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Resenha: Crying Freeman
Por Matheus Moura
18/02/2008

Impulsionado pelo enorme sucesso de Lobo Solitário (Kozure Ookami, no original) no Brasil, em 2007 foram publicadas três obras do roteirista Kazuo Koike, fora seu expoente máximo que chegou ao fim no número 28. Crying Freeman – parceria de Koike com o desenhista Ryoichi Ikegami – é uma dessas obras (as outras são Yuki - Vingança na Neve e Samurai Executor) e não faz muito tempo também teve sua série (de 10 volumes) finalizada no país pela Panini. Como Lobo Solitário, Crying Freeman já havia sido lançado anteriormente no Brasil, porém, com o karma dos mangás nos anos 1990, não chegou nem à metade pela editora Nova Sampa.

Diferente dos outros trabalhos de Koike publicados no ano passado, os quais têm como pano de fundo o Japão medieval, ou ao menos a época de transição – vide YukiCrying Freeman se passa durante o final da década de 1980, período em que a HQ fora escrita. A trama gira em torno de Yo Hinomura, ou, como ficará conhecido mais tarde, o Crying Freeman do título. Yo é um ceramista japonês de sucesso que, em uma exposição em Nova Iorque, descobre algumas fotografias de um assassinato escondidas em uma de suas peças e decide entregá-las à polícia japonesa. Na volta ele sofre um atentado e é seqüestrado pela organização criminosa chinesa Os 108 Dragões, considerada a maior do mundo. Os 108 Dragões então fazem uma espécie de treinamento para controle de mente com Yo, o forçando a se tornar um assassino deles. Assim, Yo, passa a matar quem lhe ordenam e toda vez que termina um serviço chora pela morte de sua vítima, com isso recebe a alcunha de Crying Freeman – algo que, para o contexto da história, seria aquele o qual chora para ser livre.

Após vários trabalhos bem sucedidos, é visto em Yo o potencial em se tornar o novo Dragão da organização - isso equivale a dizer “chefão” - para tanto ele passa por um rigoroso treinamento e, quando terminado, recebe a tatuagem do Dragão que percorre quase todo seu corpo. Outra “habilidade” de Yo é ser praticamente irresistível às mulheres, fator esse de suma importância para alguém em sua posição. Emu Hino é a mulher que se tornará a Tigresa – a parceira do Dragão. Ela vê Yo pela primeira vez matando um sujeito em plena luz do dia no Japão. Sabendo do perigo que corria, pois um assassino profissional não pode deixar uma testemunha viva, ela decide pedir a ele para tirar-lhe a virgindade antes de morrer. Quando o momento chega, Yo concorda com Emu - e como ela, ele ainda era virgem e se apaixona pela moça. Tem início a relação dos dois. No decorrer da série várias outras mulheres passam pela vida de Yo – que depois de tornar-se o líder dos 108 Dragões recebe o nome de Long Tai Yang – então é mostrada a necessidade do poder de conquista do líder da organização.
 
Como várias histórias, Crying Freeman possui altos e baixos, entretanto nada que ofusque a qualidade geral da obra. Muitos podem achar desnecessária a grande quantidade de sexo nas páginas do mangá, mas vale lembrar que no Japão o sexo não possui a conotação pejorativa do ocidente. Ressalva quanto à ausência de órgãos genitais explicitamente representados - no Japão mesmo em Hentais não se desenham pêlos pubianos e pênis; é uma das moralidades nipônicas. Algo estranho – e até um exagero por parte de Koike – foi dar a todos os grandes assassinos tatuagens próprias que simbolizam o caráter destes. Ikegami e seus traços sóbrios e macios dão um toque especial à HQ, o que acaba por embelezar as cenas picantes. Seus enquadramentos também são ótimos, com bastante expressividade. Uma das característica dos mangás é a narrativa gráfica predominar sobre a escrita e isso Ikegami faz com maestria. Outro recurso bastante usado é a metalinguagem por “extrapolação do enquadramento”, a qual se dá quando as imagens ultrapassam as linhas de um quadro e se inserem em um ou mais fora o seu, a lembrar o leitor que este está lendo uma HQ, o tirando da imersão do meio. É interessante perceber também algumas idiossincrasias da época, como a tecnologia, moda e questões políticas.

Se HQ é HQ em qualquer parte do mundo, é normal todo país ter seus expoentes e este é o caso de Koike, juntamente com Tezuka e outros os quais há a injustiça de não serem mencionados aqui. Não dá para menosprezar a obra deste grande autor, mesmo ela não sendo o que há de melhor dele. Vale a conferida, tanto pelo visual quanto pela capacidade de Koike em contar histórias.

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