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Fernando Albagli |
As notícias se sucedem e, quando vemos, há uma avalanche de informações que passaram por nossos olhos. Na edição do fim-de-semana do
Neorama, o jornalista
Marko Ajdarić vem lembrar a morte de
Fernando Albagli (1939-2006), o editor da lendária revista especializada em cinema da
EBAL, a
Cinemin, para cujas páginas escrevi entre 1993 e 1995. Não foi muito tempo escrevendo, por certo, mas foi o tempo necessário para saber que o "seu Fernando" (como eu o chamava, ao telefone) era uma figura totalmente devotada à pesquisa e ao apuro da informação sobre a sétima arte.
A figura sempre simpática do "seu Fernando" era o coração de
Cinemin, com certeza. Naquelas páginas, quanto mais opinião e informação melhor, aprendi rapidinho. E assim eu fiz a minha primeira missão: cobrir a
16ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dos também lendários
Leon Cakoff e
Renata de Almeida, em 1993. Lá fui eu, com uma carta de apresentação enviada às pressas pelo correio, com a tarimba da EBAL. Na ocasião, assistia a filmes em todos os horários disponíveis, tropeçava nos grandes críticos da Imprensa paulistana o tempo todo (
Rubens,
Merten,
Zanin, todos eles). Entrevistei, no saguão do CineSesc uma das atrizes mais gracinhas da época, a portuguesinha
Maria de Medeiros, que trazia o seu primeiro longa (
A Morte do Príncipe) e já falava do seu próximo projeto, que seria
Capitães de Abril. Boa cineasta, acreditem. Os dois filmes são muito talentosos. Conversei no Maksoud Plaza com o simpático cineasta
Juan Pinzás, autor galego de um filme chamado
O Jogo das Mensagens Invisíveis, com
Maria Barranco, a bela atriz do
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, de
Almodóvar. Entrevistei Leon Cakoff, estive na coletiva com o até então desconhecido
Quentin Tarantino, falei também com o produtor dos filmes de
Saura, e assim por diante.
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A 5ª edição de Cinemin, saudosa revista sobre cinema |
Aqueles dias foram duros, mas agitados e não menos divertidos. Eu morava fora de São Paulo e havia me hospedado numa pensão obscura na Freguesia do Ó, muito longe dos cinemas onde passavam os filmes da Mostra, nos horários alternativos aos do público. Eu lia os releases que recebia na volta, à noite no ônibus, e em alguma luz que me sobrasse, na tal pensão. E no dia seguinte, no MASP, lá estava eu, de manhã, assistindo a mais filmes. E assim escrevi a matéria. Não havia o e-mail, ainda. Tudo era enviado por fax, de madrugada, para o Rio de Janeiro. Os dias de espera foram angustiantes até que, num telefonema que eu dei para a EBAL, para saber se tudo deu certo, se a matéria chegou direitinho, e o "seu Fernando", lá estava ele, todo contente, dizendo que tinha simplesmente adorado meu texto. Deu quatro páginas da edição de Cinemin, duas com a cobertura, duas com as entrevistas, e repletas de fotos que eu enviava à redação. Aí veio a perguntinha fatal do "seu Fernando", se eu gostaria de cobrir, para a revista, os lançamentos de Cinema e Vídeo em São Paulo (pois a redação mesmo estava toda concentrada no Rio). Não titubeei, tampouco pisquei. Na mesma hora aceitei. A EBAL me enviou uma carta de apresentação do "seu Fernando" para todas as empresas (UIP, Warner, Fox, LK-Tel, Columbia) e dessa forma começaram meus deliciosos dias enxeridos assistindo a filmes, escrevendo e vendo os artigos publicados, recebendo os releases das distribuidoras, telefonando para os assessores de Imprensa, indo às cabines e aos cafés da manhã aqui ou acolá, e até mesmo de pé quebrado. Foram dias inesquecíveis, junto a essa simpatia de pessoa que foi, era e continuará sendo o grande pesquisador Fernando Albagli. Um
Oscar para ele.
Em tempo: o crítico e editor carioca Fernando Albagli escreveu, entre tantas coisas,
Tudo Sobre o Oscar, o melhor compêndio sobre o prêmio da Academia de Hollywood de todos os tempos em Língua Portuguesa. Traduziu junto com o filho, o também crítico de Cinema
Benjamim Albagli, um livro sobre
James Dean, um livro do roteirista francês
Jean-Claude Carrière (
A Linguagem Secreta do Cinema), e claro, juntos encabeçaram para a editora de Aizen, a EBAL, a revista-referência que foi
Cinemin.