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Wood & Stock não tem preço
Por Ruy Jobim Neto
01/08/2006

O Anima Mundi 2006 se foi e foi um sucesso. Como disse um dos quatro diretores, o animador Marcos Magalhães, essa foi a primeira vez em que dois longas de animação brasileiros foram lançados de uma vez só. Isso porque até então, em 14 anos, apenas dois longas tinham sido lançados separadamente. Tendo cerca de oito filmes em diversas fases de produção no último ano, não seria nada impossível que dois aparecessem agora. Um dos dois longas é Brichos, de Paulo Munhoz, que teve apoio das Leis de Incentivo e Audiovisual, de concursos do BNDES e da Petrobrás, e que contou com uma equipe enxuta. Muitos componentes desta mesma equipe fizeram várias vozes. O filme fala de uma cidadela animal, no interior do Brasil, que está ameaçada de perder sua identidade nacional, a não ser que um grupo de garotos (uma oncinha, um tamanduá e um tatu) consiga reverter toda a coisa. O tema do filme é a identidade. E atentem para os detalhes contidos no cenário, são uma diversão à parte.
 
Inventivo e com personagens secundários engraçados, o desenho é quase panfletário (naquele sentido de "eu sou brasileiro, você é estrangeiro, nós somos diferentes"), muito brasilianista, estabelece diálogo com a garotada atual através de situações como a gíria ou o gosto pelo videogame (o que pode incorrer num problema mais adiante, de todo modo), mas possui um tom leve com algumas boas situações, e a platéia reage atenta. Quando se pensa que a platéia não está ligada no filme, irrompem algumas boas risadas. Paulo Munhoz é um vitorioso. O filme fará uma boa figura em colégios, sugere e suscita uma gama de discussões a respeito da questão da identidade. E há ainda uma divertida piada nos créditos finais, daí que o espectador não se dissipe da sala nesse momento.
 
Mas foi o outro longa brasileiro, Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock'n'Roll, que arrebatou não só a platéia da sala 2 do Memorial da América Latina no último sábado (dia 29/07) como também teve um de seus pais, o cartunista Angeli, aplaudido efusivamente, demoradamente, tendo sido ovacionado pelo público presente. E isso antes mesmo do filme começar! O cineasta gaúcho Otto Guerra, diretor do filme, falou sobre os dez anos que levou para Wood & Stock ganhar vida, desde a idéia de fazer o longa, incluindo dois anos de escritura do roteiro e cinco de produção efetiva. O filme é um triunfo. Faz referências a toda uma época, a toda uma cultura, utilizando habilmente todos os principais personagens clássicos de Angeli, sendo que a dupla de velhos hippies, Wood & Stock, são os protagonistas. O ator gaúcho José Victor Castiel (que já trabalhou em novelas globais como Laços de Família) faz a voz do Wood.
 
Rita Lee faz a voz da clássica (e renascida, ainda que trôpega e divertidíssima) Rê Bordosa, enquanto Tom Zé dá voz para um louquíssimo espírito de ninguém menos que Raulzito Seixas. Mas a verdade é que no Rio o longa teve uma recepção tão calorosa como a de São Paulo, sendo um grande empurrão para o boca-a-boca e a curiosidade acerca dele, para quando for lançado. Wood & Stock teve apoio da Fumproarte, a lei de incentivo municipal de Porto Alegre, além de apoio de outras empresas e bancos gaúchos. A Ancine, através das Leis de Incentivo e de Audiovisual, cumpre a chancela oficial da película. 
 
As piadas e referências contidas  tanto no cenário como nos diálogos, chegam ao ápice no meio do filme, quando a banda Chiqueiro Elétrico, que retorna à vida pelos personagens, faz uma divertida menção aos Beatles. É hilariante. A platéia vem abaixo, em aplausos. No mais das contas, a platéia ri o tempo todo com Rê Bordosa, Ralah Rikota, Meia-Oito e Nanico, entre outros. O filme são risadas de ponta-a-ponta. Ah, e existe até uma aparição do Bob Cuspe, ele não poderia faltar. O filme funciona, tem timing perfeito para piadas e em muitos casos várias tiras de Angeli são reconhecidas pelos leitores e fãs. Pode-se dizer, brincando com aquele comercial do famoso cartão de crédito que, não importando quanto custe o ingresso, Wood & Stock não tem preço.
 
