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Morreu Fernando Albagli: a revista Cinemin fica órfã
Por Ruy Jobim Neto
04/09/2006

Fernando Albagli

As notícias se sucedem e, quando vemos, há uma avalanche de informações que passaram por nossos olhos. Na edição do fim-de-semana do Neorama, o jornalista Marko Ajdarić vem lembrar a morte de Fernando Albagli (1939-2006), o editor da lendária revista especializada em cinema da EBAL, a Cinemin, para cujas páginas escrevi entre 1993 e 1995. Não foi muito tempo escrevendo, por certo, mas foi o tempo necessário para saber que o "seu Fernando" (como eu o chamava, ao telefone) era uma figura totalmente devotada à pesquisa e ao apuro da informação sobre a sétima arte.
 
A figura sempre simpática do "seu Fernando" era o coração de Cinemin, com certeza. Naquelas páginas, quanto mais opinião e informação melhor, aprendi rapidinho. E assim eu fiz a minha primeira missão: cobrir a 16ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dos também lendários Leon Cakoff e Renata de Almeida, em 1993. Lá fui eu, com uma carta de apresentação enviada às pressas pelo correio, com a tarimba da EBAL. Na ocasião, assistia a filmes em todos os horários disponíveis, tropeçava nos grandes críticos da Imprensa paulistana o tempo todo (Rubens, Merten, Zanin, todos eles). Entrevistei, no saguão do CineSesc uma das atrizes mais gracinhas da época, a portuguesinha Maria de Medeiros, que trazia o seu primeiro longa (A Morte do Príncipe) e já falava do seu próximo projeto, que seria Capitães de Abril. Boa cineasta, acreditem. Os dois filmes são muito talentosos. Conversei no Maksoud Plaza com o simpático cineasta Juan Pinzás, autor galego de um filme chamado O Jogo das Mensagens Invisíveis, com Maria Barranco, a bela atriz do Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, de Almodóvar. Entrevistei Leon Cakoff, estive na coletiva com o até então desconhecido Quentin Tarantino, falei também com o produtor dos filmes de Saura, e assim por diante. 
 

A 5ª edição de Cinemin, saudosa revista sobre cinema

Aqueles dias foram duros, mas agitados e não menos divertidos. Eu morava fora de São Paulo e havia me hospedado numa pensão obscura na Freguesia do Ó, muito longe dos cinemas onde passavam os filmes da Mostra, nos horários alternativos aos do público. Eu lia os releases que recebia na volta, à noite no ônibus, e em alguma luz que me sobrasse, na tal pensão. E no dia seguinte, no MASP, lá estava eu, de manhã, assistindo a mais filmes. E assim escrevi a matéria. Não havia o e-mail, ainda. Tudo era enviado por fax, de madrugada, para o Rio de Janeiro. Os dias de espera foram angustiantes até que, num telefonema que eu dei para a EBAL, para saber se tudo deu certo, se a matéria chegou direitinho, e o "seu Fernando", lá estava ele, todo contente, dizendo que tinha simplesmente adorado meu texto. Deu quatro páginas da edição de Cinemin, duas com a cobertura, duas com as entrevistas, e repletas de fotos que eu enviava à redação. Aí veio a perguntinha fatal do "seu Fernando", se eu gostaria de cobrir, para a revista, os lançamentos de Cinema e Vídeo em São Paulo (pois a redação mesmo estava toda concentrada no Rio). Não titubeei, tampouco pisquei. Na mesma hora aceitei. A EBAL me enviou uma carta de apresentação do "seu Fernando" para todas as empresas (UIP, Warner, Fox, LK-Tel, Columbia) e dessa forma começaram meus deliciosos dias enxeridos assistindo a filmes, escrevendo e vendo os artigos publicados, recebendo os releases das distribuidoras, telefonando para os assessores de Imprensa, indo às cabines e aos cafés da manhã aqui ou acolá, e até mesmo de pé quebrado. Foram dias inesquecíveis, junto a essa simpatia de pessoa que foi, era e continuará sendo o grande pesquisador Fernando Albagli. Um Oscar para ele.
 
Em tempo: o crítico e editor carioca Fernando Albagli escreveu, entre tantas coisas, Tudo Sobre o Oscar, o melhor compêndio sobre o prêmio da Academia de Hollywood de todos os tempos em Língua Portuguesa. Traduziu junto com o filho, o também crítico de Cinema Benjamim Albagli, um livro sobre James Dean, um livro do roteirista francês Jean-Claude Carrière (A Linguagem Secreta do Cinema),  e claro, juntos encabeçaram para a editora de Aizen, a EBAL, a revista-referência que foi Cinemin.

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