bolada e consistente a respeito de uma mulher encontrada morta e parcialmente devorada. Deste ponto de partida, novos crimes surgem dando motivação a mais na caça ao(s) responsável(eis). Um dos pontos altos são os conflitos de Bruce Wayne, os quais, apesar de já terem sido utilizados à exaustão, são utilizados pelo escritor com uma dinâmica diferenciada, a qual acaba por se tornar uma exemplo claro da narrativa do morcego, como explicita Eithel Lobianco*, em sua dissertação de mestrado, O Sublime Gótico Batman: "O que ocorre, pelo proposto, em relação ao sublime é uma operação mental que nos coloca como o espírito do herói narrador das Histórias em Quadrinhos; ele, o herói, submetido a todos os horrores e dores enquanto nós somos os olhos do corpo invisível que trafega pelos campos imaginados para nos remeter ao terrificante, que nos é sublime apenas porque sofridos na imaginação." (Lobianco, 1998, p. 99)

Outro ponto de destaque na narrativa é quando o morcego vê a maquilagem de uma das personagens se desfazer na chuva o levando a se ver (e questionar), pois também é um mascarado. Isto se encaixa bem no que Lobianco mencionou ao falar das máscaras: "A máscara, que em Batman é tanto instrumento de exibição ostentatória, enfatuação careteante quanto a forma de intimidação com que procede na luta. Mas nesse jogo, diz Lacan, '[...] o ser dá de si mesmo, ou recebe do outro algo que é máscara, duplo, envólucro, pele separada, separada para cobrir a armação de um escudo.' (Lacan, 1979,  p. 104). Batman dá e recebe. Seus arquiinimigos retornam sob a forma também de duplo; estão envolvidos por outras peles que encobrem sob a forma de máscara, fantasias e/ou deformidades (...)". (Lobianco, 1998, p. 109)

Azzarello reforça - como já haviam começado - e coloca a máscara de Batman não somente como uma forma de escudo, mas como a verdadeira face do indivíduo, sendo Bruce Wayne mero alter-ego. A respeito dos traços, Risso mantêm suas formas características, abusando das sombras e dos enquadramentos fora do padrão comics dando um ritmo fluido às imagens com cenas bastante cinematográficas. O trabalho de cores de Patrícia Mulvihill é soberbo, combinando perfeitamente com os desenhos de Risso, que já pedem um clima mais sombrio. Uma das coisas que os leitores podem chegar a pensar é quanto a influência do desenhista - foi um erro meu e erro de muitos achar que há Frank Miller aqui. Eduardo Risso, no FIQ disse beber das mesmas fontes - provavelmente- que Miller, por isso dos traços se assemelharem.

Em um encadernado como este não poderiam faltar os extras - apesar de não satisfazerem. Há uma introdução, escrita por Bob Schreck, galeria de capas (todas elas desenhadas por Dave Johnson) e a biografia de cada um dos envolvidos no projeto. Este é um material excepcional do Morcego, destoando-se bastante das formulas já batidas de se fazer super-heróis. Uma boa pedida aos fãs mais árduos de comics e àqueles que não suportam a temática, já que assim podem rever seus conceitos.
 
*Lobianco, Eithel. O Sublime Gótico Batman. São Paulo: PUC-SP 1998

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