The Little MatchGirl: como foi
 
O último filme da Disney no sistema 2D utilizando o software CAPS, A Vendedora de Fósforos (The Little Matchgirl) foi exibido sob aplausos da platéia. Como já dissemos aqui, ele estará no DVD do longa A Pequena Sereia a ser lançado em edição especial ainda este ano, graças às duas histórias terem sido originariamente escritas por Hans Christian Andersen. Como não havia no inicio deste curta dirigido por Roger Allers (de O Rei Leão), o selo da produtora, como de costume, o público sequer reparou que se tratava de um filme da Disney, mas chegou a suspeitar disso devido à qualidade de animação, cores (aquareladas) e timing perfeito. A melancolia de The Little Matchgirl se faz presente na historia da menininha pobre que, no inverno rigoroso de São Petersburgo, tenta vender desesperadamente seus fósforos e assim encontrar algum conforto e felicidade em sua vida.
 
À medida que a garota acende seus fósforos, ela visualiza uma vida diferente daquela que está sofrendo, no frio imenso.O filme não possui diálogos e as imagens que a menininha imagina, através dos fósforos, são de parentes amorosos, comida farta, árvore de Natal e um local que ela possa chamar de "lar". A música do filme, um noturno famosíssimo de Alexander Borodin, faz um lindo, tocante e singelo apoio à trama. Interessante a Disney ter escolhido justo a versão dessa melancólica fábula de Andersen para encerrar a carreira de todo um setor do estúdio, de toda uma era. Digamos assim, simbólico. 
 
John Canemaker: como foi
 
Historiador da Animação Americana, autor de mais de dez livros, ator, produtor, roteirista e animador, o simpático John Canemaker foi um dos convidados para o Papo Animado, nesta edição do Anima Mundi. E ele foi também o vencedor do Oscar de Melhor curta de animação pelo seu belo e contundente The Moon and the Son (de 2005), em que destrincha a turbulenta relação com o seu pai, um imigrante italiano que sempre o colocava pra baixo. A palestra de Canemaker foi recheada com seis trabalhos importantes do autor, além de material em DVD e Power Point, onde eram exibidos storyboards, trechos de roteiros e making-ofs de filmes como O Mundo Segundo Garp, do cineasta George Roy Hill, para o qual o animador produziu trechos traduzíveis apenas sob a forma de desenho. Pra quem não lembra, esse filme marca a estréia, no cinema, de Glenn Close e é estrelado por Robin Williams.
 
Canemaker, para ganhar dinheiro, faz trabalhos para a publicidade e para TVs como a CBS, a ABC e a PBS (esta última, a tevê educativa americana), e arranja tempo para os seus projetos pessoais (como o do Oscar, ou mesmo outros como os criativos Confissões de uma Estrela e Confissões de um Comediante), através de sua produtora. O interessante é que, para Canemaker, boa parte de sua carreira começou quando uma freira, em Nova York, precisava de uma pesquisa nos arquivos dos estúdios Disney. Indo para a Califórnia, o rapaz de então 28 anos se torna historiador – e assim virou especialista em Otto Mesmer (criador do Gato Félix), Disney e no grande Winsor McCay (de The Little Nemo). E entre outras coisas, John Canemaker relata com orgulho o conselho impagável de dois grandes mestres da animação do estúdio Disney, dois dos "Nine Old Men" e também autores de livro Ollie Johnston e Frank Thomas: "na hora de criar uma cena para um storyboard, vasculhe todas as possibilidades de imagem, e escolha a mais forte, a mais bela, a mais contundente".

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