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Por Otacílio d'Assunção 01/06/2010 Ao contrário do que se pensa, a importação dos artistas filipinos pelos EUA não começou quando Carmine Infantino e Joe Orlando foram catar mão de obra no país, no início dos anos 70. Bem antes disso já havia filipinos no mercado americano.
Foi DeZuniga que abriu os olhos dos editores Carmino Infantino e Joe Orlando para o talento de seus conterrâneos. No fim dos anos 60 a DC estava expandindo sua linha de publicações e tinha cada vez mais páginas para preencher. Infantino, ex-desenhista do Flash e Batman era agora o bambambam da DC, e estava preocupado. Alguns desenhistas estavam se bandeando para a Marvel, que começava a disputar com a DC a liderança de mercado. Havia rumores de que os desenhistas estariam se organizando para reivindicar melhores preços e era preciso montar um plano B para uma eventual emergência. Por isso, em 1971 Infantino incumbiu Joe Orlando de viajar para a capital filipina com o objetivo de recrutar novos colaboradores. Num hotel de Manilla Orlando recebia os candidatos indicados por DeZuniga. A proposta era tentadora para os filipinos, porque ganhariam um preço por página quase dez vezes maior do que estavam acostumados a receber em seu país.
Os mestres Nestor Redondo e Alfredo Alcala estavam, obviamente, na primeira leva de contratados pela DC. Diz a lenda que, quando recebeu Alcala no hotel, Orlando ficou impressionado com a qualidade de seu trabalho. Perguntou quantas páginas ele seria capaz de produzir por semana e Alcala respondeu quarenta. Orlando não levou a sério. Disse que nos EUA o nível de qualidade exigido era outro. Puxou de sua mala alguns originais de Neal Adams e Joe Kubert e os mostrou a Alcala, dizendo que ele teria que desenhar tudo naquele padrão e o serviço compreendia tanto o lápis e arte-final como até o letreiramento. Alcala olhou para as amostras e disse que, se ele queria o trabalho naquele nível as coisas mudavam de figura. Nesse caso ele poderia produzir oitenta páginas semanais! Cético, Orlando lhe deu uma cota de quarenta, mas quando os trabalhos começaram a chegar pontualmente todos viram que ele não estava brincando. Por algum tempo suspeitaram que Alcala na verdade comandava uma equipe mas ficou comprovado que era ele mesmo que fazia tudo sozinho. Alcala foi o campeão mundial juntando os quesitos qualidade e quantidade. Superava em rapidez até mesmo o dinâmico Sergio Aragonés, hoje considerado o desenhista mais rápido do mundo. Quando havia alguma emergência para cumprir algum prazo, era Alcala sempre o convocado para quebrar o galho. Além do recorde de páginas, ele batia também o de conseguir trabalhar seguidamente o maior número de horas sem dormir. Dizem que ele era capaz de suportar viradas de mais de três dias. Tabagista inveterado (chegava a fumar até cinco maços por dia), Alcala acabou falecendo de câncer em 2000.
Além dos mestres já citados, dúzias de filipinos foram absorvidos na década de 1970 pelo mercado americano: E. R. Cruz, Ruben Yandoc, Romeo Thangal, Gerry Talaoc,Ernie Chan,Ruddy Nebres,Pablo Marcos, Ruddy Florese (clone perfeito de Joe Kubert!!!). A lista é interminável. Embora mandassem inicialmente o material pelo correio, vários deles acabaram emigrando e fixando residência nos EUA, bem como foram se espalhando por outras editoras além da DC. Não faltava trabalho para desenhistas de talento. Por outro lado, embora com o escrete desfalcado, as Filipinas não se se ressentiram tanto da debandada de seus principais artistas, porque afinal o que esse país asiático mais tinha era gente que soubesse desenhar bem. Mesmo o período áureo do quadrinho filipino (décadas de 1950 e 60) já tendo passado a indústria continuava prosperando. E sem dar muito espaço aos quadrinhos americanos. Embora houvesse edições em tagalo de certos gibis americanos (como os de Disney), o povo preferia consumir o produto local, mais de acordo com a sua cultura. O que fez o mercado de quadrinhos nas Filipinas se retrair não foi a falta de público, mas a política! Quando o ditador Ferdinand Marcos, marido de Imelda (a perua que tinha três mil pares de sapatos), estabeleceu a lei marcial nas Filipinas em 1972, além de fechar o congresso e restringir as liberdades individuais, exigiu que o papel em que os komiks fossem impressos fosse de pior qualidade e restringiu seriamente a liberdade de expressão. Mas mesmo assim não conseguiu acabar com os quadrinhos filipinos, como veremos no capítulo final desta série. Até lá! |
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