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Eu tive um sonho
Por Roberto Guedes
24/03/2006

Foi uma experiência muito estranha, porém, satisfatória. Sonhei que lá estava eu, em frente ao prédio da EBAL, conversando com alguns amigos: o Gérson Fasano e o Paulo Ricardo da lista Marvel Br; enquanto que, do outro lado da rua, o Leo, o Latino e o Bruno (outros chapas da famosa lista de bate-papo) discutiam quem ia ficar com a camisa do Vasco da Gama (?). Sonho tem dessas coisas. Várias informações discrepantes são jogadas em nossa cachola “tudo-ao-mesmo-tempo-agora”; mas que, no momento do ato (o sonho), faz o maior sentido...

Bem, enquanto os rapazes ficavam lá brigando pelo escudo da agremiação luso-brasileira, Gérson, Paulão e eu adentramos, enfim, o prédio, parando por um momento em seu saguão. O Paulão chamou minha atenção (neste instante, o Gérson parece ter simplesmente sumido, e, em seu lugar, estava o indefectível Franco de Rosa – figura bem conhecida de todos nós), para o parquinho que havia no quintal da editora. Aparentemente desmantelado, sofrendo a ação do tempo, com o madeiramento apodrecido e a ferrugem “comendo solta” na estrutura metálica. O Paulão reclinou a cabeça, como se querendo esconder que chorava. Enquanto lhe dava um tapinha nas costas (no estilo mais formal e sem graça de consolo), percebi um menino gorducho, de no máximo 10 anos de idade, vestido com as roupas do Batman (na realidade, a fantasia do ator Adam West), brincando na gangorra e ignorando por completo a decomposição do brinquedo.

Por um átimo de segundo, achei que o menino fosse o Gérson (miraculosamente rejuvenescido) ali, feliz, brincando e rindo como somente as crianças são capazes de fazer. Porém, logo minha atenção foi desviada para outra situação. Agora, nós não estávamos mais no saguão, mas numa sala ampla, ricamente decorada com quadros e pôsteres de personagens em quadrinhos, assinados por autores de peso: Flash Gordon, de Alex Raymond; Príncipe Valente de Hal Foster (este, com dedicatória ao dono daquela sala), e um – pasme – do Homem-Aranha, desenhado por John Romita, mas autografado por Stan Lee (Hey, True Believer!). Foi quando o meu chapa Marcio Baraldi, exagerado e expansivo como só ele consegue ser, bradou: “Guedão, olha quem tá aqui pra te apertar a mão!” – ao virar, me deparei com um senhor de idade sorridente e bem simpático. Na hora, não o reconheci, mas para minha salvação, o Franco, que estava ao seu lado, disse: “Roberto, conheça o Sr. Adolfo Aizen!”.

A partir daí, os eventos começaram a acontecer de forma acelerada. É como se eu estivesse prestes a acordar, mas, mesmo assim, minha mente precisava processar todas aquelas informações que vinham de meu inconsciente, juntando-as, “aglutinando-as” e, por fim, montando todo o “enredo” que era o sonho. Senti meus olhos injetados, e meu coração batendo mais forte (quase dava para ouvir as “marteladas”), enquanto caminhava com aquela lenda (viva, ali no sonho), pelos corredores da EBAL. Os demais amigos também vinham atrás, como uma verdadeira comitiva presidencial. Até mesmo o Gérson, agora devidamente “adultoalizado”. E, enquanto passávamos pelas portas dos vários ambientes, víamos dezenas de funcionários trabalhando. Uma correria danada, entremeada de gritos, risadas e, principalmente, muita alegria.

O Sr. Aizen ia explicando todo o cotidiano da empresa, e como aquelas maravilhosas revistas de Histórias em Quadrinhos eram produzidas. Súbito, um dos funcionários do Sr. Ainzen se aproximou e mostrou, orgulhoso, a mais nova edição da revista Super X (com Hulk e Namor dividindo a capa), que acabava de sair do “forno” (da gráfica). Pasme: era a edição n° 55! Todos deram um sonoro “Oooohh!”, afinal, a editora cancelara a série em 1972, com o n° 54. O Paulo Ricardo gritou: “É minha, tchê! Ninguém tasca!” Todos caíram em estrepitosa gargalhada, e lá foi o Sr. Aizen autografar a capa para o nosso amigo. “Capa muito bonita!" (por sinal uma montagem das artes de Herb Trimpe e Mary Severin) – comentei; e o Sr. Aizen virou-se para mim e disse: “Agora é com vocês! Eu tenho muito o que fazer ali no fim do corredor, virando à direita. Tomem conta direitinho das revistas em quadrinhos! Elas são a maior invenção de todos os tempos!...” E o bom velhinho foi embora.

Puxa, o Stan Lee sempre disse isso, também...” – pensei com meus botões. Ao me virar, outra vez, ainda abalado por tudo que acontecera, vi que estava outra vez no pátio da editora. Desta vez, porém, o playground estava novinho em folha, e adicionado de modernos brinquedos, alguns até, temáticos, como um “trenzinho” que circulava pela Batcaverna e uma espécie de “pula-pula” do Judoka. Súbito, vi-me num corpo de criança, repleto de cabelo e sem a barriga conquistada a duras penas através de anos e anos de “macarronadas da mama”. Lá estava o Gérson, agora travestido de Tarzan, e o Paulo Ricardo com uma pilha de gibis (como Álbum Gigante, Capitão Z, Superman e até mesmo Roy Rogers), “devorando-os” nos degraus da entrada. Leo e Latino não brigavam mais pela camisa do Vasco. Agora, queriam mesmo é me puxar pelo braço e mostrar o “brinquedo” mais incrementado do lugar: A MÁQUINA DO TEMPO DO DR. DESTINO!

Enfim, tudo estava explicado. De alguma maneira, o maquiavélico vilão nos transportou para o passado, para uma época bem triste onde não haviam quadrinhos. Mas por uma providência divina, fomos parar em 1972, pouco antes da Crise Mundial do Petróleo, que afetou a economia global e gerou um aumento abusivo no valor papel. Foi o começo da crise nos quadrinhos ocidentais. Em 1972, Aizen abriu mão de boa parte dos heróis Marvel, sinal claro do prejuízo econômico que estava por vir. Em 1975, parou de vez com a publicação dos mesmos. Daí, eles foram para as mãos da Bloch (mas essa história, fica para outro sonho...). Ao chegar à beira da Plataforma do Tempo, o Gérson me perguntou com sua voz infantilizada: “E aí... voltamos?” – eu me virei para a turma... agora, também, com a presença de outros chapas – como Eloyr Pacheco, o Spider, o Gonçalo Junior, o Reginaldo Borges, o Marcelo Borba, o Worney, o Edgard Guimarães, o Sidney Gusman e até o Valter da extinta Muito-Prazer – e, por alguns segundos fiquei a fitar todos aqueles pequenos e brilhantes olhos... para, em seguida, erguer o braço direito, e com o punho cerrado gritar: “Nem a pau!

Foi quando acordei esbaforido e chorando... e com a exultante sensação de estar ouvindo milhares de crianças gritando eufóricas.

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